O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, almoçou na sexta-feira passada com o presidente Lula, no Palácio da Alvorada. O objetivo era conversar — e comemorar — sobre o grau de investimento concedido ao Brasil dois dias antes pela agência de risco Standard & Poor’s e suas implicações para a economia brasileira, especialmente no mercado de câmbio. Mas, conforme relatos de Lula a assessores, o que realmente dominou as conversas foi o desejo expressado por Meirelles de voltar à vida pública. O presidente do BC disse que está disposto a concorrer ao governo de Goiás nas eleições de 2010. E, para isso, deve deixar o cargo no segundo semestre do ano que vem.
Lula afirmou apoiar plenamente a decisão de Meirelles, que, em 2002, abriu mão de sua carreira política para assumir o comando do BC, em meio à grande desconfiança do mercado financeiro em relação ao que seria o governo petista. Meirelles havia sido eleito pelo PSDB de Goiás, com votação histórica no estado. Atendendo o convite de Lula, não só renunciou ao mandato, como se desfiliou do partido de oposição ao governo. A única recomendação do presidente da República foi a de que Meirelles mantenha, enquanto estiver à frente do BC, um comportamento discreto em seus contatos políticos, até para evitar especulações desnecessárias no mercado. Lula prometeu, quando chegar a hora, discutir com Meirelles a escolha de seu sucessor no banco.
Entre os políticos goianos, o comentário é de que Meirelles deve se candidatar pelo PRB, partido do vice-presidente da República, José de Alencar, ironicamente, um dos maiores críticos da política de juros comandada pelo BC e que tem em Meirelles o principal fiador. Mas o PTB e o PP do atual governador goiano Alcides Rodrigues, que rompeu com o senador Marconi Perillo (PSDB), vêm atuando nos bastidores para encabeçar a candidatura dada como vitoriosa. Há duas semanas, por sinal, Meirelles foi a Catalão e a Goiânia para contatos políticos e mapear suas chances e o tamanho do apoio que receberá.
Na avaliação de Lula, o presidente do BC tem sido peça fundamental para o controle da inflação e a conseqüente estabilidade da economia, que garantiram a reeleição em 2006. Mesmo com toda a pressão sobre o BC, ao longo dos últimos 5 anos e meio, Lula bancou Meirelles, que caminha para ser o mais longevo comandante do BC da história do país.