segunda-feira, 11 de setembro de 2006

Intrigas no ninho


Numa campanha aborrecida, os melhores lances estão reservados aos coadjuvantes. Com a carta aberta aos tucanos, FHC vive seu momento Cláudio Lembo. Mostra, como o governador, capacidade ímpar de produzir estragos em casa. As semelhanças, porém, não vão mais longe.

As intervenções de Lembo costumam ser verdadeiros "haicais da inconveniência", estocadas irônicas de graça quase literária, amplificada ainda pelo contraste com sua aparência grave de pastor presbiteriano. A agenda do governador não parece ser política, mas interna.

Não é o caso da carta de FHC. Existe, sim, uma motivação pessoal no ex-presidente: seu texto é também expressão mal-disfarçada do desgosto pelo desamparo em que se encontra. O PT o elegeu como saco de "pancadas comparativas" e ninguém, a começar por Alckmin, move palha para defender seu governo. Se não pode mais ajudar, FHC mostra que ainda pode atrapalhar.

Mas a vaidade ferida não explica tudo. A carta não é sobretudo aquilo que diz ser: uma peça de mobilização política. Falta-lhe ênfase, falta-lhe foco, falta-lhe oportunidade para isso. O tom do texto é inconstante e seu tamanho, muito excessivo.
No que se refere à campanha de Alckmin, parece mais uma carta de desmobilização. Dizer, a três semanas da eleição, que o "mais angustiante" entre os problemas que afligem a população é "o medo do crime e da violência" equivale a sentenciar de morte o ex-governador.

Quando escreve, FHC procura antes de tudo organizar o debate interno do PSDB e compor uma plataforma de atuação para depois das eleições. Seu texto pressupõe -quase exige- o segundo mandato petista. É assim que devem ser entendidas tanto as menções a Lula (para FHC, ainda "passível de crime de responsabilidade") quanto a reprovação ao PSDB por ter cedido ao acordão e feito vista grossa para o caixa dois do tucano Azeredo.
Neste mapa da guerra para 2007 esboçado pelo príncipe, Alckmin não existe e Aécio está na mira.

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