quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Serra compra de novo avião que governo paulista vendera em 2006


O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), readquiriu o avião que havia sido vendido pelo estado ano passado. A notícia da recompra do avião acirrou a tensão entre os grupos de Serra e de seu antecessor, Geraldo Alckmin, do PSDB. O avião, pertencente à Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (Ceteep), havia sido vendido junto com a empresa, em junho de 2006, já na gestão de Cláudio Lembo (PFL), que sucedeu Alckmin após o tucano se afastar do cargo para disputar a Presidência da República.

Nos debates com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a campanha, Alckmin disse que, se eleito, também venderia o AeroLula, que ele classificava como símbolo do desperdício do dinheiro público.

Em novembro passado, durante a transição, a pedido de Serra, o estado recomprou a aeronave por meio da Companhia de Energia Elétrica de São Paulo (CESP). Serra está usando o avião desde que assumiu o cargo, em janeiro.

- O Serra me perguntou, como se fizesse uma censura educada, se o governo tinha vendido o avião. Eu disse que sim e ele falou que o governo precisa de um avião - disse Lembo.

Lembro voltou a ser procurado pelo então secretário de Energia, Mauro Arce, hoje titular da Secretaria dos Transportes:

- O Arce me disse que tinha um meio de recuperar o avião e eu respondi que tudo bem, desde que não envolvesse dinheiro do estado.

O avião foi então incluído na compra pela Ceteep da linha Usina de Porto Primavera/Usina Taquaruçu, da Cesp. A linha custava R$100 milhões e foi vendida por R$92 milhões mais o avião. Segundo a Secretaria dos Transportes, o preço é praticamente o mesmo da primeira venda: US$4 milhões.

- Pessoalmente, sou contra o governo ter um avião. A manutenção é muito cara e fica mais em conta locar uma aeronave quando necessário - disse Lembo.

O avião modelo HC foi comprado em 1985, pelo então governador Franco Montoro. Serra, como secretário do Planejamento de Montoro, participou da compra. Em 1998, já no Ministério da Saúde, ele foi denunciado ao Tribunal Regional Eleitoral por usar outro avião da Cesp para ir a um evento do PSDB no interior do estado.

O episódio foi visto entre os aliados de Alckmin como mais uma "canelada" de Serra. Outro motivo de atrito é o anúncio de uma série de cortes de funcionários que deverá atingir afilhados políticos de parlamentares ligados a Alckmin. Até março, Serra vai fechar onze escritórios regionais da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) e oito diretorias regionais de Saúde, além de ter extinto a Secretaria de Turismo.

- A gente espera a recomposição dessas perdas. Poderia ter havido um diálogo melhor. Agora, isso não vai causar problemas, vamos dar tempo ao tempo - disse o deputado estadual Orlando Morando (PSDB), um dos atingidos pelos cortes.

Para tucanos, Serra estaria tentando irritar Alckmin

O deputado federal Duarte Nogueira, ex-secretário de Agricultura de Alckmin, que também teve afilhados demitidos, defende o direito de Serra fazer as mudanças que achar necessárias, mas concorda que as medidas podem ser interpretadas como críticas à gestão anterior:

- Não há tempo para ficar tateando em decisões que devem ser tomadas nas primeiras semanas de governo. Só não entendo por que ninguém fala do Lembo e só falam do Alckmin.

Em conversas reservadas, líderes tucanos interpretam as ações de Serra como uma tentativa de agastar Alckmin e pavimentar o caminho rumo ao Palácio do Planalto, em 2010.

Alckmin está em Boston, nos EUA, e não foi localizado. Procurados, Serra e o chefe da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira, não se pronunciaram.

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