sexta-feira, 14 de julho de 2006

Antropóloga vê arrogância de autoridades de SP


A antropóloga Alba Zaluar, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), uma das maiores especialistas do Brasil em questões de violência, diz que o problema que ocorre em São Paulo é decorrente "da arrogância e do despreparo" das autoridades. "A crise toda é um problema nacional. A crise penitenciária, o crime organizado e o tráfico de drogas são problemas nacionais. Então, por que São Paulo? No meu entender é porque as autoridades sempre negaram a existência do crime organizado e não se prepararam para enfrentá-lo", afirmou.

Ela citou como exemplo de despreparo, e até de "ingenuidade" o fato de a Secretaria de Segurança deixar que entrem celulares nos presídios como estratégia para obter informações sem prever que os criminosos poderiam estar usando os telefones para passar pistas falsas. "Será que eles não vêem seriados americanos?", perguntou.

"Eu sempre soube que em São Paulo o crime organizado é mais organizado do que no resto do país", disse a antropóloga. Segundo ela, os seriados americanos também dão a pista para que se possa chegar facilmente a essa conclusão: "Siga o dinheiro, é a lição que vem das telas". Ou seja, onde há mais riqueza, a capacidade de organização dos criminosos também seria maior.

Para que o combate à violência tenha sucesso será preciso, antes de mais nada, humildade, segundo Zaluar. "Eles vão ter que descer do pedestal, parar de achar que em São Paulo tudo é maravilhoso e enfrentar a realidade."

Enfrentar a realidade, no seu modo de ver, significa não apenas aceitar a ajuda que está sendo oferecida pelo governo federal (envio de tropas da Força Nacional de Segurança) como também buscar cooperação em outros Estados. Para a antropóloga, as polícias do Rio de Janeiro e do Espírito Santo têm hoje muito a oferecer a São Paulo em termos de tecnologia de combate ao crime.

Descontadas as peculiaridades de cada Estado, Zaluar entende que a Polícia Militar no país não foi preparada para atuar em um ambiente democrático, ou seja, só sabe agir com o uso da violência. "Elas nem mesmo cuidam dos próprios arsenais. Onde os bandidos conseguem tantas armas?"

Para a antropóloga, a segurança pública é hoje, de longe, o pior serviço prestado pelo Estado no Brasil, mas isenta os policiais de responsabilidade. "Eles estão sofrendo, como mostra a alta taxa de suicídio", ressalva, e propõe um sério esforço nacional para combater a criminalidade: "Temos de cuidar disso com toda a humildade a que os erros nos obrigam. A arrogância leva à cegueira. Ou enfrentamos o problema como uma nação que somos ou vamos deixar que o crime organizado tome conta".

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