domingo, 26 de outubro de 2008

Deputado confirma episódios e diz que nova testemunha tem isenção política


A história contada à Folha pelo caminhoneiro Jairo Pereira foi confirmada por seu principal personagem, o deputado federal José Genoino. Em entrevista por telefone, o ex-presidente nacional do PT contou que não se lembra mais de nomes, mas que realmente ocorreram episódios contados pelo ex-militar.

Genoino fala que se recorda da viagem de Brasília ao Araguaia, acorrentado na picape escoltada por caminhões e carros do comboio conduzido por militares da unidade do Exército em Ipameri (GO).

"Eu tinha uma relação melhor com os militares de Ipameri. Eles não eram do PIC [Pelotão de Investigações Criminais, cujos oficiais seriam os responsáveis pelas torturas] nem eram pessoal da selva. Ficavam mais na logística da base de Xambioá", rememora o ex-guerrilheiro.

Ele conta ter lembranças ruins do buraco escavado no solo enlameado em que dormia na base militar, sempre amarrado e vigiado por militares que tinham ordem para matá-lo caso tentasse fugir.

"Eu pedia para tirar as algemas, até para poder ir ao banheiro. Às vezes era atendido, mas eles nunca tiravam a corrente. Diziam que teriam que me matar se eu corresse, e que não queriam fazer isso. Nem para ir ao banheiro tiravam. Segundo eles, os comandantes mandariam matá-los se eu escapasse", afirmou Genoino.

De acordo com o ex-prisioneiro, houve ocasião em que, escondidos, os soldados lhe emprestavam revistas populares, para passar o tempo. Dos espancamentos e torturas, o deputado confirma que ocorreram conforme o relato de Pereira, do modo e no local descritos. Disse também que os soldados de Ipameri não participavam das agressões. "Eles me tratavam bem, me levavam comida", comentou.

Genoino saudou o surgimento de uma testemunha do que se passou no Araguaia naquele período. "Uma coisa é o que eu conto, que tem uma dose de política. O oficial do Exército, ao falar, também tem a sua dose de política. Já esse soldado não tem."

O ex-presidente do PT foi o primeiro guerrilheiro a ser preso em uma das investidas militares para combater o movimento no Araguaia, em 1972.

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