sexta-feira, 2 de maio de 2008

Por uma jornada menor


A bandeira da redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais dominou as festas promovidas pelas maiores centrais sindicais do país — a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força Sindical — neste 1º de maio, em São Paulo. Até o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, aderiu à proposta. Na festa organizada pela CUT, no Autódromo de Interlagos, na Zona Sul da capital paulista, ele defendeu a redução da jornada. Para Lupi, é “legítimo e natural” que os trabalhadores se organizem e defendam a diminuição do horário de trabalho. O ministro destacou que a questão ainda deve ser discutida no Congresso e acrescentou: “Eu, enquanto filiado do PDT, vou trabalhar para que a minha bancada vote a favor. Estou disposto a conversar, dialogar e tentar encontrar um caminho que traga mais benefícios ao trabalhador”. O ministro destacou que “o trabalhador rende mais com uma carga de trabalho menor”.

O ministro citou o cálculo feito pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) de que a redução da jornada deve gerar diretamente, em média, 2 milhões de novos empregos. Segundo ele, o papel do Ministério do Trabalho é tentar mediar as reivindicações sindicais com o setor patronal. Ele enfatizou que essa questão exigirá “muita capacidade de negociação”. “Diminuindo a jornada, você tem que ter mais empregados. Será que o patronato vai fazer isso? Eles trabalham com custos. Por isso sou a favor da negociação para que todas as partes saiam satisfeitas”, afirmou.

Abaixo-assinado
A Força Sindical também bateu na mesma tecla, na festa organizada no Campo de Bagatelle, na Zona Norte de São Paulo, com o tema “Reduzir a jornada é gerar empregos”. Durante o evento, o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, convocou os trabalhadores para uma paralisação parcial no próximo dia 28 em defesa da redução da jornada de trabalho.

No dia seguinte, a central deverá entregar ao Congresso um abaixo-assinado pedindo a redução da jornada de 44 para 40 horas semanais. “Nós estamos pedindo a redução de trabalho para 40 horas semanais porque o Brasil está num momento muito bom. O país está crescendo, os salários melhoraram, a inflação está controlada”, afirmou.

Edilson de Paula, presidente da CUT em São Paulo, afirmou que as centrais sindicais já coletaram mais de 1 milhão de assinaturas para fazer passar no Congresso Nacional um projeto de lei de iniciativa popular reduzindo a jornada até o dia 28. “Isso não vai trazer nenhuma conseqüência para a economia brasileira. Pelo contrário, vai ajudar. O 1º de maio da CUT está muito concentrado na redução da jornada de trabalho”, afirmou.


CNBB é favorável

A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou ontem nota conclamando os brasileiros a pensar no valor do trabalho e a dar atenção aos desempregados. “Pouco se reflete sobre o sentido do trabalho. Fala-se muito no crescimento da renda, nos investimentos financeiros e produtivos, no poder de consumo dos pobres emergentes e beneficiários dos programas sociais do governo. Sabe-se, porém, que em meio a tudo isso cresce o drama de jovens e adultos sem emprego ou vivendo no subemprego”, diz o texto, assinado pelo presidente e pelo secretário-geral da instituição, Dom Geraldo Lyrio Rocha e Dom Dimas Lara Barbosa, respectivamente.

No mesmo comunicado, a CNBB manifestou apoio à campanha pela redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, sem diminuição dos salários. E criticou “o modelo econômico e financeiro hegemônico, concentrador de riqueza, adotado sem restrições e voltado exclusivamente para o consumo”. Para a entidade, esse sistema pode levar as pessoas a “esquecer os ideais de partilha, de pôr em comum os bens, de implantar a paz, superando as raízes da violência e da injustiça”. O texto defende também o acesso à terra e trabalho para todos, água e alimento distribuídos com igualdade, proteção à natureza e respeito às nações indígenas e quilombolas.

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