O juiz Jeferson Schneider, da 2ª Vara Federal do Mato Grosso, determinou à Polícia Federal que conclua em 20 dias as investigações do escândalo do dossiê e apresente relatório final sobre o episódio. Nesta última etapa da apuração, o magistrado autorizou a polícia a cumprir uma série de ações que tem como foco o PT paulista, sigla pela qual o senador Aloizio Mercadante concorreu ao governo de São Paulo, para tentar comprovar suspeita de caixa 2 eleitoral. Schneider também estabeleceu 20 dias de prazo para que a PF encerre a apuração sobre Abel Pereira, empresário acusado de defender interesses da família Vedoin no Ministério da Saúde, durante a gestão do tucano Barjas Negri, sucessor de José Serra.
A decisão da Justiça chegou no final da tarde de ontem às mãos do delegado Diógenes Curado, que preside os dois inquéritos em Cuiabá. Na semana passada, ele havia reivindicado mais um mês para tentar apontar a origem dos R$ 1,75 milhão, em notas de dólar e real, que seriam usados na compra material contra tucanos e tentar estabelecer uma cadeia de comando entre os envolvidos. Se o juiz federal aceitasse a proposta do policial, a conclusão do inquérito certamente ficaria para 2007. Mas Jeferson Schneider quer uma solução para o caso na esfera policial ainda este ano.
Os investigadores envolvidos no caso ficaram preocupados com a medida, segundo relatou um deles ao Correio. O dinheiro foi apreendido em 15 de setembro em poder de Valdebran Padilha e Gedimar Passos, presos pela polícia em um hotel de São Paulo. Desde então, soube-se da polícia apenas que R$ 5 mil de R$ 1,1 milhão passaram pelas bancas do jogo do bicho no Rio de Janeiro atribuídas a Antônio Petrus Kalil, conhecido como Turcão; e que pelo menos U$ 79,8 mil dos US$ 248,8 mil que estavam com a dupla petista transitaram pela Vicatur Agência de Turismo, de Nova Iguaçu (RJ).
A PF está convencida de que o grupo petista envolvido na transação levantou recursos em diversas fontes e de que a arrecadação estaria vinculada a recursos de campanha. Por isso, pediu à Justiça para investigar o PT de São Paulo. Foram autorizados os depoimentos do presidente regional da legenda, Paulo Frateschi; do secretário de Finanças, Antonio dos Santos, e do integrante do diretório estadual José Baccarin, que trabalhou como tesoureiro de campanha de Aloizio Mercadante. Hamilton Lacerda, seu ex-coordenador de comunicação do petista, é considerado como o “homem da mala”. Para a PF, ele foi a pessoa responsável pela entrega dos R$ 1,75 milhão a Valdebran e Gedimar.
Campanha paulista
“A PF não tem dúvidas da participação de Hamilton Lacerda na compra do dossiê. As imagens captadas do hotel Ibis, as contradições em suas declarações e os relatórios do Núcleo de Inteligência Policial sobre a utilização de um telefone em nome de Ana Paula Cardoso Vieira, demonstram claramente que ele foi a pessoa que entregou, em duas ocasiões, o dinheiro para Gedimar Passos”, descreveu Diógenes Curado no relatório remetido à Justiça. Outro fator em desfavor de Mercadante seria a finalidade do dossiê. Embora de potencial duvidoso, o conteúdo prejudicaria mais o governador eleito de São Paulo José Serra (PSDB).
Além dos petistas ligados ao PT paulista, o juiz Jeferson Schneider autorizou a PF a ouvir novamente Osvaldo Bargas, ex-secretário de Relações de Trabalho e escalado pelo deputado Ricardo Berzoini, então presidente nacional do partido, para trabalhar no comitê de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A polícia também interrogará os funcionários da Transbank, transportadora de valores. Os investigadores suspeitam que uma parte dos R$ 1,75 milhão, antes de chegar às mãos de Valdebran e Gedimar, foi transportada pela empresa.
CPI tenta prorrogar trabalhos
Integrantes da CPI dos Sanguessugas correm atrás de assinaturas para prorrogar as atividades por 30 dias. A comissão está prevista para terminar na terceira semana de dezembro, antes do recesso de final de ano. O deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ), sub-relator da CPI, o vice-presidente, deputado Raul Jungmann (PPS-PE) e a senadora Heloísa Helena (PSol-AL) tentarão conquistar a adesão dos colegas. Por se tratar de uma comissão mista, eles precisarão das assinaturas de 198 dos 594 membros do Congresso — no total, são 513 deputados e 81 senadores.
“O mais importante é podermos avançar nas investigações sobre a origem do dinheiro para a compra do dossiê contra os tucanos”, disse Gabeira, sub-relator do escândalo do dossiê. O deputado do PV estudará com outros integrantes da cúpula da CPI como pedirá o indiciamento do grupo de petistas envolvidos no episódio. Para isso, eles trabalham nos próximos dias na montagem de fichas individuais dos suspeitos com todas as informações já reunidas pela comissão.
O parlamentar carioca acredita também que será possível sustentar a tese do crime eleitoral no relatório final. Ou seja, dinheiro de caixa 2 do PT. Resta, porém, chegar a um acordo nos bastidores da comissão sobre qual campanha estaria envolvida: se a do presidente Luiz inácio Lula da Silva ou a do senador Aloizio Mercadante, que disputou o governo de São Paulo.
Conselho de Ética
Enquanto a CPI dos Sanguessugas define seu futuro, o Conselho de Ética da Câmara deverá julgar amanhã o primeiro relatório dos 67 processos por quebra de decoro contra deputados acusados de envolvimento com a máfia das ambulâncias. Será analisado o caso de Celcita Pinheiro (PFL-MT). A relatora Ann Pontes (PMDB-PA) já adiantou que vai sugerir a absolvição da colega. O conselho deve ouvir nesta semana outros dois acusados de ligação com o esquema de corrupção: hoje será a vez de Edir Oliveira (PTB-RS). Na quinta-feira, Ildeu Araújo (PP-SP) prestará depoimento.
Os parlamentares são acusados de apresentar emendas ao Orçamento com o objetivo de beneficiar licitações superfaturadas para compra de ambulâncias por prefeituras. Em troca, teriam recebido da empresa Planam, que coordenava o esquema, uma comissão de 10% sobre o valor de cada emenda. No total, três senadores e 69 deputados foram acusados pela CPI. Serys Slhessarenko (PT-MT), Magno Malta (PL-ES) e Ney Suassuna (PMDB-PB) foram absolvidos pelo Senado semana passada. Na Câmara, além do caso Celcita Pinheiro, os relatores Zenaldo Coutinho (PSDB-PA) e Mussa Demes (PFL-PI) devem sugerir a absolvição de Érico Ribeiro (RS) e Pedro Henry (MT), ambos do PP. (MR)
O número
Processos
67
é o número de deputados que respondem no Conselho de Ética por quebra de decoro parlamentar, suspeitos de envolvimento com a máfia das ambulâncias
O passeio de Freud
Freud Godoy, ex-secretário particular da Presidência da República, foi flagrado ontem caminhando solitariamente no Centro de São Paulo. Ele foi afastado do cargo depois de ter o nome envolvido no escândalo da compra do dossiê contra tucanos. Um dos investigados, o advogado Gedimar Passos, apontou, em depoimento à Polícia Federal, que Freud havia autorizado a compra do material. O ex-assessor especial do presidente Lula nega envolvimento no caso. Gedimar foi ouvido novamente na polícia, mas preferiu ficar em silêncio e se manifestar apenas na Justiça.
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