Servidor assalariado dos contribuintes do município de São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab (PFL) perdeu o equilíbrio ao ser criticado por um deles. Descontrolado, Kassab agrediu o desempregado Kaiser Paiva Celestino da Silva durante inauguração de um ambulatório em Pirituba, Zona Norte de São Paulo.
Paiva e o filho de sete anos aguardavam atendimento dentário na clínica quando perceberam a presença do prefeito. O homem aproveitou para protestar contra a demora. Deu como exemplo o tratamento "desumano" dispensado a um idoso.
Para surpresa do manifestante e das pessoas que acompanhavam a visita do prefeito, Kassab teve uma crise histérica. Agrediu Paiva com empurrões e o expulsou aos gritos:
- Sai daqui! Estamos em um hospital, respeite os doentes. Vagabundo! - esbravejou.
Humilhado e chorando, Paiva deixou o o ambulatório. Fez questão de dizer que não agiu com nenhuma motivação política. Contou que foi até lá para entregar um exame e marcar uma consulta odontológica. A assessoria da prefeitura, no entanto, insiste em dizer que Paiva foi à clínica para protestar contra a Lei Cidade Limpa, que reduziu o número de placas publicitárias na cidade. O desempregado tem uma oficina de confecção de faixas, mas contou que não foi ao hospital para reclamar disso.
- Foi uma coincidência encontrar o prefeito - disse.
As atendentes confirmam que Paiva é paciente da clínica. O filho também faz tratamento dentário lá.
Depois do incidente, o homem reclamou da lei que prejudicou o negócio:
- Não entra mais dinheiro. Estou falido. Estou há três meses com aluguel atrasado.
Depois da agressão, Kassab ainda insinuou a possibilidade de processar o manifestante. A assessoria do município também chegou a divulgar nota com a informação de que a "prefeitura decidiu denunciar Paiva por fazer manifestação em lugar impróprio". O prefeito pefelista disse que não se arrependeu de expulsar o manifestante e negou que os empurrões e os xingamentos fossem uma agressão.
- Ninguém foi agredido - insistiu o prefeito. - Todos sabem do espírito democrático dessa gestão. Mas estávamos em um hospital. Vou expulsar quantas vezes precisar.
Presidente da Academia Brasileira de Direito Criminal, o advogado Romualdo Sanches Calvo Filho define o episódio como uma injúria qualificada, pelo fato de a imprensa ter registrado e transmitido a agressão verbal do prefeito, considerada "gravíssima".
- É uma ofensa à honra do cidadão, um crime de injúria. Mesmo que a manifestação tenha sido feita dentro de um hospital, não justifica. O cidadão tem o direito de processá-lo e, como o prefeito é um funcionário público, o Ministério Público pode até assumir o foro - explicou Sanches.