sábado, 17 de setembro de 2005

TRANSCRITO NA INTEGRA, DE SONINHA.

Todo mundo quer ver sangue; todo mundo adora um escândalo. Dizer que as pessoas ficam indignadas com a crise política é um pouco otimista, infelizmente.

Muitos ficam tão horrorizados com as notícias de Brasília quanto com a baixaria na TV de modo geral. Talvez peçam “mais programação cultural” ao serem entrevistados por um pesquisador, enquanto dão ibope para os piores lixos – para se “indignarem”, talvez, ou apenas para se divertir.

De modo semelhante, quem sai por aí dizendo “eu sabia, político nenhum presta, são todos uns salafrários e a gente é quem paga o salário deles” tem grandes chances de ser quem vota nos piores. Nos que prometem absurdos, se envolvem em um rolo mal explicado atrás do outro ou são orgulhosamente “espertos” na administração de seus negócios e mandatos. Talvez os mais revoltados sejam os que mais aplaudem o Roberto Jefferson – o que “rouba, mas fala”, como a Folha teme que ele venha a ser conhecido.

A crise deflagrada nas últimas semanas atinge o fígado do PT e do governo do PT. Mas joga sombras sobre vários outros partidos; é impressionante como não se anuncia “o fim” deles (PTB, PL, PP...). Por quê? Por que há muito tempo não se pode apontá-los como instituições para valer, com um programa, princípios, ideologia e base popular? O fato de não serem tidos como “partidos de verdade” (em vez de aglomerados disformes, agrupados em torno de três ou quatro caciques) os exime de maiores cobranças?

Não acho que dizer “todo mundo faz” possa ser usado como argumento para justificar práticas escusas. Mas não posso aceitar a cara de espanto de quem quer nos fazer crer que nunca usou expediente parecido, idêntico ou pior. De quem quer nos convencer de que nunca imaginou que parlamentares pudessem pedir ou aceitar dinheiro para decidir votar contra ou a favor do governo, ou que houvesse um caixa dois em campanhas eleitorais.

O PT, inegavelmente, deu motivos para ser levado ao cadafalso. Mas em nenhum outro caso os erros de um integrante do partido – prefeito, governador, deputado, senador, “dono” – levaram ao questionamento do partido todo. Não vi comentários sobre “o ocaso do PFL” quando ACM renunciou ao mandato depois de ter fraudado uma votação no Senado... Como o PT defende a ética, deve deixar de existir quando integrantes da legenda agem de maneira desonesta? Não! Que tal exigir a famosa coerência e a aplicação de mecanismos rigorosos de punição para quem descumpriu o estatuto do partido (e a lei!)? Se, ao fim do processo, nada for feito nesse sentido, aí, sim, se pode dizer “o PT não cumpre o que diz”.

Anunciar, pedir ou comemorar o fim do PT é um absurdo. Partidos, empresas, ONGs, igrejas, movimentos sociais, todos estão sujeitos aos erros e delírios humanos. Decretar a inviabilidade de uma instituição por causa das faltas dos seus membros é incorreto e injusto. Nessa linha de raciocínio que repilo (ops), é fácil anunciar o fim dos partidos políticos, da esquerda, do Parlamento, da democracia, da raça humana... Dizer: “Não deu certo, extingue”. Calma lá! Vamos continuar tentando fazer funcionar, seguindo o caminho difícil das regras, do debate, sabendo que sempre vai haver quem prefira o jeito mais fácil de resolver as coisas – na base do dinheiro, da chantagem ou da porrada.

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