O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que “é uma distorção absurda” atribuir o aumento mundial no preço dos alimentos aos programas de biocombustíveis. Ele discursou na cerimônia de formatura dos novos diplomatas brasileiros, no Itamaraty. O evento atraiu atenção das agências de notícias internacionais e Lula não perdeu a chance de dar um recado ao público externo. Cobrou dos países ricos a redução dos subsídios agrícolas.
As cobranças internacionais têm incomodado Lula. “Alguns querem atribuir a crise mundial dos alimentos aos biocombustíveis”, disse. “Essa é no mínimo uma distorção absurda. A experiência brasileira demonstrou que os biocombustíveis, além de não ameaçarem a segurança alimentar gera emprego e renda no campo e ajuda a combater o aquecimento global.”
Lula voltou a dizer que a pressão sobre o preço dos alimentos não vem de perda de área cultivável para os biocombustíveis, mas do aumento mundial no consumo, graças a programas sociais e ao crescimento da economia. “Se mais gente está comendo, deveríamos comemorar”, afirmou. “Nunca pensei que a redução da fome seria usada contra nós”, disse o presidente.
Mais uma vez, ele esforçou-se para virar o eixo da discussão em direção aos países mais desenvolvidos. “Se os países ricos desejam realmente aumentar a oferta de alimentos, por que não eliminam os subsídios que dão à sua agricultura?”, provocou. “Isso estimulará a produção nos países mais pobres que têm mais terras, mais mão-de-obra, e agora, como no caso do Brasil, têm tecnologia avançada.”
Política externa
Discursando aos formandos do Instituto Rio Branco, o presidente reafirmou que a política externa brasileira continuará voltada à ampliação das ligações com a América Latina e África. Ele anunciou a criação de duas universidades internacionais no Brasil. Uma para estudantes da América Latina e outra para alunos da África. “Se a crise imobiliária dos Estados Unidos tivesse pego o Brasil há 15 anos seria muito pior”, disse. “Nossa dependência da economia americana era muito maior.” O presidente disse que “não se trata de esquecer os antigos parceiros. Mas quanto mais amigos nós tivermos, mais os velhos amigos vão lutar para não perder a nossa amizade”.