sábado, 25 de setembro de 2010

O candidato


Evitei escrever sobre eleições, mas, às vésperas do pleito, devo fazê-lo, por insistência de amigos, que vivem perguntando em quem vou votar. Bem, não darei a resposta clássica - "o voto é secreto" - porque, mais do que secreto, ele deve ser consciente.

No artigo de hoje eu deveria estar encerrando a série sobre a Rússia, o que farei proximamente, mas, devido à insistência, não vacilarei em falar do pleito.

Emprimeiro lugar, acho importante votar.

No Brasil, mais do que escolher o melhor, o voto é uma forma de exprimirmos o nosso desagrado com o baixo nível da vida pública.

Tal como vem sendo utilizado em nosso País, não chega a ser um instrumento deafirmação democrática, pela falta de independência de grande parte do eleitorado. O pior, porém, é não ter voz, pois sempre vale a pena acreditar que o voto comprado venha a ser alterado na boca da urna, por um lampejo de dignidade política e pessoal do eleitor.

Confesso que ainda não tenho voto para a Presidência, mas, honestamente, devo revelar que não votarei no candidato do PSDB.

Incomoda-me a excessiva vinculação de Serra com as ideias conservadoras do seu partido e sobretudo com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que sempre aparece na mídia como seu tutor, sem que Serra aja para evitar a incômoda parceria.

Dizem que o eleitorado é desmemoriado.

Nem sempre. Afinal, não há como negar que FHC caiu no ostracismo em consequência de deliberada decisão do povo brasileiro. Além da habitual arrogância, que o levou a instituir o garrote brutal contra funcionários e assalariados, podemos citar contra seu governo a grave decisão de instituir a reeleição para prolongar lhe permanência no poder,num país de persistência do voto de cabresto. Imperdoável.

Escândalos como o do projeto Sivam, de controle do espaço área da Amazônia, com denunciada corrupção de influente (e protegida) personalidade ligada ao governo, em fatos obscuros, acabaram em segundo plano, mas não o da compra de votos no Congresso para facilitar a reeleição. E, sobretudo, a grave crise de energia que corroeu o Brasil, com desastrosos efeitos na economia, pela clara incompetência na condução da política energética fundamental para o País.

A tudo isto somemos as privatizações sem critério, transferindo o patrimônio público através de vendas irrisórias, para ceder à globalização.

Não foi à-toa queum jovem político em ascensão, como Aécio Neves,recusou o convite de Serra para disputar a vice-presidência, o que deu lugar aos absurdos nomes de políticos sem experiência ou história então lembrados e que apareceram namídia, para espanto de todos.

Às tontas, pressionado por seus correligionários, o PSDB decidiu-se pelo folclórico e inexpressivo Índio da Costa, logo depois de ter ventilado até o ACM Neto, político regional, sem a menor repercussão no País ou tradição política e administrativa. Era um jogo cego e absurdo. Em suma, Serra, desarvorado, não pensou sequer no exemplo de Tancredo, para convencer-se de que a vice presidência é um cargo que deve ser respeitado.

E olhem que ele é um candidato com mais de sessenta anos de idade.

Bem, tire o leitor suas conclusões. Mas continuarei a não revelar o nome da minha preferência para a Presidência, pelo simples fato de que ainda analiso três deles... Direi apenas que, se morasse em São Paulo, já teria pelo menos um candidato para deputado federal: Protógenes Queiroz. Pela luta brilhante desse ex-delegado da Polícia Federal contra a corrupção, enfrentando o poder econômico, político e jornalístico em meio a todas as perseguições.

Com ele já conversei longamente, e senti que é um jovem resoluto em suas convicções. Um nome de compromisso e renovação.

Não é todo dia que alguém sacrifica cargo e posições em favor da decência e da seriedade na vida pública.

Meu outro candidato disputa o Senado. É uma baiana da melhor tradição do 2 de Julho, voluntariosa, que enfrentou com grande coragem o carlismo em nosso Estado, sendo perseguida, mas sem nunca esmorecer. Competente politicamente, soube colocar os interesses da Bahia e do Brasil em primeiro plano, contra quaisquer ameaças: Lídice da Mata. Ambos exprimem dignidade política.

Em suma, creio que por esses dois combatentes o voto será sempre criterioso, útil e patriótico. E, sobretudo, esperançoso.JC Teixeira Gomes - Jornal A Tarde

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