sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Índia se desculpa por acusar Brasil


Após afirmar em carta à OMC que País ‘vendeu’ sua posição em Doha, ministro indiano tenta desfazer mal-estar

Como gesto para desanuviar as relações entre o Brasil e a Índia, o ministro indiano de Comércio, Kamal Nath, desculpou-se ontem com o chanceler Celso Amorim pelas menções que fez ao Brasil em carta enviada no último dia 17 ao diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy. Na carta, Nath havia acusado o Brasil de barganhar sua posição nas negociações agrícolas da Rodada Doha em troca do acesso do etanol brasileiro aos mercados dos Estados Unidos e da Europa.

Ontem, por telefone, o ministro indiano adotou um discurso afinado com as propostas de seu interlocutor ao defender o reforço do G-20, o grupo de economias em desenvolvimento que negocia em conjunto o capítulo agrícola da Rodada e que é liderado justamente pelo Brasil e pela Índia. Também propôs um encontro bilateral no próximo dia 14, em Nova Délhi.

Amorim relatou ontem a colaboradores que Nath afirmou que não tinha interesse de acusar o Brasil na carta e que apenas teria mencionado ligeiramente o País no seu texto de três páginas. Como freqüentemente ocorre em casos como esse, seja no Brasil ou na Índia, o ministro indiano preferiu culpar a imprensa por ter pinçado a menção e a interpretado como uma acusação. Na carta, entretanto, Nath insinuou que o Brasil havia abandonado o interesse dos seus aliados emergentes para negociar uma cota mais ampla para o etanol nos Estados Unidos e na Europa.

“O tema (das cotas agrícolas mais amplas para novos produtos sensíveis dos países desenvolvidos) continua sem conclusão, com o Brasil dando sinais de que poderia analisar a proposta se lhe fossem dadas cotas substanciais para o etanol nos EUA e Europa”, afirmou Nath no texto, para surpresa dos principais negociadores brasileiros. “Não barganhamos nada. A criação de cotas nem sequer é a saída preferida para nós”, rebateu o embaixador Roberto Azevêdo, chefe da missão do Brasil na OMC, no último dia 26, dia em que a notícia sobre a carta foi publicada pelo Estado.

FRIEZA

Ontem, ao conversar com Nath, Amorim preferiu dar o assunto por encerrado. Com a frieza necessária para não atrapalhar ainda mais a incerta Rodada Doha e a expectativa de que sejam fechados em Genebra os acertos essenciais para a convocação de uma reunião ministerial da OMC, o chanceler aceitou os argumentos do indiano. Essa reunião da OMC somente será organizada por Lamy se houver chance real de conclusão dos acordos agrícola e industrial.

Em uma indicação de que os principais parceiros da OMC não querem deixar a Rodada morrer, vem sendo considerada a hipótese de que essa reunião ministerial possa ser agendada para depois das eleições presidenciais nos EUA, em 5 de novembro. A aposta desses sócios está na probabilidade alta de o novo presidente americano, seja o democrata Barack Obama ou republicano John MacCain, aceitar o pacote da Rodada para não enfrentar o desgaste político de contrapor-se a uma vontade mundial.

Esse cenário fará parte das análises que Nath e Amorim farão no encontro do dia 14, que ocorrerá em paralelo à reunião de cúpula do Fórum Índia-Brasil-África do Sul (Ibas).

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