segunda-feira, 12 de maio de 2008

Tática radical do DEM começa a assustar tucanos


Atitude de aliado no depoimento de Dilma foi vista como de "franco atirador" com "vocação de partido nanico"

Apesar de PSDB e DEM sustentarem uma parceria na oposição ao governo Lula, a luz amarela acendeu nas hostes tucanas depois da intervenção do líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), durante o depoimento da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) na Comissão de Infra-Estrutura da Casa, na quarta-feira. Os tucanos viram ali um sinal claro de que o DEM tende a radicalizar o enfrentamento com o governo, o que faria do aliado um "franco atirador" com "vocação de partido nanico".

No Senado, Agripino lembrou que Dilma contara ter mentido, sob tortura, durante a ditadura militar e tentou fazer um paralelo com suas declarações sobre o dossiê dos gastos do ex-presidente FHC. Ela retrucou que se orgulhava de ter mentido naquelas circunstâncias para não provocar a morte de companheiros. E disse que não era possível comparar a ditadura com a democracia.

Um deputado tucano que naquela noite pegou carona de volta para casa com o líder na Câmara, José Aníbal (SP) testemunhou um desabafo dele à ministra. "Fazer referência à tortura e tentar criar similitude é incabível", disse Aníbal. Quando Dilma atendeu, ele foi direto ao ponto: "Estou telefonando para deixar o meu abraço solidário e dizer que achei que a senhora teve uma postura muito firme no depoimento." Ao desligar, justificou-se ao carona: "Somos amigos. Sei o que ela passou quando estava na clandestinidade."

No mesmo tom indignado de Aníbal, um senador da direção do PSDB avalia que, nestes termos, a aliança com o DEM não terá viabilidade e não levará a lugar algum. Setores do tucanato acham que o DEM monta uma agenda incompatível com o projeto de poder em torno dos governadores José Serra (SP) ou Aécio Neves (MG). Os presidenciáveis tucanos, cada um a seu jeito, recusam-se a atacar o presidente e preferem contornar sua popularidade falando no pós-Lula.

Enquanto líderes do DEM sustentam que não há diferença ideológica entre os dois partidos, tucanos insistem nas diferenças e revelam cansaço com a parceria.

AFINAR MAIS

O novo líder da minoria de oposição no Senado, Mário Couto (PSDB-PA), admite que é preciso "afinar mais os discursos e as ações". Diz que falta conversa e articulação, mas defende a aliança entre os dois partidos. "Se nos dividirmos, ficaremos mais fracos", preocupa-se.

O que mais incomoda segmentos da cúpula tucana é a aliança em São Paulo. A insatisfação passa pela eleição presidencial e por queixas de tucanos de Norte a Sul contra a hegemonia paulista. Para o senador Sérgio Guerra (PE), presidente do PSDB, o que está no centro da insatisfação é a velha prática de restringir decisões importantes a um grupo de meia dúzia de tucanos ilustres. "O sentimento real não é contra a hegemonia de São Paulo, é a favor da democracia interna e participação ampla nas decisões. Quando alguém fala em prévias, todo mundo apóia."

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