sexta-feira, 24 de abril de 2009

Deputado admite que sua cota de viagem alimentou mercado paralelo de passagens


No escândalo das farras das passagens da Câmara, em pelo menos um caso um deputado admitiu que vendeu sua cota para cobrir dívidas com uma operadora de turismo, revelando um mercado paralelo de comercialização de bilhetes.


Aníbal Gomes (PMDB-CE) disse que liberou a venda de sua cota para cobrir dívidas com uma operadora que pertence ao irmão de sua assessora.


Eles afirmam, porém, que não lucraram com essa operação.


A revenda da cota é ilegal. O Ministério Público suspeita que os bilhetes podem ser revendidos a preço cheio ou até com descontos para clientes que sabem do esquema. Segundo o MP, as cotas são revendidas ilegalmente a agentes de turismo, com deságio de até 25%. O dinheiro obtido, fruto de uma espécie de “lavagem de passagens”, seria então repartido.


Pelo menos outros três deputados — Zé Geraldo (PT-PA), Armando Abílio (PTB-PB) e Raymundo Veloso (PMDB-BA) — também estão em situação semelhante à de Aníbal, mas há dois dias se recusam a dar explicações.


O que eles têm em comum é a presença de um membro da família Zoghbi em suas listas de passageiros.


João Carlos Zoghbi, ex-diretor do Senado, foi afastado do cargo por conceder indevidamente um apartamento funcional a um de seus filhos, Ricardo Zoghbi.


Dono de operadora diz não ter lucrado com operação com cotas Ricardo emitiu um bilhete para Paris em fevereiro de 2007 na Infinity Turismo, na cota de Aníbal Gomes. A empresa pertence a Márcio Bessa, irmão de Ana Bessa, assessora de Aníbal e responsável por administrar a cota aérea do parlamentar.


— O deputado sempre emitiu comigo.


Quando a cota estourava, eu antecipava as passagens, e ele ficava devendo. Aí, minha irmã entrou no meio e disse: “Você tem passagem para emitir? Então me passa a lista com os nomes”. Daí, ela emitia os RPAs (requisições de passagens aéreas) no nome dos meus clientes — contou Márcio ao GLOBO.


Márcio afirmou, no entanto, que não lucrou com essa operação, além de sua comissão de 10% com a empresa aérea. Ele disse que Ricardo Zoghbi é seu cliente: — Para o cliente não aparece que passagem é vinculada a uma cota.


Gomes admitiu que há um “erro” na operação e disse que vai fazer um levantamento sobre os 24 trechos internacionais de sua cota revendidos sob o comando de Ana e Márcio Bessa: — Isso não foi feito com minha autorização. Estou pedindo para a agência e o gabinete explicarem. No final do ano faltou passagem, e parece que minha secretária tirou bilhetes, mas depois repôs. Mas é totalmente errado. Reconheço isso.


João Carlos Zoghbi e sua mulher, Denise, viajaram para Madri nas cotas dos deputados Zé Geraldo e Raymundo Veloso, com passagens emitidas em março de 2008. No gabinete do petista, que alega não saber, o responsável por emissões de passagens é Mauri Fiúza, que há dois dias não retorna telefonemas. Zé Geraldo tem dez trechos internacionais para terceiros em sua cota. Raymundo Veloso também não respondeu aos recados.

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