O crescimento real de 13,84% nas vendas dos supermercados brasileiros em março, perante o mesmo mês do ano passado, garantiu ao setor uma alta real de 10,26% no faturamento do primeiro trimestre - a maior variação para os três primeiros meses do ano desde 2003. Essa expansão pode ser explicada pelo crescente consumo das famílias, mas a Páscoa também afetou a comparação, já que este ano a data foi comemorada em março, e em 2007, em abril.
Assim, os dados de abril deste ano já devem apontar uma retração e diminuir a variação acumulada em 2008. "Mas, se retirada essa sazonalidade (da Páscoa), as vendas continuam indo bem neste mês", diz o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumu Honda, que divulgou os dados do setor ontem.
A projeção da entidade para a alta real nas vendas de 2008 é de 4,5%, mas o dado tende a ser revisto para cima se os próximos meses continuarem aquecidos. "Em junho já será possível refazer os cálculos", afirma Honda. Esse movimento é sustentado não só pelo andamento positivo da economia e da recomposição da massa salarial - especialmente das famílias de renda menor -, mas também pelo aumento de compras de maior valor agregado.
O maior acesso das classes de renda mais baixa às gôndolas pode ser comprovado até mesmo pelas formas usadas para pagar as compras. Levantamento feito pela Nielsen junto a 480 empresas do setor mostra que em 2007, as compras pagas em dinheiro somaram 35% do faturamento do setor. Em 2006 essa fatia havia sido de 28%. A participação do cartão de débito também subiu, mas de forma mais modesta: de 15% para 16,1% no período.
O presidente da Abras ressalta que a evolução das vendas neste ano se dá sobre uma base que já foi bastante alta no ano passado. A associação revisou o resultado das vendas de 2007, de crescimento de 5,92% para 6% em termos reais, com faturamento de R$ 136,3 bilhões. O montante representa 5,2% do Produto Interno Bruto (PIB).
Levantamentos feitos entre 1995 e 2006 mostram que o setor vinha se equilibrando com receitas anuais entre R$ 121 bilhões e R$ 126 bilhões, com um salto destacado em 1998, quando o faturamento alcançou R$ 128 bilhões. Portanto, as vendas reais de 2007 mostram que o setor avançou para um patamar importante, acima dos R$ 130 bilhões.
Ainda assim o lucro líquido médio no ano ficou em 1,7% sobre o faturamento, o que, se não foge à média da década, ainda está abaixo dos 2% alcançados em 2001. "A questão concorrencial não permite lucros maiores. No mercado brasileiro o forte é a venda promocional", explica o dirigente. No Chile, a rentabilidade do setor, que é mais concentrado, gira entre 4% e 4,5%.
A respeito dos preços, Honda acredita que a alta internacional do trigo e do arroz deve chegar à ponta de consumo até maio. Conforme levantamento da entidade, no mês de março houve um queda real de 0,12% no preço da cesta AbrasMercado, que comporta 35 produtos de largo consumo e fechou o mês valendo R$ 232,62.
"A partir de abril e maio os indicadores vão captar a expansão dos preços de trigo e arroz", diz, lembrando dos problemas de importação de trigo com a Argentina e quebra de safra de arroz na Tailândia. O dirigente evitou, entretanto fazer estimativas sobre a proporção que esses aumentos terão sobre a cesta.