terça-feira, 15 de novembro de 2005

Dirceu diz que é perseguido pelas elites conservadoras


O deputado José Dirceu (PT-SP) disse que a sua saída do governo foi resultado da pressão de "setores da oposição e parcelas conservadoras das elites do País". O ex-chefe da Casa Civil disse que, desde 2004, vinha falando com o presidente sobre a própria saída do governo. "Eles vinham praticamente inviabilizando a minha presença no governo. Qualquer declaração minha se transformava numa verdadeira crise político-institucional", afirmou o ex-ministro ao Canal Livre, da TV Bandeirantes.

Ele garantiu que a decisão de deixar o governo foi tomada conjuntamente com o presidente Lula, três dias antes da declaração do ex-deputado Roberto Jefferson praticamente exigindo a saída de Dirceu. "E eu acredito que fiz o correto. Se eu estivesse no governo, evidentemente não poderia estar me defendendo como estou."


Responsabilidades
Dirceu voltou a dizer que não participou das supostas irregularidades cometidas pelo PT depois que assumiu o cargo de ministro. "Da minha parte, não há provas. Não se pode condenar ninguém sem provas", insistiu. Ele admitiu, porém, responsabilidade política, como presidente do PT e como ministro durante os 30 meses em que fez parte do governo.

"Eu sou responsável, junto com a direção do PT, pela estratégia de campanha de 2002, pelo programa de governo e pela política de alianças", ponderou o petista. "Mas não assumo - porque eu não participei, não deliberei, não era membro da direção do PT - as decisões que foram tomadas quando eu já não era mais nem presidente, nem membro da Executiva Nacional."


Recursos ao STF
José Dirceu defendeu o próprio direito de recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF), tantas vezes quantas achar necessárias para se defender. "Como cidadão eu tenho o direito e o dever (de fazer) com que o devido direito de defesa seja respeitado", salientou sobre os repetidos recursos ao Supremo. "Isso não tem nada a ver com postergar, com não querer ser julgado", garantiu.

Para ele, apesar da votação desfavorável a ele, o Conselho de Ética da Câmara até agora não provou que ele tenha sido o chefe do mensalão. "Primeiro, porque eu não recebi recursos, não participei e não tem nenhum nexo ou testemunha de que eu tenha participado de nada", insistiu. "Querem me cassar como quê? Tem de ter uma prova e tipificar a quebra do decoro." Desafiador, ele acusou o Conselho de estar agindo politicamente: "Na Justiça brasileira, eu seria absolvido."


Defesa de Lula
O ex-ministro falou sobre as declarações do presidente Lula ao Roda Viva, da TV Cultura, prevendo a cassação de Dirceu: "Ele (Lula) disse que não há provas contra mim, que eu sou inocente, que está se repetindo o caso Ibsen Pinheiro e Alceni Guerra", lembrou o ex-ministro. Para, finalmente, admitir que o presidente disse existir um senso comum de que será cassado. "Mas ele me defendeu. É esse o entendimento que eu tenho", afirmou o deputado petista.

Dirceu também respondeu às questões sobre o envolvimento com o empresário Marcos Valério. "Eu nunca me encontrei pessoalmente com ele. Ele veio com os bancos, em reuniões públicas que estavam na agenda do dia", garantindo que a reunião, que envolveu ainda a Usiminas não teria nada de secreta. Ele aproveitou para acusar o ex-tesoureiro do PT de manter relacionamento com o empresário Marcos Valério. "O Delúbio Soares tinha, eu não."


Palocci
José Dirceu defendeu o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, um antigo desafeto no governo: "Eu sou radicalmente contrário à saída do ministro Palocci", garantiu. E opinou que o presidente Lula não deverá aceitar nenhuma pressão para demitir o seu ministro mais importante. Ele disse ainda que considera "totalmente infundadas" as denúncias contra o ministro da Fazenda. "Não está provado. É preciso terminar o inquérito", afirmou, sobre supostas irregularidades cometidas na prefeitura de Ribeirão Preto.

Porém, o ex-ministro não escondeu que continua o divergindo da política econômica adotada: "É público que eu prefiro as dores do crescimento", ressaltou. "Muitos de nós acreditamos que com um superávit de 3,75% e com uma meta de inflação de 7% ou 8% nós poderíamos ter tido um crescimento maior e com uma maior distribuição de renda", prosseguiu. E ainda admitiu que a proposta de ajuste fiscal de longo prazo foi um erro político. "Não vejo que haja condições políticas para que isso seja implementado."


Caixa 2
Apesar de ter sido o coordenador da campanha do presidente Lula, José Dirceu procurou eximir-se de qualquer responsabilidade sobre eventual acordo financeiro com o PL. "Ele (ex-deputado e presidente do Partido Liberal Valdemar da Costa Neto) e o Delúbio já disseram que eu não participei da negociação financeira", defendeu-se o ex-chefe da Casa Civil.

Porém, garantiu que o acordo político não teria nada de irregular: "O acordo político e eleitoral que nós fizemos é legal e correto. Não se pagou para o PL as dívidas de campanha", salientou. "E, depois se pagou, em 2003 ou 2004, com recursos do esquema Marcos Valério e do Banco Rural", lembrou o ex-ministro. "Não tem nada a ver com a prestação de contas da campanha de Lula", procurando livrar o presidente de qualquer responsabilidade.


Celso Daniel
Ao ser confrontado com as gravações de telefonemas que falavam sobre o suposto envolvimento de José Dirceu e as declarações dos irmãos de Celso Daniel de que Dirceu seria o destinatário dos recursos arrecadados em Santo André, Dirceu respondeu: "Eu estou tranqüilo porque eu sei que não é verdade. Eu não recebi", afirmou.

Sobre as gravações, ele se limitou a dizer que elas não têm valor legal. Por outro lado, o ex-ministro admitiu que seja reaberta a investigação sobre a morte do ex-prefeito de Santo André, caso o Ministério Público e a polícia paulista decidam fazê-lo: "Sou favorável a que a Polícia Civil de São Paulo investigue".


Reeleição
Dirceu ainda procurou evitar uma polarização em 2006 entre a eventual reeleição de Lula contra um candidato do PSDB: "Nós não devemos subestimar o ex-governador (do Rio, Anthony) Garotinho, nem na disputa interna do PMDB, nem como candidato", advertiu. "Eu estou vendo muita certeza em todo mundo de que seria Lula e Serra ou Alckmim e ponto final. E o Brasil não é assim", sobre a possibilidade de surgirem outros candidatos.

"É muito cedo para nós ficarmos tirando conclusões definitivas sobre 2006", ponderou. "Achar que o presidente Lula, o PT e as alianças do PT não têm força política e eleitoral, não têm o que mostrar para o País, eu acho que é não ver a realidade do País."


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