Agripino Maia: presidente do PSDB considerou intervenção inadequada
A bola levantada pelo líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), à ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), em audiência na Comissão de Infra-Estrutura da Casa, na quarta-feira, trazendo à tona o fato de ela ter sido vítima de torturas durante o regime militar, aprofundou divergências do PSDB com o DEM. Agripino disse ontem da tribuna ter sido "mal interpretado", mas o estrago foi feito. Sua intervenção pegou mal, causou constrangimento à oposição e favoreceu o desempenho de Dilma.
Ela respondeu que tinha 19 anos, ficou presa por três, foi "barbaramente torturada" e tem orgulho de ter mentido, salvando companheiros da morte. Para lideranças tucanas, além de transformar a ministra em vítima, Agripino reforçou o papel da petista na luta contra o regime militar e permitiu que criasse, no discurso emocionado, várias frases de efeito para campanha eleitoral. Em consequência, deixou a atual oposição numa posição desconfortável.
Senadores do DEM reconhecem ter dado aval ao líder para que a pergunta fosse feita a Dilma. Mas, na audiência pública, apenas Demóstenes Torres (GO) tentou explicar a intenção de Agripino, que seria diferenciar o momento atual, de democracia, com o regime de exceção. Não adiantou. Incomodadas, lideranças tucanas avaliavam ontem que o PSDB precisa se distanciar politicamente do DEM, mantendo apenas uma "aliança administrativa" com seu principal parceiro de oposição.
Críticas foram feitas abertamente. "O que se deu foi uma interferência não adequada, no primeiro momento da reunião, do líder do DEM, que estava equivocado", afirmou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). Para o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), foi "um momento infeliz" de Agripino. Para ele, Dilma se aproveitou do episódio para evitar esclarecer o caso do dossiê. Virgílio defendeu a aprovação de novo requerimento convocando novamente a ministra, que, na sua opinião, "sabe quem fez o dossiê e pode até ter mandado fazer".
O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), um dissidente do seu partido que atua em oposição ao governo Lula, classificou a intervenção de Agripino como "infelicidade" e a sua pergunta, como "inadequada e inoportuna". Ele disse que falta "organicidade" à oposição. Mas também criticou Dilma. "A ministra faltou com a verdade. Ela não saiu incólume. O PAC é eleitoreiro e a Justiça Eleitoral do país não fez coisa alguma até o presente momento", afirmou Jarbas.
Lula, no encerramento de discurso no lançamento do Plano Amazônia Sustentável (PAS), no Palácio do Planalto, elogiou o desempenho da ministra. "Aliás, quero lhe parabenizar, Dilma, pela sua participação ontem no Senado. Certamente, você foi motivo de orgulho para quem, junto com você, participa do governo, e para o povo brasileiro", afirmou o presidente. Para ele, o Senado teve um comportamento democrático.
"As pessoas fizeram as perguntas que tinham que fazer, mas eu acho que as pessoas foram civilizadas ao perguntar e no debate. Muitas vezes, quem está assistindo não gosta. Mas o que é a democracia senão esse exercício constante, diário, de debates, de discussões? E eu quero dizer aqui, na sua frente, que eu fiquei bem impressionado com o grau democrático que o Senado teve, ontem (anteontem), com você. Se todos forem tratados assim, que tenha mais debates, porque eu acho que será bom para a sociedade brasileira."
Em entrevista, o presidente disse que "Agripino fez o que não deveria fazer. Mas , de qualquer forma, um homem com a experiência política dele achou que, certamente, iria abafar, iria colocar a Dilma em uma situação delicada, ou seja, no fundo, no fundo, eu acho que ele é que ficou em uma situação delicada". Para Lula, a oposição continuará perguntando sobre o dossiê e o governo, "fazendo o nosso cadastramento, o nosso banco de dados, porque nós temos obrigação de fazer isso".
Agripino respondeu ao presidente: "Eu não participei da reunião para tentar obter nenhum brilho especial nem abafar. A minha presença na reunião teve o objetivo claro de ter respostas para o que o Brasil quer saber: quem fez o dossiê, com que objetivo foi feito e se havia alguma intenção política", afirmou.
Integrantes da Executiva Nacional do DEM, reunidos ontem, chegaram a levantar a hipótese de vazamento da pergunta preparada por Agripino, diante da segurança de Dilma ao responder. A líder do PT, Ideli Salvatti (SC), comentou ontem que a oposição "deu a Dilma 10 horas de palanque". Para o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), o depoimento da ministra foi satisfatório e a Comissão Mista Parlamentar de Inquérito dos cartões corporativos deveria ser concluída.