quarta-feira, 7 de maio de 2008

Prefeito do demo atrás das grades


Em Pacaraima, cidade implantada nas reservas Raposa Serra do Sol e São Marcos, o prefeito Quartiero do (DEM), diz que não vê solução pacífica para o impasse com os indios. “Para resolver o problema, só se o governo federal instalar um crematório coletivo para acabar com a população não indígena nas cidades que estão dentro das reservas”, exagera ele. Quartiero, foi preso ontem sob a acusação de mandar atirar no indios. O arroz responde por 6% do Produto Interno Bruto do estado (PIB). O produto é o principal item da pauta de exportação de Roraima.

Com um patrimônio de R$ 53 milhões e duas fazendas com 9,2 mil hectares, o prefeito do DEM, Quartiero contratou segurança privada equipada com motos e caminhonetes que vigiam as plantações e as sedes das propriedades. Para resistir aos índios, os produtores rurais também utilizam um bem articulado sistema de comunicação, com telefonia celular instalada em postos das prefeituras nas zonas rurais. No portão da fazenda Depósito, Quartiero construiu uma barricada digna de uma guerra de verdade. A Funai e a Advocacia-Geral da União entraram com ações no Supremo pedindo o desarmamento dos fazendeiros.

A região é considerada a melhor em terras e com maior facilidade para a utilização da água na irrigação do arroz. A disputa por terras em Roraima é apenas um dos motivos do conflito armado entre fazendeiros e índios. A batalha principal, real e ainda surda, envolve os mesmos personagens, as ONGs ambientalistas internacionais e brasileiras, além das Forças Armadas, e tem como foco de interesse a exploração dos minérios estratégicos, as imensas fontes de água, o aproveitamento das terras raras e a biodiversidade do monumental cerrado roraimense.

Atentados recentes e recorrentes


O conflito entre índios da Raposa Serra do Sol e fazendeiros é recorrente. Em setembro de 2005 um grupo mascarado atacou e queimou o Centro Indígena de Formação e Cultura, que funciona há pelo menos três décadas na comunidade do Barro. Na ocasião do atentado, segundo o coordenador do curso José Sabino André, a sede de uma antiga missão onde funciona a escola — no caso a biblioteca, os dormitórios e o depósito de mantimentos — foi incendiada e três missionários seqüestrados.

Em meio às ruínas do antigo ataque, hoje o centro forma 60 estudantes por ano no curso médio e como técnicos agrícolas com a ajuda de biólogos contratados fora das aldeias. O lema dos indígenas da Raposa Serra do Sol é “terra, identidade e autonomia”. As lideranças querem transformar as aldeias em comunidades produtoras rurais e com organização coletivista. “Nós também temos experiência com gado e poderemos produzir grãos até para exportação”, argumenta o tuxaua Martinho Macixu Souza. Eles contestam o argumento dos fazendeiros e do governo do estado de que a reserva é muita terra para pouco índio. “Historicamente, a terra sempre foi dos nossos pais e avós. Nós fomos expulsos há muitos anos e agora queremos de volta o que é nosso”, argumenta o professor Edinaldo Pereira André, um dos coordenadores da comunidade Barro.

Os índios também rejeitam a acusação, feita por setores das Forças Armadas e dos fazendeiros, de que a reserva colocaria em risco a soberania nacional com a demarcação em terras contínuas e na fronteira com dois países. Eles lembram que na mesma região existem pelotões de fronteira nas cidades de Normandia, Pacaraima e Uiramutã, além de unidades que vigiam as linhas demarcatórias do país. O índio Cristovam Galvão Barbosa lembra que foram as tribos do norte do país que ajudaram o marechal Rondon a instalar os marcos das fronteiras brasileiras. Ele acusa as autoridades e os fazendeiros de preconceito e racismo contra os índios. Também se queixam de jornalistas que, na opinião deles, visitam as malocas, mas não relatam com o precisão suas queixas.

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