quarta-feira, 3 de junho de 2009

Popularidade resistente constrói candidatura


As últimas pesquisas de popularidade do governo Lula apontam para uma realidade que dificilmente vai mudar até as eleições de 2010, que escolherão o sucessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É um cenário atípico para um segundo mandato, por algumas razões. Primeiro, porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva exibe uma popularidade recorde para um governante com um longo período no poder, e com o comando de um país marcado pelo impacto de uma crise financeira internacional. Em segundo lugar, será a primeira vez que um presidente, na história da nova democracia brasileira, demonstra ter capacidade de transferência de votos para um candidato à sua sucessão.

Na pesquisa Datafolha publicada no domingo, e na pesquisa CNT/Sensus divulgada anteontem, a ministra Dilma Rousseff, que em março do ano passado tinha apenas 3% das intenções de voto, apresenta-se com a candidatura consolidada. Pelo Datafolha, Dilma aparece em segundo lugar, com 16%, contra o candidato tucano, José Serra, com 38% - a ministra subiu 5 pontos em um mês e Serra perdeu 3. No levantamento da CNT/Sensus, a ministra subiu de 16,3% das preferências em março para 23,5% este mês, enquanto Serra caiu de 45,7% para 40,4% no período.

Serra continua o favorito mas, sem dúvida, a alta e resistente popularidade do governo Lula construiu uma candidatura que o PT não dispunha. Hoje, Dilma, uma ministra considerada "técnica" e sem grande militância político-partidária, está identificada como a candidata do presidente e é conhecida por uma grande parcela da população - 72% dos entrevistados pelo CNT/Sensus declaram que a conhecem. Serra , que já foi candidato a presidente, é conhecido por 94,9%; Ciro, que também já disputou a sucessão presidencial, é identificado por 86,4%. Dificilmente um outro petista - que nunca teve outro candidato a presidente que não Lula - conseguiria o mesmo grau de exposição sem a ajuda do presidente, ou chegar ao que era o piso das candidaturas petistas, de cerca de 20%, sem estar identificado com um governante tão popular.

Pelas últimas pesquisas, é possível concluir que a popularidade de Lula sobreviveu à crise, e que ela desempenhará papel fundamental nas eleições de 2010. Até agora, a transferência de votos do presidente para a sua candidata pode ter garantido um segundo turno - que o favoritismo anterior do governador de São Paulo poderia ter subtraído do cenário eleitoral. É certo que Dilma terá que cumprir o seu papel como candidata, mas é correto também concluir que o cenário político não ficou impassível aos recordes de popularidade de Lula. Em novembro, antes que a crise provocasse impactos fortes na economia, a popularidade do governo beirava os 70%, e a de Lula, os 80%; os índices sofreram um declínio quando a crise financeira começou a dar sinais de que repercutia na economia brasileira, e já voltou aos mesmos níveis anteriores este mês. Lula volta a ser, com o seus 81,5% de aprovação atual, o presidente mais popular da história recente do país.

Essa popularidade recorde repercute na avaliação dos brasileiros sobre a extensão da crise no Brasil. A maioria, representada por 55,3% dos entrevistados pela CNT/Sensus, acredita que o Brasil ainda está sob o impacto da crise, mas 50,4% acreditam que o governo está lidando adequadamente com esse problema, e 55,9% creem que o Brasil vai sair fortalecido.

Ainda tem muito chão até que se chegue ao resultado das urnas. As pesquisas recentes já apontam, todavia, para uma realidade em que o presidente será um grande eleitor - expectativa que se tinha de todos os outros presidentes pós-redemocratização e que não aconteceu. Com isso, acena-se para eleições que serão disputadas, contra a perspectiva inicial de um pleito com um grande favorito e a derrota iminente de todos os demais. De uma disputa mais equilibrada pode resultar uma pressão sobre os partidos para que a campanha confronte ideias e programas de governo, e saia do padrão que tem marcado o embate entre os partidos nos últimos anos, de confronto quase pessoal entre personagens públicas. Isso não é ruim. Os candidatos valem, sobretudo, pelas ideias que eles representam. E elas devem ser claramente expressas para o eleitor.

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