sexta-feira, 14 de julho de 2006

Um presídio com suíte de luxo


Suíte de luxo com direito à luz neon, toda em cerâmica, equipada com aparelho de televisão de tela plana e home theater. Além disso, acesso à TV por assinatura e chuveirões para se refrescar do calor. O cenário descrito não integra um pacote turístico em uma praia paradisíaca. Pode ser encontrado entre os quatro muros da penitenciária Aníbal Bruno, o maior presídio do Brasil e o segundo da América Latina. A revelação de regalias na penitenciária mais superlotada de Pernambucano levou à demissão do diretor da unidade, o tenente-coronel Evandro Carvalho, afastado ontem do cargo depois que as fotos das “celas” foram reveladas pelo Diário de Pernambuco. A Secretaria de Defesa Social também abriu investigação para apurar o caso e o promotor Marco Aurélio Farias da Silva anunciou que irá pedir o fim dos privilégios dos detentos.

Enquanto alguns internos desfrutam de regalias, outros têm que dividir com 60 pessoas as celas projetadas para seis presos. Nestes casos, 10 dormem no banheiro. As distorções do Aníbal Bruno estão sendo apuradas pelo Ministério Público de Pernambuco. Entre o rol de privilégios repassados pelo Sindicado dos Agentes Penitenciários ao promotor de Execuções Penais Marco Aurélio de Faria, acrescenta-se ainda celas equipadas com cozinhas, mercadinhos, plantações de maconha e alguns serviços diferenciados, como entrega de pizza. A cozinha não deixa nada a desejar a de qualquer casa de família de classe média. “Vamos fazer uma inspeção no presídio para averiguar as denúncias e estamos esperando que a Secretaria (de Defesa Social) justifique o que vem acontecendo lá”, afirmou o promotor.

Segundo o sindicato, muitas celas contam com camas de casal para os pernoites e até uma piscina estaria sendo projetada para funcionar nas proximidades do campo de futebol. O “sistema de casta” dentro do presídio abrange 50 celas, que chegam a ser vendidas por até R$ 3 mil, segundo a entidade. “Esta não é a primeira denúncia que nós recebemos nesse sentido. Já seencontra na Justiça um processo onde foram denunciadas as cobranças de aluguel, contas de água e de energia nos presídios”, completou o promotor.

Ponto de droga
Nas celas adaptadas é possível encontrar banheiros com azulejos, espelho e pia. O espaço mais moderno é ocupado pelo alemão Michael Bosch, preso desde 1994 sob a acusação de homicídio e tráfico de drogas. Nela existe luz neon e TV de tela plana.

Em outra cela sofisticada está Sérgio Camargo, preso sob acusação de latrocínio (assalto seguido de morte). As regalias garantidas aos internos do Aníbal Bruno não estão restritas às celas. Por alguns reais, os internos estão conectados ao mundo pela TV por assinatura. O Aníbal Bruno é uma das 17 unidades prisionais de Pernambuco. Com capacidade para 1.448 presos, a penitenciária abriga atualmente 4 mil detentos.

Além de abrigar privilégios, o presídio também estaria funcionando um ponto de venda de drogas. Um preso está sendo apontado pela polícia como o controlador do tráfico nas praias do litoral sul, principal destino turístico do estado. Com a ajuda de um telefone celular, ele negociava a venda de maconha e crack.

A ligação desse interno com uma quadrilha em atuação no estado aconteceu a partir da prisão de três homens pela polícia. A droga também era comprada no próprio presídio. “Eles encomendam a droga por celular e recebem o produto na prisão durante os dias de visita”, garantiu o delegado Alberes Félix. O nome do interno está sendo mantido em sigilo pela polícia, que ainda espera detalhar, em novas investigações, a atuação do grupo.

Privilégios são mantidos

Numa rápida vistoria na tarde de ontem ao Presídio Aníbal Bruno, o promotor de Execuções Penais, Marco Aurélio de Farias, e o juiz substituto da Vara de Execuções Penais, Humberto Inojosa, comprovaram as irregularidades denunciadas pelo Sindicato dos Agentes Penitenciários. O magistrado culpou o governo. “É um problema do sistema que não tem condições para manter os detentos dignamente na prisão”, resumiu.

Segundo o magistrado, não existe nenhuma autorização para a entrada dos equipamentos na prisão. Apesar de o secretário de Defesa Social, Rodney Miranda, ter determinado, pela manhã, a retirada da TV tela plana, do DVD, do som e da TV a cabo do presídio, à tarde os aparelhos ainda permaneciam na unidade. Para o juiz, o grande problema do Aníbal Bruno é a superlotação. Durante a inspeção, o juiz observou que os pavilhões são trancados pelos próprios presos, conhecidos como “chaveiros”. “É um absurdo, mas isso acontece porque não há funcionários públicos suficientes.”

1 Comentários:

  • sexta-feira, 10 agosto, 2007
    Anônimo Disse:

    a verdadeira justiça depende de deus,a dos homens depende do dinheiro.

    delete

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