sexta-feira, 5 de junho de 2009

A rendição do PT ao presidente Lula


A cinco meses do Processo de Eleição Direta (PED) em que os seus militantes escolherão dirigentes municipais, estaduais e nacionais, o Partido dos Trabalhadores (PT) emite cada vez mais sinais de dependência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao longo da sua história, que é paralela porém não necessariamente condicionada à carreira política de Lula, o PT manteve uma relação com o seu maior líder que foi conveniente para ambos: o partido tinha vida própria e sua dinâmica interna era a síntese dos conflitos entre as suas diversas facções; Lula tinha um capital político que era seu, construído no movimento sindical e movido a carisma. O líder carismático emprestava sua imagem ao partido sem ser obrigado a operar as intensas negociações demandadas pela coexistência de facções constantemente em conflito; o partido, que no processo de síntese de conflitos ganhava massa orgânica, movia-se nas eleições em sólido apoio ao líder.

Antes de ser presidente, Lula e o PT tinham o mesmo grau de importância junto ao militante e ao eleitor. Após 2003, todavia, quando conquistou a Presidência da República para o seu maior líder, o partido vem perdendo importância em relação a Lula. O grande saldo do escândalo do mensalão, que foi usado pela oposição com o objetivo claro de tirar Lula do cenário político, foi o de aumentar a popularidade do líder em relação à de sua legenda. A partir de 2005, e sempre mais, o PT passou a depender da popularidade do presidente. O partido foi coadjuvante na escolha da candidata que terá à Presidência - a candidatura da ministra Dilma Rousseff foi uma decisão pessoal do presidente Lula. Será também acessório na disputa eleitoral - o presidente Lula será, de fato, o grande eleitor de 2010. E corre o risco de ser também descartável na definição da nova direção do partido, que estará no comando no período eleitoral.

As eleições para a direção do PT, este ano, personificarão essa realidade. O nome preferido da disputa partidária é o do chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho. Embora Carvalho tenha qualidades pessoais e políticas que o definem como um bom nome para presidente do PT, independente de sua proximidade ou não com o presidente, foi exatamente esse detalhe o que o levou ao centro das articulações dos diferentes grupos partidários. Ele foi apontado por dirigentes atuais do partido como aquele com maior credibilidade junto aos partidos aliados para negociar as coligações de 2010 por ser "a voz do presidente Lula dentro do PT". Lula, ao tentar manter o seu auxiliar mais próximo no governo, assumiu para si a tarefa de indicar um nome "preferido" na disputa partidária, como se isso fosse o natural nas suas relações com o PT.

Pela primeira vez, Lula vai indicar oficialmente um candidato seu à presidência do PT. Na edição de ontem, a "Folha de S. Paulo" publica uma matéria em que afirma que o presidente indicará e apoiará oficialmente o presidente da BR Distribuidora, o ex-senador José Eduardo Dutra, como o "seu" candidato a presidente do PT.

Carvalho teria, sobre Dutra, a vantagem de reunir apoios internos no partido - isso equilibraria a sua posição, neutralizando o fato de ser uma pessoa da confiança estrita do presidente. Numa disputa do PED, não seria meramente o candidato de Lula, mas um postulante com o apoio formal do "Construindo um Novo Brasil", que é o antigo Campo Majoritário do qual Lula faz parte; com trânsito entre outras correntes, como a do ministro Tarso Genro, a "Mensagem ao Partido"; e ainda com a confiança da ministra Dilma Rousseff.

A opção de Lula de lançar um candidato "seu" à presidência do PT - por sua vez, assumido como o candidato de "seu" grupo, o "Construindo um Novo Brasil" - marca um novo momento dentro do PT, de rendição dos grupos partidários a uma liderança carismática. E de reconhecimento de suas próprias condições, mais limitadas hoje, de construir novos líderes. Esse papel acabou sendo desempenhado por Lula, quando investiu seu capital político tentando transferir votos para uma ministra até então desconhecida. Continuará sendo desempenhado em 2010, quando uma vitória dessa candidata dependerá muito mais do papel que será desempenhado pelo presidente petista do que pelo partido que a abriga.

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