quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Privatização em xeque

Integrante do Conselho Administrativo da Infraero, Aírton Soares se opõe à proposta de entregar aeroportos para as mãos da iniciativa privada, idéia cogitada pelo novo presidente da estatal

A primeira reunião do conselho de administração da Infraero, a estatal que administra os aeroportos, sob a coordenação do novo presidente da empresa, Sérgio Gaudenzi, terá uma pauta polêmica. O conselheiro Aírton Soares diz que vai propor uma severa revisão administrativa na estatal em nome da eficiência, a adoção da chamada gestão corporativa e a abertura do capital da estatal, mas sem cogitar a privatização de aeroportos. A reunião será realizada amanhã e vai servir para a aprovação dos novos diretores da empresa, indicados em conjunto por Gaudenzi e pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim. Mas ao contrário de Jobim e Gaudenzi, Soares considera estapafúrdia a idéia de privatizar aeroportos. “Privatizar aeroporto, não. Vou propor a abertura do capital sem privatização, com o governo mantendo os 51% e controle, como é com a Petrobras e o Banco do Brasil”, sugere.

As privatizações dos aeroportos não agradam a Aírton Soares. Segundo o ex-deputado federal, o governo fez investimentos elevados no setor e não seria justo entregar a infra-estrutura pronta para a iniciativa privada explorar. “Fazer como fez o Fernando Henrique Cardoso não dá. Privatizar a partir de agora com a iniciativa privada construindo os aeroportos para depois operar, tudo bem. Mas entregar tudo depois de pronto sou contra”, argumenta.

O conselho é composto por cinco nomes indicados pelo governo. Soares representa o Ministério do planejamento. Ele estranhou que, na defesa da privatização dos aeroportos deficitários, as autoridades não falaram dos problemas existentes. “Vi uma entrevista do presidente da Infraero (Gaudenzi) lembrando as alternativas dos aeroportos deficitários. Ele não cita o Aeroporto de Maceió entre os deficitários. O governo investiu uma fábula no Aeroporto de Guararapes, em Recife, e depois autorizou os vôos charters para Maceió. Qual a distância entre os dois aeroportos? Onde é que no mundo se faria um outro aeroporto internacional a pouco mais de 200km de distância?”

Gestão
Ex-integrante da primeira bancada federal do PT na Câmara, ainda no início da década de 80, Aírton Soares foi expulso do partido por defender a participação da sigla no colégio eleitoral e o voto em Tancredo Neves, na primeira eleição indireta para a Presidência após a ditadura militar. Hoje, dedica-se à advocacia. Ele considera que a Infraero tem graves problemas de gestão que não justificam a privatização. “É só botar gente competente para administrar, evitar corrupção e o filhotismo político”, aponta.

O conselheiro estranhou as críticas que o ex-presidente da Infraero brigadeiro José Carlos Pereira fez à companhia. “Ele saiu atirando dizendo que a pista de Guarulhos estava sem condições de receber os aviões. O sujeito era diretor de operações e depois virou presidente. Nos dois cargos passou mais de três anos na empresa e agora ele vem dizer quem é o responsável por isto?”, questiona. “Por que ele não propôs isso quando era diretor ou não fez a obra quando era presidente?”

Eficiência questionada

Conselheiro da Infraero, Aírton Soares coleciona péssimas impressões da estatal, cuja diretoria, encabeçada por Sérgio Gaudenzi, deve ser parcialmente trocada. “O Ministério da Defesa aprovou tempos atrás um modelo de Parceria Público-Privada (PPP) para a Infraero. Nós aprovamos esse modelo para a construção do terminal de carga em Porto Alegre (RS). A diretoria se incumbiu de fazer o projeto e orçaram a construção do terminal em R$ 70 milhões. Aí eu perguntei aos diretores se o custo não era muito elevado, já que a área era menor que o terminal de carga de Manaus que tinha custado R$ 28 milhões. Seria o projeto experimental PPPs. Até hoje estamos esperando a apresentação do projeto”, relata.

Sobre a obra emergencial no Aeroporto de Congonhas, questiona: “Por que tem que fazer uma obra emergencial em Congonhas? A emergência significa que alguém deixou de cumprir a obrigação na hora certa. E para fazer a obra de emergência tem que fazer sindicância para saber quem da diretoria deixou de cumprir suas obrigações na diretoria. Cadê a sindicância que justificou a emergência de Congonhas? Está lá e o diretor da Infraero sentou em cima e não sai nada”.

O conselheiro ainda relembra decisões contraditórias da estatal. “Fizemos um investimento no Rio de Janeiro porque, supostamente, havia uma demanda concentrada muito grande. Só que ninguém disse que a 20 minutos do Santos Dumont havia o Galeão operando com metade da sua capacidade. Deixamos de investir no Galeão para fazer uma obra gigantesca no Santos Dumont”, comenta. Ele se diz ressabiado com propostas para a construção de terminais e novos prédios da companhia. “Uma vez a diretoria queria fazer a sede da empresa em Brasília a um custo de R$ 85 milhões através das PPPs. Quando eles exibiram isso no conselho, considerei um absurdo. Depois disso, nunca mais falaram no assunto”.

1 Comentários:

  • quinta-feira, 16 agosto, 2007
    Glauco Disse:

    Nós, do blog Futebol, Política e Cachaça (http://futepoca.blogspot.com) lançamos a campanha "Um minuto de barulho pelo Brasil". Se o nosso país passou a maior parte de sua história sob o jugo não-democrático, calado, acabrunhado, tímido e agora, que vivemos em plena democracia, vamos ficar quietinhos? Não, vamos fazer barulho. Para não confrontar diretamente o minuto de silêncio proposto pelo "Cansei", o protesto do blog começa à 1 hora e 1 minuto, depois da manifestação silenciosa. Contamos com sua ajuda.

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