terça-feira, 6 de abril de 2010

Homem do escândalo da parabólica de Ricupero será o conselheiro de Marina

Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura; o que é ruim, esconde, disse Ricupero, em referência aos índices de inflação

Ministro da Fazenda do governo Itamar Franco em 1994,  Rubens Ricupero será um dos conselheiros da senadora Marina Silva (PV-AC) para a elaboração de seu programa de governo, segundo o PV. Ontem, a pré-candidata do PV à Presidência afirmou que, caso eleita, manterá os fundamentos da política macroeconômica dos governos Fernando Henrique e Lula (superávit primário, metas de inflação e câmbio flutuante), mas disse querer se diferenciar do PT e do PSDB pela “qualificação” do desenvolvimento.

Segundo a assessoria da précandidata, assim como o economista Eduardo Gianetti da Fonseca, o ex-ministro Ricupero fará parte da equipe como colaborador.

O biólogo e ex-secretário do Ministério do Meio Ambiente na gestão de Marina, João Paulo Capobianco, é o coordenador do programa de governo.

Ricupero teve de renunciar ao cargo de ministro da Fazenda de Itamar, em 1994, pelo episódio que ficou conhecido como escândalo da parabólica. Em entrevista à TV Globo, numa conversa informal antes do início da gravação sobre o Real, declarou que “o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”. O sinal do link via satélite que transmitiria a entrevista estava aberto, e quem tinha antena parabólica captou a conversa. O ex-ministro não foi localizado ontem pelo Globo.

A política econômica deve ser mantida, reorientando o processo.

É preciso que os juros possam diminuir para que se tenham os investimentos— disse Marina, comparando os pré-candidatos José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT). — Os dois têm uma visão parecida, que é desenvolvimentista. Prefiro qualificar o que é esse crescimento, que não se transforma em melhoria na vida das pessoas em todos os aspectos.

Essa “reorientação do processo”, segundo o coordenador da campanha do PV, Alfredo Sirkis, ficaria focada em uma nova política tributária e na mudança de critérios dos investimentos. Para o PV, é preciso estimular a economia de baixo carbono.

 Queremos manter os fundamentos macroeconômicos.

O que vai passar por uma transformação é o direcionamento dos investimentos públicos e o sistema tributário, que segue uma orientação burra no Brasil — disse Sirkis.

Em encontro do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, Marina criticou o PAC: — O desafio está em preparar a infraestrutura para o desenvolvimento sustentável.

Sirkis explicou as críticas: — Não faríamos muitas obras do PAC, como a BR-319. São obras sem sustentabilidade. Faríamos a hidrelétrica de Belo Monte, mas redimensionada. O problema da Belo Monte é de escala, foi superdimensionada.

Ontem, depois do evento no ABC Paulista, Marina escreveu em sua página no Twitter: “Na época das caravanas do presidente Lula, ajudei a iniciá-lo na mata. Hoje, sou eu que faço a iniciação no ABC onde ele começou”.

Minutos antes, Marina escreveu que estava comovida com a foto de outro petista: “Me emocionei hoje ao chegar ao Consórcio Intermunicipal Grande ABC e ver a foto do prefeito Celso Daniel, assassinado em 2002”. Daniel foi, segundo ela, idealizador do consórcio.

Relembre o caso Recupero

Na noite de 1 de setembro de 1994, no apogeu da primeira disputa presidencial entre Luís Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, enquanto esperava para ser entrevistado no estúdio da TV Globo para o Jornal Nacional, o então ministro da Fazenda, Rubens Ricúpero, confidenciou ao jornalista Carlos Monforte que vinha aproveitando do cargo para promover ativamente a candidatura de Fernando Henrique.

Durante vários minutos, certos de que os microfones estavam desligados, conversavam animadamente sobre as manobras de Ricupero para promover Fernando Henrique. "Eu não tenho escrúpulos, o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde", disse Ricupero, em referência aos índices de inflação. E acusou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de ser "um covil do PT".

Sem que os dois soubessem, no entanto, a conversa estava sendo transmitida via satélite e foi captada por antenas parabólicas em várias regiões do país. Foi gravada por vários espectadores, que, escandalizados, enviaram fitas gravadas aos jornais, provocando uma comoção nacional. O episódio foi identificado como um abuso da máquina administrativa para favorecer um candidato e levou à demissão do ministro Ricupero, e sua humilhação pela imprensa.

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