Nas buscas feitas durante a Operação Santa Tereza, a Polícia Federal encontrou documentos que indicam que mais uma organização não-governamental (ONG) recebeu dinheiro do esquema de desvios em financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Uma entidade, que segundo a PF estaria ligada ao movimento sindical, teve um cheque de R$ 82 mil depositado em sua conta. Antes disso, investigadores descobriram uma transferência bancária para a ONG Meu Guri, da mulher do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), Elza de Fátima Costa Pereira. A instituição também ganhou R$ 1,2 milhão do BNDES para construir sua sede.
Desde o início das investigações, em dezembro passado, a PF tinha indícios de que o esquema usava ONGs em seus negócios. Escutas telefônicas reforçaram os indícios, que aumentaram com a apreensão de um comprovante de transferência bancária de R$ 37,5 mil, feito por João Pedro de Moura ao Centro de Atendimento Biopsicossocial Meu Guri. Moura foi assessor de Paulinho da Força, e continua preso por ser considerado um dos principais envolvidos nos desvios do BNDES, e a instituição é presidida pela mulher do parlamentar.
Em outras buscas, a PF apreendeu canhotos de cheques que foram emitidos ao Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Pesquisa Política, Social e Cultural do Trabalhador – Luta e Solidariedade. Uma pesquisa feita pela polícia indicou que o responsável seria Eleno José Bezerra, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, que também figura como tesoureiro do Centro Meu Guri. O cheque foi emitido pelo empresário Marcos Vieira Mantovani, dono de uma consultoria por onde eram negociados os financiamentos do BNDES. Ele continua preso, junto com Moura e outros dois envolvidos no esquema.
O destinatário do cheque, que foi emitido no dia 31 de março passado, era um escritório de advocacia, que o depositou na conta do Instituto, segundo policiais federais que participam das investigações. Nas buscas, a PF também encontrou diversas outras movimentações em nome de pessoas que, até agora, não foram identificadas, mas que, por serem somas acima de R$ 40 mil, há a suspeita de que tratavam de laranjas. Por meio de sua assessoria, Bezerra afirmou que não iria falar sobre o assunto, já que desconhecia a existência do Instituto, que está localizado na mesma rua do sindicato, segundo o levantamento da Polícia Federal.
Ontem, Elza Pereira, que também é tesoureira do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, presidido por Eleno Bezerra, emitiu uma nota em nome do Centro Meu Guri, afirmando que o dinheiro de Moura era uma doação feita a instituição. Em troca, o ex-assessor de seu marido retomaria um imóvel que ele havia dado para a entidade, há algum tempo, e depois decidiu readquiri-lo. O Centro foi construído com recursos do BNDES, que liberou uma única parcela de R$ 1,2 milhão em setembro de 2001, quando Moura fazia parte do Conselho Administrativo do banco. O BNDES confirmou ontem a liberação da verba, que era de um fundo social.
Ontem, a Polícia Federal encaminhou um documento ao BNDES solicitando informações sobre o dinheiro liberado ao Centro Meu Guri, entre outras instituições. Além disso, vai pedir a quebra de sigilo bancário de várias ONGs, entre elas a presidida por Elza Pereira.
Câmara
O corregedor da Câmara dos Deputados, Inocêncio Oliveira (PR-PE), classificou ontem como “grave” a situação de Paulinho da Força. “A situação do deputado Paulo Pereira da Silva é grave porque a cada dia as denúncias se avolumam e aparecem na imprensa”, afirmou. Para Inocêncio, a revelação de uma doação de um dos envolvidos no esquema para a ONG da mulher de Paulinho complica a situação do parlamentar. O caso, disse, pode ser enviado diretamente ao Conselho de Ética. O corregedor fez a notificação para o deputado apresentar sua defesa. Paulinho tem cinco dias para enviar seu posicionamento formal. Se a definição de Inocêncio for pela cassação ou suspensão do mandato, o caso vai ao Conselho de Ética.
TOSTO É EXONERADO
O governo publicou ontem no Diário Oficial da União a exoneração “a pedido” de Ricardo Tosto da função de membro do Conselho de Administração do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Tosto era representante da Força Sindical no Conselho, e é suspeito de integrar esquema de cobrança de propina para liberar financiamentos do BNDES. Ele pediu afastamento do cargo, depois de deflagrada a Operação Santa Tereza, da Polícia Federal, na qual foram presas 10 pessoas, entre elas Ricardo Tosto, que foi solto em seguida, mas continua sendo investigado.