sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

OITO ANOS DE MANDATO, E UMA VIDA DE MAMATA

Início de legislatura, começa o vaivém de aposentados na Câmara, com os privilégios de sempre. Enquanto um grupo veste o pijama, pelas generosas regras do extinto Instituto de Previdência dos Congressistas (IPC), outro suspende temporariamente a condição de aposentado para voltar a receber o salário de deputado. Alguns desse grupo não deixam de receber aposentadorias por outros órgãos, ficando com vencimentos acima do teto constitucional de R$ 24,5 mil. Um terceiro grupo adere ao Plano de Seguridade Social dos Congressistas (PSSC), com filiação retroativa a fevereiro de 1999.

Pelo menos 12 deputados suspenderam as aposentadorias que recebiam pelo IPC. Isso acontece quando eles voltam ao mandato. Mais tarde, quando encerram o novo mandato, readquirem o direito de recebr a aposentadoria especial. O instituto foi extinto em 1999, mas quem estava no mandato naquele ano adquiriu o direito de se aposentar pelas antigas regras. Entre os privilégios estava o direito a parar de trabalhar a partir de oito anos de contribuição, com pelo menos 50 anos de idade.

O deputado Humberto Souto (PPS-MG), ex-líder do governo Collor, renunciou ao mandato em agosto de 1995 para assumir o cargo de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Com 20 anos de contribuição ao IPC, passou a receber uma aposentadoria de aproximadamente R$ 8,5 mil, além do salário de R$ 23,27 mil como ministro. Um total de R$ 31,77 mil — acima do teto constitucional. Em 2002, obteve uma nova aposentadoria, dessa vez pelo TCU, com vencimentos integrais. Manteve os seus rendimentos, portanto. Agora, reeleito deputado, suspendeu a aposentadoria pelo IPC, manteve a do TCU e passou a receber o salário de R$ 12,84 mil. Com isso, seus rendimentos somam R$ 36,12 mil — R$ 11,6 mil acima do teto constitucional.

“Escândalo grande”
O deputado Augusto Carvalho (PPS-DF) deixou a Câmara em 1999, com 12 anos de mandato. Como não tinha 50 anos, ficou sem aposentadoria naquele momento. Restou-lhe o salário do Banco do Brasil, onde é funcionário de carreira. Em 2002, foi eleito deputado distrital, com salário de R$ 9 mil. Há três anos, ainda deputado distrital, completou 50 anos e requereu a sua aposentadoria pela Câmara Federal, no valor de R$ 5,1 mil. Ficou com rendimentos de R$ 14,1 mil — abaixo do teto do servidor público. Ele tinha duas alternativas quando deixou a Câmara dos Deputados: receber as contribuições feitas ao IPC de volta ou optar pela aposentadoria. Ficou com a segunda opção, mas reconhece que esse “era um dos privilégios dos parlamentares”. “O escândalo era tão grande que o instituto foi extinto”, acrescentou.

Outro benefício concedido aos deputados é a averbação do tempo de outros mandatos para ampliar o período de contribuição ao IPC. O deputado Jerônimo Reis (PFL-SE) usou esse artifício para completar o tempo mínimo de oito anos de contribuição. Ele foi deputado federal de 1991 a 1996, quando assumiu a prefeitura de Lagarto (SE). No dia 12 deste mês, foi aprovada pela Câmara a averbação dos cinco anos e quatro meses em que exerceu o cargo de prefeito. Para isso, pagou R$ 178 mil em cota única. Como foi reeleito deputado, a sua aposentadoria foi suspensa. Mas ele não se esqueceu de ingressar no PSSC.

Pelo menos três deputados, Eduardo Sciarra (PFL-PR), Devanir Ribeiro (PT-SP) e José Mentor (PT-SP), e um ex-deputado, Amauri Gasques (PR-SP), foram incluídos no PSSC com efeitos retroativos a fevereiro de 2003. Mais dois deputados, Milton Monti (PR-SP) e Silas Câmara (PAN-AM), conseguiram a inscrição com efeito retroativo a fevereiro de 1999. Uma decisão tomada pela Câmara em 2005 previa o ingresso no PSSC somente até o final do último mandato. Mas um requerimento apresentado pelo deputado Gonzaga Patriota (PSB-PE) e autorizado pelo ex-presidente Aldo Rebelo (PCdoB-SP) permitiu a inscrição no plano até 2011.

Rombo
Nove anos após a sua extinção, o IPC já consumiu R$ 589 milhões (em valores atualizados) dos cofres do Tesouro Nacional. Há uma redução gradual de gastos, mas as despesas voltam a aumentar a cada quatro anos, quando sai uma nova fornada de aposentados e quando o salário dos parlamentares é reajustado. Em valores corrigidos, os gastos caíram de R$ 85,6 milhões em 1999 para R$ 67 milhões em 2002. Em 2003, voltaram para a casa dos R$ 81,5 milhões. Para este ano, o Orçamento da União prevê despesas de R$ 73 milhões com as aposentadorias do IPC.

Um estudo feito pela Secretaria de Previdência Complementar do Ministério da Previdência no momento da extinção do IPC mostrou um rombo de R$ 520 milhões no instituto.

Uma fila que anda

A sangria dos recursos públicos com as aposentadorias do IPC deverá continuar pesada pelo menos até 2010. Um grupo de 89 deputados e seis senadores tem assegurada a aposentadoria pelo IPC ao deixar o mandato. Em fevereiro deste ano, 40 deputados e um senador adquiriram o direito de usufruir imediatamente do benefício. Mais sete deputados poderão vestir o pijama precocemente assim que completarem 50 anos. Até ontem, a Câmara havia aprovado a aposentadoria de 13 deputados.

A maior renda foi assegurada ao ex-líder do PP, o mensaleiro José Janene (PR). Na luta para escapar do processo de cassação, ele conseguiu seguidos atestados médicos. Agora, aposentou-se por invalidez, devido a problemas cardíacos, diagnosticados por uma junta médica. Pelas regras do IPC, ganhou aposentadoria integral. Com 27 anos de contribuição, Iberê Ferreira (PSB-RN), aposentou-se com salário de R$ 11 mil.

Alberto Goldman (SP), ex-líder do PSDB na Câmara, foi eleito vice-governador de São Paulo. Levou uma aposentadoria de R$ 7,3 mil. O usineiro João Hermann Neto (PDT-SP) conseguiu uma pensão um pouco menor: R$ 7,1 mil. Pelo menos dois deputados aposentaram-se com o tempo mínimo possível de contribuição: oito anos. Os ex-deputados Chico Vigilante (PT-DF) e Alceste Almeida (PTB-RR), passam a ter uma aposentadoria de R$ 3,3 mil.

Em 2003, 36 deputados e 10 senadores ingressaram no quadro de pensionistas do instituto. Seis senadores têm assegurado o direito à aposentadoria pelo IPC. Roberto Saturnino (PT-RJ) já pode receber o benefício, porque não foi reeleito senador. Ele exerceu 20 anos de mandato, 12 como deputado e oito como senador. A pensão será proporcional ao tempo de serviço, calculada sobre o salário de R$ 12,7 mil. Os senadores Alberto Silva (PMDB-PI), Álvaro Dias (PSDB-PR), José Sarney (PMDB-AP), Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) e Pedro Simon (PMDB-RS) também terão direito a pensão pelas normas do instituto.

Reeleito senador, Eduardo Suplicy (PT-SP) deverá completar o tempo necessário para a gozar da aposentadoria integral (mínimo de 35 anos). Ele já completou 28 anos de mandato, sendo 16 como senador. Mas o senador petista optou por contribuir para o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), abrindo mão dos privilégios do IPC.

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