quinta-feira, 10 de setembro de 2009

IBGE deve confirmar fim da recessão


O país atravessa um momento extremamente favorável e, no entanto, o noticiário está coberto de tensão, como se ainda estivessem por ai, provocando danos, as sequelas da crise econômica. A recessão já se foi, como se constatará na sexta-feira com o anúncio do IBGE do desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no 2º trimestre.

A expectativa é que o PIB tenha crescido entre 1,6% e 2,2% sobre o 1º trimestre, invertendo a sequência de quedas nos dois períodos anteriores. O PIB recuou 0,8%, no 1º trimestre, e 3,6%, no 4º de 2008. Tais variações talvez sejam revisadas para menos, conforme a previsão da área econômica do Bradesco, confirmando que a pancada foi menor, em média, do que a originalmente estimada.

A marca da recessão vai aparecer na comparação interanual, com as previsões variando de queda entre 1,4% e 0,4% sobre o 2º trimestre de 2008. Mas esse desempenho será só lembrança de uma ameaça muito ruim trazida pela crise do crédito germinada nos EUA, desde meados de 2007, esparramada a partir de setembro passado em escala global e que aqui, graças à solidez das contas externas e do controle com rédeas curtas do sistema financeiro, chegou com muito menos força.

Não foi a marolinha que o presidente Lula anunciou quando o tempo começou a fechar em toda parte. A crise externa o surpreendeu como ao conjunto dos ministros, empresários, economistas. Poucos viram, no mundo, o tamanho do estrago o dia em que parasse o carrossel de uma economia movida a crédito turbinado por dívida financeira.

As economias emergentes, menos endividadas, porém, não sentiram tanto quanto EUA, Europa e Japão as dores da crise. Nesse sentido, Lula acertou. E foi temerário ao abrir a guarda e manter aumentos de gastos públicos que já estavam programados, agora justificados como ações anticíclicas, plantando problemas fiscais para 2011.

O que se pode prever para frente, confirmados os melhores números do PIB pelo IBGE, é uma revoada de revisões sobre a variação anual do desempenho da economia, hoje, na média das projeções segundo o boletim Focus do Banco Central, apontando para retração de 0,16%. A possibilidade de um crescimento modesto sobre 2008 é boa aposta.

Juros sinalizam 2011

Isso pode não fazer muita diferença. Mas importa para Lula. Ele não quer a mácula da recessão, que não aconteceu nem nos piores anos de FHC, exibida na campanha de 2010. Ao BC também importa o ritmo de saída da crise. É o termômetro para a marcação futura da Selic, que parou em 8,75% ao ano e segue o batimento da inflação.

É a sua intensidade o que perscruta o modelo de antecipação de cenários do BC. Muita gente no mercado acredita que a Selic subirá antes das eleições de outubro de 2010. Por isso, os juros futuros começam a inflar para 2011, quando, provavelmente, na Presidência, seja quem for, estará um político refratário a arrocho monetário.

Economia sem refresco

A economia é dinâmica e nunca dá refresco. Sai-se de uma crise já com o pessoal falando na seguinte. É que isso costuma ser rentável no mercado financeiro, ainda que imaginar o BC aumentando juros já em 2010 não seja bem sinal de crise. Mas provoca desconforto.

Para os financistas, “risco” passará a ser o que as pesquisas vão presumir como sucessor provável de Lula entre presidenciáveis como Dilma Rousseff, José Serra, Ciro Gomes, todos desenvolvimentistas convictos e críticos habituais da prudência do Banco Central.

Privado perde espaço

Talvez tenha serventia aos observadores considerar que a economia não esteja apenas saindo de uma crise importada, mas evoluindo de um ciclo de ajuste macroeconômico, que vem desde o governo FHC, em especial depois da maxidesvalorização do real em 1999, para outro de crescimento forte, embora ainda sem um projeto definido.

O pré-sal é promessa retardatária neste processo, que vinha sob a batuta destacada do investimento privado até a degringolada devido à crise global, com as obras de infraestrutura do PAC no papel de coadjuvantes. Nos últimos meses houve uma inversão: o investimento privado refluiu e o público cresceu. Aumentou também o dirigismo oficial manifestado em várias formas, umas aparentemente benignas, como a expansão do crédito estatal, outras olhadas por empresários com desconfiança, como decisões de agências e órgãos de controle.

Os sinais são de atitudes do governo menos favoráveis ao mercado, o que não significa uma tendência, até porque a atenção a grandes grupos continua intacta. Mas algo mudou, e começa a inquietar.

Quadro de bom tamanho

Tudo está inter-relacionado, como o viés estatizante do novo modelo de exploração de petróleo e também o acordo militar assinado com o governo francês. É exagero inferir uma política nacional-desenvolvimentista a partir dessas decisões, já que defensáveis, apesar da opacidade que as reveste. Não se diz o mesmo da intenção de aumentar o estoque de terras confiscáveis a partir da revisão dos índices de produtividade rural. Ou do risco de recidiva da carga tributária com novos tributos, acompanhando o descompasso do crescimento da despesa em relação à receita. Para a véspera de campanha eleitoral, esse quadro já é de bom tamanho.

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