terça-feira, 8 de agosto de 2006

O terror que está de volta


Facção criminosa é apontada como autora de 78 novos ataques a alvos civis e policiais na capital e no interior. Cinco pessoas saíram feridas e duas foram mortas. Sede do Ministério Público virou alvo

A segunda-feira mal havia começado e a onda de terror já estava instalada novamente em São Paulo. Às 4h de ontem, ataques com bombas caseiras, granadas e incêndios marcaram a terceira investida da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) em três meses ao estado. Quatro civis e um vigilante ficaram feridos e dois suspeitos morreram durante os atentados, que destruíram 22 ônibus na capital paulista, em Jundiaí e nas regiões do ABC e de Campinas. Além dos ônibus e vans, viaturas da polícia, agências bancárias, postos de gasolina e prédios públicos foram atacados pelos criminosos. Foram pelo menos 93 alvos em 78 ataques. Doze pessoas foram presas até o início da noite. Um dos suspeitos de planejar as ações, Rodrigo de Brito Ubaldo, está detido no litoral de São Paulo desde domingo.

O ataque mais violento ocorreu contra o prédio do Ministério Público de São Paulo, no centro da capital. Uma bomba caseira explodiu na entrada do edifício, o que provocou a interdição da Rua Riachuelo. Janelas da sede do MP e de prédios vizinhos ficaram estilhaçadas – os pedaços de vidro atingiram o carro de um taxista, que não se feriu. A sede da Secretaria da Fazenda sofreu três explosões seguidas. Segundo testemunhas, os criminosos arremessaram granadas no local.

A ousadia dos integrantes do PCC chegou até mesmo ao prédio do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado, na zona norte. Duas viaturas da Polícia Civil que estavam estacionadas em frente do prédio foram incendiadas. Na Rua São Caetano do Sul, uma base da Guarda Civil Metropolitana foi atacada. Pelo menos três postos de combustível da capital foram incendiados. Um supermercado da zona leste também foi alvo dos criminosos. Os bandidos atacaram simultaneamente agências bancárias de todas as regiões de São Paulo, mas o foco principal foi a zona sul, onde quatro unidades foram incendiadas. No início da noite, foram registrados mais três atentados a ônibus na zona leste.

Só a Guarda Civil Metropolitana foi vítima de quatro atentados, em menos de uma hora. O primeiro aconteceu às 4h30, quando um grupo de homens que estava em um Gol branco atirou contra a fachada da base da Rua Manoel José Pereira. Meia hora depois, o alvo foi a base comunitária da Praça Eulália de Carvalho. Um guarda foi atingido por um tiro no peito, mas conseguiu escapar com vida graças ao colete à prova de balas. Naquele momento, quatro homens atacavam guardas civis na Inspetoria Regional da Vila Prudente. Ninguém ficou ferido.

Em meio à nova onda de ataques, o Tribunal de Justiça determinou que Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue seja retirado do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Ele faz parte da cúpula da facção, junto com Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo da quadrilha, e Júlio César Guedes de Moraes, o Julinho Carambola.

Terror no interior
No interior, os ataques foram simultâneos. Pelo menos oito cidades foram atingidas, com atentados contra bases da polícia, postos de gasolina e agências bancárias. Os ataques em Ribeirão Preto, a 330km de São Paulo, começaram ainda na noite de domingo, com a depredação de caixas eletrônicos. Em Santo André, região do ABC paulista, dois bandidos foram mortos pela polícia, depois de jogarem bombas caseiras no fórum da cidade. Na ação, outros dois criminosos foram presos, e um, baleado. Só a Guarda Civil Metropolitana sofreu cinco ataques.

Em Jundiaí, a 60km da capital, houve cinco ataques em menos de meia hora. A partir das 3h30, os criminosos começaram a agir: em dois caixas eletrônicos e dois postos de gasolina, lançaram bombas caseiras e coquetéis molotov. Os explosivos atingiram as bombas de combustível, e a tragédia só não foi maior porque funcionários dos postos controlaram as chamas. Depois, os supostos integrantes do PCC atacaram um ônibus, que passava pelo bairro de São Camilo. Motorista e cobrador foram obrigados a descer do veículo, que foi incendiado. O dono da única empresa de transporte da cidade, a Viação Jundiaiense, resolveu tirar a frota de circulação, para evitar mais perdas.

O ataque em Sumaré, a 120km de São Paulo, aconteceu à zero hora de segunda-feira, com o lançamento de uma bomba caseira dentro da 3ª Delegacia de Polícia. O portal da cidade, localizado na Rodovia Virgínia Viel Campo Dall’Orto, foi alvejado com 15 tiros. Em Nova Odessa, Santa Bárbara d’Oeste, Indaiatuba, Itapira e Americana, os ataques foram semelhantes. Não houve vítimas.

Os atentados prejudicaram o transporte público na capital e no interior. Com a destruição de 22 ônibus e o ataque a tiros a vários outros, o prejuízo foi de R$ 500 mil, segundo o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo. Ainda assim, as empresas não retiraram os ônibus de circulação. Na parte da manhã, algumas linhas deixaram de operar, mas, a partir das 12h, os veículos voltaram normalmente às ruas, sob a supervisão da polícia.


Suspensão de indulto

Embora o motivo dos ataques ainda não tenha sido descoberto, o governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), atribuiu as ações do PCC à ameaça, feita pelo Ministério Público Estadual (MPE), de não se conceder indulto aos presidiários por ocasião do Dia dos Pais, comemorado no próximo domingo. Investigações de promotores ligados ao Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaerco) apontaram que, a exemplo do que aconteceu no feriado do Dia das Mães, quando a facção deflagrou 300 ataques ao estado, os detentos ligados ao PCC estariam planejando agir no fim de semana.

Lembo minimizou as ações criminosas deflagradas ontem, classificando-as de “situações muito simbólicas, mas sem efetividade”. Logo depois de participar de uma solenidade na qual entregou 433 carros à polícia, o governador afirmou que não há previsão de um esquema especial de policiamento no próximo domingo.

O comandante geral da Polícia Militar do estado de São Paulo, coronel Eliseu Ecler, disse ontem que os ataques podem voltar a acontecer até as eleições de outubro. Segundo Ecler, é possível fazer essa previsão por causa das escutas telefônicas de diálogos dos bandidos, recebidas pelas polícias Civil e Federal. Das 12 pessoas presas após os ataques criminosos desde a madrugada na capital, seis já tinham passagem pela polícia. Dois suspeitos de participar das ações criminosas foram mortos.

Três meses de medo

Os primeiros atentados do Primeiro Comando da Capital (PCC) no estado de São Paulo aconteceram entre 12 e 19 de maio. Na ocasião, ocorreram 299 ataques a ônibus, prédios, delegacias, postos de gasolina e agências bancárias, além de motins em 82 unidades prisionais paulistas. Oitenta integrantes da facção foram mortos, além de 31 inocentes, que teriam resistido à ordem de prisão. Entre 11 e 14 de julho, o PCC voltou a atacar. Foram quase 100 ônibus incendiados e um saldo de oito mortes.

11 de maio
Informada por escutas telefônicas da possibilidade de megarrebelião, a cúpula de segurança opta por transferir 765 coordenadores do PCC para a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau. A informação ficou restrita ao comando da polícia.

12 de maio
Às 16h30, começa em Avaré o primeiro motim. A ordem de lançar os ataques foi dada por celular pelos líderes, ainda pela manhã, com duas linhas de atuação: megarrebelião e atentados contra a polícia. À noite, 15 carros atacam o 55º DP, no Parque São Rafael.

13 de maio
Configura-se a maior ofensiva do crime organizado já registrada no país. Ao todo, 24.472 detentos de 24 unidades prisionais rebelaram-se e fizeram 129 reféns. Em 69 atentados, 27 policiais e 1 civil são mortos. O secretário Saulo Abreu diz que a reação era “previsível” e libera o uso “de armas pesadas”. Somente nesse instante todos os policiais são alertados sobre o ataque
do PCC.

14 de maio
Em 73 horas, chegam a 73 o número de presídios rebelados, no maior motim simultâneo da história brasileira. O comando do crime organizado decide alterar a estratégia e resolve desestabilizar a ordem pública. No início da noite, mais de 40 ônibus são queimados.

Em seguida, começam a ser relatados ataques a agências bancárias. Até uma estação de metrô vira alvo. A polícia reage fortemente: 23 suspeitos são mortos.

15 de maio
O PCC determina o fim das rebeliões e a suspensão dos atentados. A ordem é dada após uma conversa entre Marcola e três representantes do governo. Medo e boatos praticamente param São Paulo – deixam de funcionar transporte público, escolas e comércio. Pela primeira vez, há mais agressores mortos nos ataques do que policiais.
A OAB ameaça cassar advogados ligados ao crime. A guerra do PCC, em sua primeira fase, terminou com 107 suspeitos mortos.

26 de junho
Em São Bernardo do Campo e Diadema, 13 supostos integrantes do PCC são mortos. No início de julho, a cúpula da facção opta por ampliar os ataques a agentes penitenciários. Seis agentes prisionais, dois carcereiros, um civil (filho e irmão de agente) são mortos.

11 a 14 de julho
O PCC começa a atacar prédios públicos e particulares, agências bancárias, lojas e ônibus. Agentes de segurança também são alvo. Oito pessoas morrem, sendo um policial militar e sua irmã, na zona norte de São Paulo; três vigilantes particulares, no Guarujá; e um guarda municipal, em Cabreúva. Em Campinas, morrem um agente prisional e o filho de um investigador.
No total, são 106 ataques e 121 alvos.

7 de agosto
Menos de um mês depois da segunda onda de ataques, o PCC volta a incendiar ônibus, prédios, postos de gasolina e a atacar policiais. Quatro civis são feridos e dois suspeitos morrem.

Saldo dos atentados

40
locais atacados

32
agências ou postos bancários

12
postos de gasolina

26
locais atacados a tiros

11
locais atacados com explosivos

22
ônibus incendiados


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