sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Chinaglia eleito graças à oposição


PLACAR
Arlindo Chinaglia 261 X Aldo Rebelo 243

O deputado Arlindo Chinaglia(PT-SP) foi eleito ontem presidente da Câmara com a ajuda de parlamentares dissidentes de dois partidos da oposição: o PSDB e o PPS. O resultado só saiu depois de dois turnos de votação, quando o petista terminou conquistando 261 votos contra 243 do ex-presidente Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que disputava a reeleição. O apoio de parte da bancada tucana só foi possível porque o bloco parlamentar liderado pelo PT e PMDB abriram mão de indicar o cargo de primeiro vice-presidente na Mesa Diretora e ajudaram a eleger para o posto o tucano Nárcio Rodrigues (PSDB-MG). No segundo turno, Chinaglia recebeu o apoio do ex-líder do PSDB Jutahy Magalhães(BA).

“Ajudei mesmo. Cumpri o acordo de escolher o novo presidente respeitando o critério da proporcionalidade do tamanho das bancadas. Eu pessoalmente votei no Chinaglia”, disse Jutahy. Há três semanas, antes do lançamento do nome de Gustavo Fruet (PSDB-PR) como candidato da terceira via e apoiado pelo PSDB, Jutahy tinha anunciado formalmente o apoio da bancada ao petista. A adesão gerou uma crise no partido que resolveu ter candidato próprio.

Os tucanos Renato Amary (SP) e Eduardo Gomes (TO) ajudaram Jutahy a garantir pelo menos 25 votos que migraram da candidatura Fruet para Chinaglia no segundo turno. Na fila de votação, Gomes prometeu ao deputado Cândido Vacarezza(PT-SP) que o candidato petista iria ter 30 votos da bancada do PSDB. “Agora, tem que correr atrás dos deputados do PP”, disse Gomes referindo-se aos dissidentes do PP que estavam dispostos a votar em Aldo Rebelo. Os apoiadores do comunista reclamaram que o ministro das Cidades, Márcio Fortes, que é do PP, entrou na campanha e, pelo telefone, passou a pressionar deputados do partido a votarem em Chinaglia.

No meio da tarde, Aldo telefonou para o ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro, reclamando da presença do assessor parlamentar do Planalto, Marcos Lima, que estava no gabinete de Chinaglia. Tarso tentou explicar informando que Marcos vai todos os dias à Câmara e despacha no gabinete do líder do governo, seu local de trabalho. Aldo não se conformou com a desculpa. Disse ao ministro que o assessor estava negociando a liberação de emendas de deputados ao Orçamento em troca de apoio ao petista. Tarso preferiu chamar o assessor de volta ao Palácio.

Um outro acordo fechado entre o governador Jaques Wagner (PT) e Jutahy Magalhães Junior ajudou a aumentar a dissidência entre os tucanos. Com a ajuda dos petistas na Assembléia baiana, deve ser eleito hoje presidente o deputado Marcelo Nilo, mesmo com uma bancada minúscula com apenas dois deputados. Os votos no PSDB também foram conseguidos depois que o PT ameaçou obstruir a aprovação da lei orçamentária do estado de São Paulo, fundamental para o começo azeitado da gestão do tucano José Serra.

FHC
Entre o primeiro e o segundo turnos, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, telefonou para alguns deputados do PSDB tentando influenciar a bancada a fechar questão em bloco a favor de Aldo Rebelo. Mas não conseguiu. FHC passou a ligar para deputados do PMDB com quem tem boas relações. Um deles, Ricardo Barros (PMDB-SP), recebeu o apelo do ex-presidente. Mas como um dos coordenadores da candidatura Chinaglia, deu uma desculpa ao ex-presidente.

A promessa dos petistas e do PMDB de permitir aos tucanos a escolha da presidência e relatoria de uma importante comissão permanente também ajudou a rachar o PSDB, desconsiderando a formação do superbloco formado por 273 deputados de oito partidos — PMDB, PT, PP, PR, PTB, PSC, PTC e PT do B. “O que viabilizou minha candidatura e hoje minha eleição foi a articulação política, a determinação dos que me apoiavam e muito trabalho até o último minuto”, disse Chinaglia depois que assumiu o cargo.

Na votação de primeiro turno, Chinaglia teve apenas 236 votos, insuficientes para ganhar a disputa na primeira rodada, quando Aldo teve 175 eleitores. Segundo Vacarezza, o petista obteve 25 votos a menos do que tinha contabilizado horas antes da votação. Durante a comemoração da vitória petista, Professor Luizinho, envolvido no escândalo do mensalão e que não foi reeleito, festejou com um beijo na face de Chinaglia dentro do plenário da Casa.

Na primeira entrevista como presidente da Casa, o petista disse que “o PT tem de reconhecer seus erros. Houve rros de alguns do PT. Mas isso é coisa do passado. Vamos recuperar o prestígio do PT.”

Reforma ministerial em pauta

Superada a escolha dos novos presidentes da Câmara e do Senado, o governo promete dar o pontapé inicial no segundo mandato com a formação do novo ministério. A seleção tem data para começar, e será na próxima segunda-feira, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne com os partidos aliados. Segundo o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, o fundamental será o compromisso desses aliados com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

“O presidente vai começar a conversar com os partidos para montar o governo e fazer as modificações que ele pretende, para que nós tenhamos não só uma base política forte no Congresso, como nós temos; mas também um ministério de alta qualidade e comprometido com o PAC. A informação que o presidente me deu hoje é que ele começa, a partir de segunda-feira, a ouvir os partidos”, afirmou Genro.

Apesar do desgaste da eleição de Arlindo Chinaglia (PT-SP), ele acredita que a base parlamentar do governo será mais forte do que no primeiro mandato. “A base está fortalecida, mas isso não dá nenhum direito à esmagamento da oposição. Nem o governo pretende isso, nem a base deve se comportar assim.”

“O que nós estamos apostando é que a coalizão dure, que ela seja o lastro das votações, mas isso não quer dizer que vai ser sempre 100%, porque tem temas que dentro da própria coalizão pode ocorrer divergências. O que nós queremos é que naqueles temas fundamentais que o governo propuser, a coalizão esteja unida para nos dar maioria”, afirmou.

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