As últimas negociações entre bancos brasileiros tiveram preços que variaram entre duas a três vezes o valor do patrimônio líquido (PL). O PL da Nossa Caixa encerrou o primeiro trimestre do ano em R$ 2,867 bilhões. Como o governo do Estado de São Paulo detém 71% das ações, a venda para o Banco do Brasil poderia variar entre R$ 4 bilhões e R$ 6 bilhões.
Segundo Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating, baseado nas últimas negociações tem-se uma métrica de valorização dos bancos brasileiros. "Tudo o que se negocia está entre 2,5 e três vezes o valor patrimonial".
Hoje, a Nossa Caixa é negociada em bolsa por valor equivalente a uma vez o valor patrimonial, R$ 2,954 bilhões. Em relatório, o banco Goldman Sachs afirma que o preço corrente de mercado reflete de forma acurada o valor da companhia.
O banco pondera, no entanto, que a Nossa Caixa vale mais para o BB do que o valor de mercado. "A fusão poderia criar significativas sinergias em receita e custos e poderia dar ao BB forte presença em um Estado chave (São Paulo)", diz o texto.
Além da presença fortalecida em São Paulo, Rodrigues destaca que há interesse nos mais de 800 mil funcionários públicos da carteira da Nossa Caixa e nos depósitos judiciais, que somam R$ 14,9 bilhões. "Essa é uma captação barata e com custo estável".
Para o chefe de análise de um banco estrangeiro, a notícia é positiva para os dois bancos. A dúvida, segundo ele, é por que a Nossa Caixa será incorporada pelo BB em vez de ir a leilão, exatamente como ocorreu com o Banespa. "Se fosse um leilão, o banco poderia ser vendido por um preço maior, o que significaria mais dinheiro no bolso dos acionistas", diz o executivo. Para ele, a explicação é puramente política: com a mão direita o governo federal emperra o leilão de privatização da Cesp e com a esquerda engorda o cofre de São Paulo, incorporando a Nossa Caixa.
Se a transação for concretizada pelo valor econômico, a Nossa Caixa tende a ter a sua franquia valorizada, pois será integrada a um banco mais competitivo, diz o chefe de análise da Bradesco Corretora, Carlos Firetti. Para o governo do Estado de São Paulo, o negócio pode representar um atalho à venda do controle da instituição via mercado, como já cogitado, num período menos favorável, o pré-eleitoral.
André Segadilha, chefe de análise da Prosper Corretora, acha uma ótima notícia para a Nossa Caixa, que vinha tentando recuperar o preço das suas ações e especialmente melhorar sua eficiência, e o BB pode dar uma grande ajuda. Para o BB, também é bom, pois traz mais agências em um nicho de crédito no maior Estado do país.
O processo não deve prejudicar Bradesco e Itaú, completa Segadilha. Segundo ele, vai haver um aumento da competição em São Paulo, mas isso será bom, pois deve incentivar os outros bancos a crescer. Ele afirma ainda que não se pode dizer que o processo de consolidação do setor bancário acabou. Há quatro anos, Bradesco, Itaú e Santander fizerem movimentos comprando instituições para se consolidar. Já o BB demorou para tomar uma atitude para se fortalecer.
Não é surpresa que o BB faça uma movimentação no sentido de adquirir mais um banco estadual, mas o que causa certa perplexidade é que o alvo seja o Nossa Caixa, diz a chefe de análise da Ativa Corretora, Mônica Araujo. Ela desconfia que a movimentação das ações na quarta-feira, com queda acentuada para BB ON (-3,15%) e alta para Nossa Caixa ON (+0,69%) tenha relação com a notícia - só oficializada após o fechamento do mercado.