quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

Sendo claro, torci por José Dirceu


Somos de uma espécie blasé. Jornalistas em geral são blasé. Preferem fazer de conta que nunca é com eles. Que estão ali apenas para fazer registros e análises. Que não têm compromisso com nada que não sejam os fatos e as suas consciências. Isso tem lá seu lado bom, mas hoje se tornou disfarce. Uma máscara muito usada para fazer campanhas a favor de gigantes interesses. E se fazer passar por chapeuzinho vermelho num mundo-mercado de lobos.

Sem ser blasé e correndo os riscos da decisão, quero dizer que torci por José Dirceu na quarta-feira, 30 de novembro. Mesmo sabendo que o julgamento dele não se dava ali e que o resultado seria o que foi. Ele já havia sido crucificado antes por uma articulação político-midiática que há muito nos condena. E que nunca foi a juízo. E também sabendo que por isso muitos dos seus julgadores daquela quarta-feira comportar-se-iam como o tal Pilatos, lavando as mãos para que o clamor do “povo” fosse atendido.
Para que o que establishment que se auto-intitula opinião pública pudesse ter o prêmio pelo qual tanto se empenhou durante seis longos meses.
Também sem ser blasé, quero dizer que não tenho convicção a respeito da exigida inocência de José Dirceu. Não sei se ele de fato não cometeu atos impróprios. Ele diz que não. Também acho difícil acreditar que não soubesse das operações ilegais realizadas pelo PT. Mas ele diz que não. E em seis meses de investigação seus condenadores não produziram provas. No máximo, apontaram indícios.

Talvez por isso o silêncio revelador da noite de quarta. Silêncio que quase nunca se ouve quando alguém está na tribuna do Congresso. Por quase 50 minutos deputados e senadores pararam para ouvir o militante político José Dirceu. Poucos zunidos, quase nenhuma indiferença. Ele se defendeu e, com a dignidade dos fortes, dispensou misericórdia e pediu justiça. Frase de efeito, certamente pensada e lustrada, mas simbólica. Por si só deu àquele julgamento a dimensão da biografia política do personagem em questão.

Torci por José Dirceu na noite de quarta-feira, porque sei de que lado ele estava há quarenta anos. E imagino que continuará. Parece pouco. Mas em um momento onde máscaras e disfarces fazem parte do figurino de muitos, preservar uma liderança como José Dirceu passa a ter imensa importância. Mesmo tendo mudado o rosto para voltar ao Brasil, todos o reconhecem. Sabem o que é, o que pensa e representa. E seus algozes não o escolheram à toa para o show da crucificação. Foi como tentar cortar o mal pela raiz. Mas pela grandeza da reação de José Dirceu, parece que se deram mal.

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