quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Quem vaiou Cabral?

Sob vaias, em uma solenidade de entrega de diplomas de qualificação profissional para beneficiários do Bolsa-Família no Maracanãzinho, o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), foi ontem de novo defendido publicamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas acabou desistindo de discursar. Os apupos foram comandados por estudantes filiados à União Nacional dos Estudantes (UNE), mas tiveram a adesão de parte expressiva da plateia, incluindo moradores de Nova Iguaçu, cujo prefeito, Lindberg Farias (PT), que estava no palco, quer disputar o governo contra Cabral em 2010.

Na chegada, o prefeito petista e o governador se cumprimentaram com frieza. Depois da cerimônia, de expressão fechada, Lindberg se retirou apressadamente, sem falar com Lula, e declarou que não comparecerá mais a reuniões com o presidente e o governador juntos. "Não vou mais a nenhum evento do Lula no qual o Cabral esteja. Toda vez em que ele é vaiado, coloca a culpa em mim", declarou o prefeito.

"Não é politicamente nem socialmente correto, por divergências políticas, vir vaiar alguém numa solenidade como essa", afirmou o presidente, em discurso de improviso que chamou de "conversa muito franca" e foi interpretado por alguns como uma bronca pública no prefeito. "Daqui a pouco o que a gente vê no jornal é que alguém foi vaiado."

Lula ressaltou a parceria do governo com Cabral, um de seus mais próximos aliados, apesar das recentes divergências por causa das regras para exploração do petróleo na camada do pré-sal. "Nunca o governo encontrou um governador capaz de fazer a parceria que estamos fazendo no Rio", elogiou o presidente.

Foi a segunda vez em duas semanas em que Lula presenciou vaias a Cabral em solenidade com a presença de Lindberg. A primeira, durante inauguração de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em Nova Iguaçu, ele também ficou ao lado de Cabral, a quem elogiou pela "lealdade". Na ocasião, o prefeito também foi acusado de responsabilidade.

"Se fosse para mim, podiam vaiar à vontade", disse o presidente. "A vaia faz parte da democracia e eu não me incomodo, mas é preciso compreender o que é este momento para as pessoas mais humildes deste País", insistiu.

COBRANÇA

Um assessor da Presidência chegou a subir à arquibancada onde se concentravam os manifestantes da UNE e pediu que suspendessem as vaias.

"Não tem como controlar, não é uma iniciativa só nossa. A situação no Rio está crítica com relação à educação pública", disse o diretor nacional de direitos humanos da UNE, Rodrigo Mondego, de 24 anos, aluno de serviço social e de direito no Rio. Filiado ao PT, Mondego garantiu não ter ligação com Lindberg. "Não sou do grupo dele e nunca conversei com o Lindberg na vida", afirmou.

Cabral, contrariado, comentou as vaias com o presidente Lula e chegou a citar Nova Iguaçu. Em determinado momento, olhou para trás, apontou para Lindberg na frente de todos no palco e disse: "Eles vão ficar roucos iguais a você." O prefeito se recupera de uma cirurgia nas cordas vocais.

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