Médicos ignoram apelo e Rio pede ajuda a Estados. Mortes sobem 42% na capital em três dias
No mesmo dia em que foram confirmadas 44 mortes por dengue só na capital – um crescimento absurdo de 42% em apenas três dias – a escassez de pediatras em hospitais do Rio obrigou as autoridades a tomarem medidas emergenciais para amenizar a crise, que até agora atingiu 32.689 pessoas. O secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, pediu ajuda a outros Estados para completar o quadro de pediatras do Rio. A secretaria quer abrir mais quatro centros de hidratação, mas para isso são necessários 154 profissionais que, segundo Côrtes, estão em falta na cidade. Os médicos, por sua vez, reclamam da baixa remuneração.
Melhorar o salário da categoria não é a grande questão – revela Côrtes, que reconhece o achatamento salarial.
Se para as autoridades a falta de pediatras requer medidas extremas, Fátima Coutinho, presidente da Sociedade de Pediatria do Rio, afirma ter avisado sobre esta possibilidade:
O alerta foi feito há mais de um ano. As péssimas condições de trabalho da profissão no Estado e o baixo salário fazem com que os pediatras desistam da profissão e não incentiva os estudantes.
O custo de contratação dos 154 pediatras vai ser de R$ 616 mil por mês, sem levar em conta a hospedagem e o transporte. Ou seja, o médico que aceitar trabalhar no Rio vai receber R$ 500 por plantão de 12 horas. Atualmente, um médico estadual ganha R$ 1.300 por mês em 24 horas semanais.
Esses médicos vão trabalhar nos quatro novos centros de hidratação que disponibilizarão mais 212 leitos para o tratamento: 116 perto do Hospital Getúlio Vargas, na Penha; 24 no Instituto de Assistência dos Servidores do Rio (Iaserj) da Gávea; 24 no Posto de Atendimento Médico de Del Castilho; e 48 dentro do Hospital Albert Schweitzer, em Realengo. Agora, Côrtes aguarda a reunião de quinta-feira, quando todas as secretarias estarão reunidas no Rio para anunciar quantos médicos aceitaram a convocação.
São feitas novas promessas, mas as antigas, anunciadas no dia 24, no lançamento do gabinete de crise, não foram todas cumpridas. Dos 50 carros fumacês prometidos ao governo estadual pelo ministério, 29 estão atuando. Apenas 349 dos 660 leitos para hidratação foram abertos. Das 660 promessas de contratação, apenas 170 profissionais estão em ação. Os bombeiros trabalham na instalação de tampas de caixas d"água. O tele-dengue 24 horas está funcionando mal. E o cartão-dengue utilizado para marcar o atendimento do paciente já funciona.
Hoje o secretário inaugura 92 leitos pediátricos no Hospital de Anchieta, no Caju. E para cumprir os plantões, 31 pediatras se apresentaram.
A falta de estrutura e do trabalho de prevenção preocupam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, no lançamento das obras do PAC na Baixada Fluminense, afirmou que a dengue é um problema de todos.
Temos de cuidar da dengue antes de ser picado pelo mosquito. Aí tem responsabilidade do presidente, do governador, do prefeito e da população – disse Lula.
