domingo, 26 de outubro de 2008

Ex-soldado diz que presenciou tortura contra Genoino


Soldado do Exército que em 1972 participou da repressão à guerrilha do Araguaia, o caminhoneiro Jairo Pereira, 58, contou à Folha ter presenciado torturas praticadas contra o guerrilheiro Geraldo, o hoje deputado federal José Genoino (PT-SP), por militares em Xambioá (TO).

Primeiro guerrilheiro preso no Araguaia, em abril de 1972, Genoino relatou várias vezes ter sido torturado nos meses seguintes à captura. Sua versão já foi contestada por alguns chefes militares da ação antiguerrilha, que o apontam como colaborador. Pereira é o primeiro profissional das Forças Armadas a tornar público ter visto os maus-tratos contra o então prisioneiro.

Aos 22 anos, Pereira trabalhava no quartel do Exército em Ipameri (GO) quando, com 30 colegas, em maio de 1972, foi transferido para o Araguaia. Motorista, ficou responsável por conduzir por cinco dias, até Xambioá, o caminhão que liderava um comboio. Atrás do caminhão, ia uma picape. Dentro dela, algemado e acorrentado, viajava Genoino.

Depois de capturado na mata, o prisioneiro foi enviado a Brasília, para interrogatórios. Acabou identificado como opositor ao regime militar, no período em que liderou o movimento estudantil na Universidade Federal do Ceará. Até então, Genoino negava envolvimento com a guerrilha.

Os militares decidiram, em maio, levá-lo de volta ao Araguaia, a fim de forçá-lo a indicar esconderijos dos companheiros de PC do B.

"Genoino era muito tranqüilo na viagem, sempre vestido de calção e camiseta. Ele dormia algemado na carroceria do caminhão, com um guarda vigiando", lembrou Pereira.
A situação do prisioneiro mudou quando da chegada do comboio a Xambioá, uma das bases militares de combate à guerrilha do Araguaia.

"Vi ele apanhando muitas vezes, levando choques elétricos. Pegavam ele algemado, com capuz na cabeça, levavam até o fim da pista [de pouso] e batiam nele", disse o ex-militar, que entrou no Exército em 1969 e saiu cinco anos depois.

Apanhava para falar

Pereira não identifica os agressores. Só diz que eram os "graduados" -oficiais da base e do PIC (Pelotão de Investigações Criminais) de Brasília, enviados para o Araguaia. Afirma que nunca soube os nomes, pois os encarregados da tortura não vestiam farda.

"Genoino conversava normalmente com a gente [os soldados], não mostrava resistência. Apanhava para falar. Metiam o pau no cara", contou o caminhoneiro. Na base, o preso passou a dormir, acorrentado e algemado, dentro de um buraco cavado na terra. De vez em quando, relembra o ex-soldado, o prisioneiro era levado para sobrevôos de helicóptero e avião. Na volta, ocorriam novas sessões de torturas, com choques elétricos aplicados por uma maquineta que os militares chamavam de "magnésio".

"Genoino pulava, gritava, chorava muito. A gente sentia que ele estava machucado. Eu saía de perto. Depois, ele ficava triste, calado."

Pereira disse ter vontade de reencontrar Genoino. Acha que o deputado o reconheceria. "Tivemos muito contato. Ele era muito inteligente, falava da faculdade. Ele pedia revistas para passar o tempo, era muito pacífico, parecia arrependido de tudo, não era agressivo. Eu tinha muita dó dele." O ex-militar lembra, ainda, que o prisioneiro costumava ser levado para a floresta. "Ele ia no mato, voltava, estava todo chupado de mosquito. Genoino passou maus momentos."

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