quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

Momentos



Os tucanos sabem que já tiveram chances bem maiores de derrotar o presidente Lula, embora este também ainda esteja longe de reconquistar a situação de que já desfrutou antes da crise. Uma das diferenças entre eles está no fato de que, para Lula, o pior está passando. Para os tucanos, o mais difícil está apenas começando: a escolha de José Serra ou de Geraldo Alckmin para ser o anti-Lula.

Nada indica que este processo vá ser fácil e que o desfecho virá logo: os critérios não estão oficialmente definidos e nada assegura que o preterido vá aceitar a sagração do outro por um trio de caciques — o ex-presidente Fernando Henrique, o presidente do partido, senador Tasso Jereissati e o governador de Minas, Aécio Neves.

Há muxoxos no partido contra a centralização da escolha nos três cardeais mas qualquer outra solução, como prévias ou escolha em convenção, explicitará um racha partidário que pode ser letal. São muitos os boatos de que o trio já tenha se decidido reservadamente por Alckmin, alegando um suposto potencial de crescimento maior, e que Serra iria disputar o governo de São Paulo. O PFL iria adorar. Herdaria tanto a prefeitura de São Paulo por três anos como o Governo de São Paulo por oito meses. Não é verdade, nenhuma informação sustenta o tal boato e nem as condições estão maduras. Para começar, os três eleitores não dispõem de uma sondagem segura sobre a preferência do partido, embora ela vá representar apenas um dos critérios para a escolha. Terão ainda que ouvir muitas estrelas de segunda grandeza e preparar a assimilação da escolha pelo preterido.

O tempo eleitoral segue um calendário legal, que começa com as desincompatibilizações dos ocupantes de cargos executivos até o final de março, caso queiram ser candidatos. A decisão tucana terá que ser tomada daqui até lá. Tanto Serra como Alckmin terão que deixar seus postos. Já o tempo político começa antes, em momento impreciso, e neste momento ele está favorecendo Lula. Nos próximos dois meses, enquanto os tucanos estiverem lidando com o dilema da delicada escolha, Lula estará aproveitando a brisa pós-crise que já começou: cansadas do escândalo e das CPIs que não produzem mais novidades, as pessoas já estão adotando outros referenciais. Não se esqueceram de Delúbio e Valério, dos saques feitos por políticos e assessores no Banco Rural ou dos dólares na cueca. Mas agora já estariam levando em conta a recuperação das estradas, o aumento do salário-mínimo, a queda no desemprego e o aumento da renda. Isso é que estaria produzindo a recuperação de Lula nas pesquisas.

Enquanto os tucanos se bicam, ele continuará inaugurando obras, ainda que inacabadas, e tocando bumbo sobre o que considera feitos de seu Governo. Campanha fora de hora, dizem os tucanos nas quatro ações que movem contra ele na Justiça. Lula, segundo um auxiliar, a qualquer hora vai dizer que não foi ele que inventou a reeleição nem a possibilidade de concorrer no cargo sem ter que se desincompatibilizar.

O tempo lhe favorece mas pode ser que a oposição ainda lance alguma nova bomba atômica. É o que tem tentado na CPI dos Bingos ao convocar o empresário Roberto Teixeira (compadre de Lula) e quebrar o sigilo de Paulo Okamotto, que conseguiu evitar a medida com recurso ao STF. Ele diz ter pago com recursos próprios adiantamentos a Lula que o PT registrou como empréstimos.

FH subiu o tom contra Lula, falando em “roubalheira”, e Alckmin o imitou. O deputado Delfim Netto, mau como pica-pau, diz que a oposição agora só tem foguete recarregado:

— O Lula é que tem uma bomba mas por ora não deve tocar em estopim: a CPI das privatizações tucanas. O PTB pode não apoiar a recandidatura de Lula mas respondeu negativamente a uma sondagem para entrar na coligação tucano-pefelista à Presidência. Deve ficar solteiro.

Por que parar?

Produziu muito a Câmara nas duas últimas semanas. Nesta, as votações voltaram a empacar. Falta acordo sobre o projeto Bornhausen, que busca o barateamento das campanhas. Teme-se que o TSE derrube medidas que afetem o processo eleitoral, como o encurtamento da duração oficial das campanhas. O outro projeto que está em pauta, o que cria o Simples federal e facilita o registro de pequenas e microempresas, também pode não ser votado esta semana. O relator, deputado Luiz Carlos Hauly, não se cansa de estudar a matéria. Agora pediu mais uma semana para apresentar seu parecer e suas emendas.

O LÍDER DO PFL, Rodrigo Maia, garante que seu partido não vai apresentar qualquer recurso para tentar adiar a votação do pedido de cassação do deputado Roberto Brant. “Diferentemente dos que temem o julgamento do plenário porque sabem o que fizeram, vamos respeitar os ritos e os prazos, confiando na absolvição de Brant pela maioria de deputados que conhece sua conduta e sua história política exemplar”, diz Rodrigo.

POR INICIATIVA do senador Paulo Octávio, o Senado fez ontem sessão solene para lembrar os 50 anos da posse de JK, em 31 de janeiro de 1956. Enquanto é tempo, os congressistas poderiam nos fazer um favor: alterar em pelo menos um dia a posse do presidente a ser eleito este ano, para não estragar o Ano Novo de meio mundo, como acontece desde 1990.

Tereza Cruvinel

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