segunda-feira, 5 de maio de 2008

Venezuela responde por 30% do saldo comercial do Brasil


A Venezuela respondeu por 30% do superávit brasileiro no primeiro trimestre deste ano e se transformou no país que mais contribui para o resultado positivo da balança comercial, com exceção da Holanda, cujos portos recebem boa parte das commodities que o Brasil vende para todos os países da Europa.

Está em curso uma série de mudanças no intercâmbio do Brasil com as demais nações do mundo: os Estados Unidos perdem espaço como fonte de superávit, a América Latina ganha participação no resultado positivo, com destaque para a Venezuela, e a China se transforma em um dos maiores déficits do país.

De acordo com economistas ouvidos pelo Valor, a valorização do real e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) são os motivos das transformações. O câmbio forte e o bom desempenho da economia prejudicam as exportações - principalmente de manufaturados para os Estados Unidos - e favorecem as importações - principalmente de itens industrializados da China.

Segundo Fernando Ribeiro, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), houve uma queda "generalizada" dos superávits no primeiro trimestre deste ano, independente do parceiro comercial. Em relação a janeiro a março de 2007, o saldo do Brasil caiu 78,6% com os EUA, 79% com a Rússia, 54% com o México. Mesmo com Argentina e Venezuela - que aumentaram sua contribuição para o total - foi registrada queda no superávit, respectivamente, de 27% e 24%.

A participação da Venezuela no superávit brasileiro subiu de 6% em 2006, para 11% em 2007 e 30% de janeiro a março deste ano. No ano passado, o país comandado pelo presidente Hugo Chávez superou Argentina e México no ranking dos maiores superávits do Brasil. No primeiro trimestre de 2008, ultrapassou também os Estados Unidos. O país caribenho é hoje um dos maiores contribuintes para o saldo positivo da balança.

"Chávez transferiu o abastecimento de muitos produtos dos Estados Unidos para o Brasil", acredita José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB). "Por conta da relação de amizade entre os dois países, Chávez, que controla boa parte do comércio exterior, favoreceu o Brasil", completa.

De acordo com o departamento econômico do Bradesco, o Brasil está exportando para a Venezuela carros, celulares e alimentos, entre outros itens. O país vive um boom de consumo junto com escassez de alimentos. As exportações do Brasil para a Venezuela somaram US$ 4,7 bilhões no ano passado.

Por outro lado, o Brasil importou apenas US$ 346 milhões da Venezuela. O país é um grande exportador de petróleo, mas o Brasil compra a maior parte do óleo que importa na África. Com exceção do petróleo, a Venezuela não produz quase nada. Para os economistas, o gordo superávit reflete mais um problema da economia venezuelana do que um mérito do Brasil.

Não é o caso de Argentina e México. Os dois países latino-americanos exportam cada vez mais para o Brasil, principalmente veículos, por conta da economia interna aquecida. Os carros argentinos e mexicanos se tornaram mais competitivos graças ao câmbio e são beneficiados pelos acordos de livre comércio que zeram as tarifas de importação. No ano passado, a Argentina vendeu US$ 10 bilhões ao Brasil e o México outros US$ 2 bilhões.

Na avaliação dos economistas, as transformações mais impressionantes ocorreram no comércio com os Estados Unidos e com a China. Em 2006, os EUA eram a principal fonte de superávit do país, superando até a Holanda. Em 2007, caíram para a segunda colocação. E no primeiro trimestre de 2008, para a quarta. A participação dos EUA no superávit do Brasil encolheu de 21% em 2006 para 16% em 2007.

Entre 2006 e 2007, o superávit do Brasil com os americanos encolheu US$ 3,5 bilhões, caindo de US$ 9,8 bilhões para US$ 6,3 bilhões. Enquanto as exportações do Brasil para os Estados Unidos cresceram apenas 2%, as importações saltaram 27%. No primeiro trimestre de 2008 em relação a igual período em 2007, o saldo do comércio bilateral entre os dois países encolheu quase 79%.

"Os EUA estão em um ciclo econômico de recessão, com perda de valor da moeda. É natural que começassem a revitalizar seu saldo comercial e reduzir seu déficit com o mundo", analisa Ribeiro, da Funcex. "Só que esse processo será mais acelerado com os países cujas moedas se valorizaram muito, como é o caso do real brasileiro", completa. Ele acrescenta, por exemplo, que o superávit dos Estados Unidos com a China, que é gigantesco, deve diminuir mais lentamente.

Entre os 10 maiores déficits do Brasil no exterior, seis foram ampliados de janeiro a março em relação a igual período do ano anterior. No caso de China e Alemanha, o aumento do déficit chegaram a impressionantes 465% e 232%, respectivamente. Os maiores déficits com o país são registrados com grandes produtores de petróleo, como Nigéria e Argélia, ou países muitos fortes na indústria, caso de China, Taiwan e Coréia do Sul. Os coreanos, por exemplo, vendem muitos automóveis para o Brasil.

No intercâmbio com a China, o Brasil apurou um déficit de US$ 2 bilhões apenas no primeiro trimestre do ano, superior ao US$ 1,87 bilhão de todo o ano de 2007. Em 2006, o país teve superávit com a China de US$ 410 milhões. E, em anos anteriores, a venda de commodities chegou a garantir robustos superávits. Em 2003, o superávit do Brasil com a China chegou a US$ 2,4 bilhões "O Brasil está importando hoje manufaturados da China, o que prejudica a indústria nacional", explica Sérgio Vale, da MB Associados. "Essa transformação no comércio com a China era inevitável", diz Ribeiro.

Em 2007, a situação da balança comercial não era tão crítica quanto no início deste ano. Dos 10 maiores superávits apurados pelo Brasil, apenas três recuaram em relação a 2006. Além do tombo no comércio com os Estados Unidos, foram US$ 800 milhões a menos no saldo com o México e US$ 470 milhões a menos com a Rússia. Os russos embargaram a carne brasileira, o que se refletiu no resultado. Já os mexicanos estão vendendo mais carros. A concentração do superávit da balança comercial brasileira por destino é alto. Em 2007, apenas Holanda, Estados Unidos, Venezuela e Argentina responderam por 56% do resultado.


0 Comentários em “Venezuela responde por 30% do saldo comercial do Brasil”

Postar um comentário

 

Consciência Política Copyright © 2011 -- Template created by Consciência Política --