terça-feira, 26 de dezembro de 2006

PFL à procura de um presidente


Pefelistas não têm nome de consenso para ocupar o cargo mais importante da legenda. Bornhausen trabalha para ser sucedido por Rodrigo Maia, mas continua sendo o preferido de alguns setores


O resultado da eleição de outubro mergulhou alguns partidos em uma crise existencial, especialmente os de oposição, que foram derrotados. Um dos mais castigados pelas urnas, o PFL, passou a discutir novos caminhos logo depois da disputa eleitoral. A mudança passa pela presidência da sigla. O mandato do atual presidente, Jorge Bornhausen (SC), termina em abril. Às vésperas da virada do ano, porém, os pefelistas decidiram adotar uma posição cautelosa sobre o tema e adiar a discussão para março, após a escolha das mesas diretoras da Câmara e do Senado e das lideranças. O partido está dividido sobre o melhor nome para dirigir a legenda. Há o temor de que a disputa se acirre e provoque uma debandada, que enfraqueceria ainda mais a sigla. Já existe até quem defenda a permanência de Bornhausen no posto.

“O meu candidato é Jorge Bornhausen, vou tentar convencê-lo a continuar. O partido está bem servido com ele”, prega o líder da Minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA). A declaração de apoio de Aleluia expõe a insatisfação de alguns grupos com os nomes colocados até agora: o líder na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e o líder no Senado, José Agripino (RN), que tenta viabilizar uma candidatura à presidência do Senado, mas também é lembrado para o comando do PFL. Para Aleluia, porém, não é preciso mudar nomes para que a sigla altere sua rota. “O partido precisa renovar as idéias, não precisa mudar as pessoas”, argumenta.

Kátia Abreu
Os pefelistas perceberam que nem de longe se vislumbra um consenso em torno de Maia, filho do prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, apesar da preferência de Bornhausen por ele. Sinal disso é que um terceiro nome surgiu nos últimos dias: o da deputada Kátia Abreu (PFL-TO). Ela passou a ser considerada em um jantar de confraternização há duas semanas. Kátia Abreu representaria o novo conceito que Bornhausen deseja: é um nome novo, é mulher e ganhou força ao eleger-se para o Senado. Mas ainda não há elementos para garantir que a candidatura dela irá decolar.

Com a divisão, a intenção é tratar, em primeiro lugar, da eleição para a presidência da Câmara e do Senado e da escolha dos novos líderes. A acomodação nesses cargos pode reduzir a tensão sobre a eleição do novo presidente e apontar os grupos mais fortes no interior da legenda. “A presidência do partido não pode atrapalhar nem dividir o partido. Agora vamos tratar só da eleição das mesas e dos líderes”, avisa Rodrigo Maia, que é prudente com a própria candidatura à presidência, apesar de se articular nos bastidores. “Não existe candidatura. Ninguém se candidata a presidente do partido”, justifica.

Arruda
Apesar da derrota acachapante nas urnas — o PFL elegeu apenas o deputado José Roberto Arruda governador do minúsculo Distrito Federal — Bornhausen é hoje o único nome consensual no partido. Ele, porém, diz descartar completamente a possibilidade de ser reconduzido. “Não cogito a idéia. É necessária uma renovação, precisamos ter uma executiva com uma maioria jovem”, justifica, sugerindo sua preferência por Rodrigo Maia, de 36 anos. Para substituí-lo na liderança é cotado outro jovem, o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), de 27 anos.

Ma há quem não leve em conta apenas a juventude como critério para ocupar as lideranças no Congresso. Nomes de todas as idades disputam os cargos. Os deputados Onyx Lorenzoni (PFL-RS) e Ronaldo Caiado (GO) desejam entrar na disputa pelo posto na Câmara. E os senadores Heráclito Fortes (PI) e César Borges (BA) são nomes cotados para ocupar a vaga no Senado.

Bornhausen, porém, insiste que é preciso renovar a legenda. “Fomos de uma geração fundadora, já se passaram quase 22 anos e uma nova geração veio depois”, justifica. O Partido da Frente Liberal foi fundado em 24 de janeiro de 1985, de uma dissidência do PDS, partido que deu sustentação à ditadura militar. José Sarney, hoje senador pelo PMDB do Amapá, ficou insatisfeito com a decisão do PDS de indicar Paulo Maluf (hoje no PP-SP) candidato à Presidência da República, e abriu uma dissidência no partido, ao lado de Marco Maciel (hoje no PFL-PE) e do próprio Bornhausen.

Temer quer continuar

A dificuldade de um consenso em torno de um novo nome pode favorecer também uma recondução no PMDB. O presidente peemedebista, Michel Temer (SP), continua a ser considerado pela bancada do partido na Câmara para permanecer no posto, apesar do desejo do Palácio do Planalto de ter alguém mais governista. Os deputados vêem o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim como um nome lançado pelo Senado, e resistem à sua candidatura à presidência da sigla.

A bancada do PMDB na Câmara avalia que o atual presidente, que é deputado, é um nome que pode defender mais seus interesses do que Jobim. Temer saiu enfraquecido das urnas, pois apoiou explicitamente o candidato tucano à presidência da República, Geraldo Alckmin. Mas nos últimos meses iniciou uma aproximação com o governo e conseguiu conduzir as conversas iniciais do partido com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Jobim
O nome de Temer recuperou espaço interno porque os deputados não engolem a candidatura de Nelson Jobim. Para eles, o nome do ex-ministro do Supremo nasceu de uma articulação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do senador José Sarney (PMDB-AP). A bancada na Câmara acredita que Jobim, na presidência, iria privilegiar os dois nas negociações por postos no governo. Os deputados se queixam de que Renan e Sarney indicaram nomes para a maioria dos cargos do PMDB e que a Câmara foi esquecida.

A avaliação é a de que Jobim só consegue reverter a insatisfação se o Palácio do Planalto trabalhar ostensivamente a seu favor. Caso o governo se mantenha à distância, o ex-ministro terá dificuldades para convencer os deputados. (HB)

Filiação de Quintanilha fortalece Renan

A campanha de Renan Calheiros (PMDB-AL) para reeleição na presidência do Senado ganhou mais uma adesão nos últimos dias. O senador Leomar Quintanilha (TO) se desfiliou do PCdoB e assinou na semana passada sua ficha de entrada no PMDB. Com isso, o PMDB passa a ter 20 senadores na próxima legislatura, consolida a vantagem como partido com a maior bancada na Casa e garante mais um voto para a candidatura de Renan.

A segunda maior bancada é a do PFL, com 17 integrantes. Até o momento, apenas o líder do partido, José Agripino Maia (RN), anunciou sua disposição de enfrentar Renan na disputa pelo comando do Senado. Para tentar impedir o favoritismo do atual presidente, Agripino tem procurado conquistar o apoio justamente dos partidos com menores bancadas, pois o Senado terá, a partir do próximo ano, uma grande pulverização partidária, com 14 legendas representadas.

Agripino confia que sua vitória poderia sair justamente da soma dos votos das bancadas menores com os de PFL e PSDB, que costumam operar em sintonia no Congresso. A mudança de partido de Quintanilha atrapalha esses planos. O PFL pretendia conquistar os dois votos que o PCdoB tinha no Senado, antes dessa desfiliação, justamente porque vai apoiar a candidatura de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) à reeleição para a Presidência da Câmara. Agora, a bancada do PCdoB no Senado se resume ao senador eleito Inácio Arruda (CE).

Trajetória
Na prática, a ida de Quintanilha para o PMDB parece ser mais natural para a trajetória política e profissional. Com a vitória de Marcello Miranda ao governo de Tocantins, Quintanilha foi convidado pelo governador a voltar para o partido. Como o PMDB acertou sua participação efetiva também dentro do governo federal, o senador ficou à vontade para retornar à legenda, já que nunca escondeu sua disposição de apoiar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao mesmo tempo, sua saída do PCdoB também acaba com o desconforto de ele ser grande proprietário rural e filiado a um partido que defende a desconcentração de terra.

Renan também recebeu outras duas boas notícias. A melhor delas foi o início da construção de um possível pacto entre PMDB e PT na Câmara. De acordo com a proposta enviada ao PMDB pela direção petista, os peemedebistas apoiariam agora a eleição de Arlindo Chinaglia (PT-SP. Daqui a dois anos, receberia a reciprocidade para um candidato do partido. Com isso, os 11 votos do PT no Senado fluiriam naturalmente para a candidatura de Renan. Além disso, Renan também teve a boa notícia da filiação do senador Augusto Botelho (RR) ao PT. Com isso, os petistas recuperam a vaga perdida com a eleição de Ana Júlia Carepa (PA) para o governo do Pará e voltam a ter 11 senadores. O suplente de Ana Júlia, José Nery, é filiado ao PSol.

Bancadas

PMDB - 20 senadores
PFL - 17 senadores
PSDB - 13 senadores
PT - 11 senadores
PTB - 4 senadores
PDT - 4 senadores
PSB - 3 senadores
PR - 3 senadores
PPS - 1 senador
PCdoB - 1 senador
PP - 1 senador
PSol - 1 senador
PRB - 1 senador
PRTB - 1 senador

Lula faz consultas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva retorna hoje a Brasília e aproveita o restante da semana para retomar as conversas com os partidos da base aliada em torno da formação da coalizão e do conselho político que dará sustentação ao governo a partir de 2007. Há duas semanas, dez partidos — PT, PMDB, PCdoB, PTB, PR, PP, PRB, PSB, PDT e PV — se reuniram com Lula para definir os rumos da coalizão. Nos próximos dias, os partidos aliados entregarão ao presidente um documento com sugestões para o funcionamento do conselho político, que será o órgão consultivo de Lula no próximo mandato.

O novo ministério somente será definido após as eleições para as presidências da Câmara e do Senado, em fevereiro de 2007, mas Lula continua as conversas com os partidos. Desde a reeleição, o presidente colhe sugestões sobre nomes para integrar o governo e as pastas que os aliados pretendem ocupar no próximo mandato. Hoje à tarde, Lula tem despachos com a assessora especial da Presidência Clara Ant, e com os ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, e da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci.


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