O Brasil abriga o maior número de empresas classificadas como as mais transparentes do mundo atualmente. Referência mundial entre executivos para a elaboração de relatórios sociais e ambientais, a Global Reporting Initiative (GRI) divulgou ontem, em Amsterdã, que a Petrobras é a companhia mais transparente do planeta, eleita por todos os tipos de leitores de balanços, dos mais xiitas representantes de ONGs (organizações não-governamentais) a executivos atraídos por governança corporativa, passando por governos e empregados de empresas.
Das 800 empresas candidatas, que expõem suas atividades a análises da sociedade por meio dos relatórios, 45 ficaram entre as finalistas, das quais oito são brasileiras. Petrobras, Natura, Bradesco, Banco do Brasil, Itaú, Banco Real, Cemig e Usiminas exibiram balanços que ficaram entre os melhores do mundo, conforme o resultado da votação de 1,7 mil pessoas.
"O Brasil encara problemas muito concretos, tem um contexto que exige mais das empresas do que os países europeus, por exemplo", afirmou a diretora de serviços de aprendizagem do GRI, Nelmara Arbex. Florestas queimadas, violência e níveis baixos de educação são, segundo ela, fatores que empurram as empresas brasileiras para a transparência máxima, porque precisam de credibilidade suficiente para mostrar que os problemas do País não contagiam suas atividades.
O número de companhias brasileiras de grande porte que seguiram os relatórios do GRI quadruplicou no ano passado. Eram 15 e agora são 60. Entre as novatas, a Vale do Rio Doce. Mas a Vale, bem como muitas empresas que começaram agora este processo de transparência por meio destes relatórios, ainda não respondem todas as questões definidas pelo GRI, segundo fontes.
"Nós respondemos a todos os questionamentos do GRI, são cerca de 80 indicadores que eles pedem", conta a coordenadora de balanço social e ambiental da estatal, Ana Paula Grether Carvalho. Os balanços são auditados pela KPMG. Entre as três finalistas na categoria sociedade civil, estavam além da Petrobras, BG e Natura. A estatal brasileira ficou também entre os finalistas dos melhores relatórios na visão de empregados, juntamente com a Usiminas. A imprensa elegeu a espanhola Gas Natural como a mais transparente.
Destaque para a Índia
Os mesmos problemas de países emergentes que enfrenta o Brasil pode ter motivado a Índia a apresentar outros dois campeões: o relatório do ABN-Amro da Índia foi eleito por executivos de mercado o melhor entre todos. E a ITC, também indiana, foi considerada por funcionários a de mais transparência entre as demais.
Mas o fato de ser mais transparente não significa ser a mais sustentável. "Na verdade, quanto maior o problema da empresa, e ela relata, mais honesta diante da sociedade ela se torna". Vazamentos de óleo de grandes dimensões, incêndios, a plataforma gigante que afundou, segundo a estatal, ajudaram a empresa a se fortalecer no gerenciamento de crises.
"Nós usamos os relatórios GRI para tomá-los como exemplo, alcançar competitividade com responsabilidade. Os indicadores expostos são exemplo para empresas do mundo todo", conta José Pedro Lins, fundador de institutos e fundações de ação social para empresas como C&A, Unilever, Bradesco e rede Globo. Atualmente, o executivo está montando o instituto de ações sociais e ambientais da Internacional Paper. Lins votou nas mais transparentes, mas não revela quais.
O ambientalista João Meirelles Filho, autor do livro Tudo sobre a Amazônia, também votou no concurso, mas avalia que faltam medidas para dar sustentabilidade às empresas. "Elas falam delas mesmas, não têm ninguém que aponte as falhas, por exemplo, de seus fornecedores".
A atividade de cana-de-açúcar no interior de São Paulo está provocando a debandada de outras atividades agrícolas para outras regiões. "E para onde elas vão? Os pecuaristas estão indo para Amazônia, para dar espaço aos usineiros", critica. E n o cartão de visitas de sua ONG, uma pequena ironia: "Já comeu a Amazônia hoje?"
Com sete empresas finalistas, a Espanha também foi destaque na conferência. Grandes companhias como a americana Coca-Cola e a anglo-holandesa Shell também ficaram entre os mais transparentes do mundo.
O GRI sugere que as empresas informem de onde vêm seus insumos, bem como a água e a energia que usam; se são alvo de ações na Justiça, e também sobre suas emissões de gases de efeito estufa (GEE). Também é requisitado o número de mulheres em cargos de chefia, por exemplo.
"As pessoas querem saber onde compram, de quem, onde investem, querem tomar nota de quem está dando a melhor a informação", disse o presidente do GRI, Ernst Ligten.
"Estes documentos ajudam as empresas a questionar o que pode ser feito para minimizar impactos negativos na sociedade sem necessariamente ser um xiita ou ecochato", acrescenta Lins.
Assim como Lins, 400 mil pessoas já realizaram pesquisas sobre as companhias no site do GRI. A entidade não tem como mensurar quantas empresas usam seus padrões de sustentabilidade e transparência. "O que podemos dizer é que 1,5 mil grandes empresas nos informam que adotam o GRI, mas quantas de fato usam, sem nos comunicar, não sabemos", diz a diretora do instituto que reúne as mais importantes normas do mundo para elaboração de relatórios socioambientais empresariais.