A Polícia Federal tenta identificar quem é a mulher que, no início deste mês, usou o telefone instalado no gabinete do deputado federal Talmir Rodrigues (PV-SP), na Câmara dos Deputados, em Brasília, para falar com Elmo Cerqueira dos Santos, o Elemento, acusado de integrar o PCC (Primeiro Comando da Capital) e que está na Penitenciária de Valparaíso (577 km de São Paulo).
A informação sobre o contato telefônico foi obtida a partir de investigação sobre tráfico de drogas desenvolvida pelo Gaerco (Grupo de Atuação Especial Regional de Repressão ao Crime Organizado) do Ministério Público de Campinas e que tinha Santos -preso por roubo e receptação- como alvo. Na última segunda-feira, o Gaerco de Campinas informou três setores da Polícia Federal, Procuradoria Geral da República, Procuradoria Geral de Justiça e Polícia Civil de São Paulo sobre a ligação. O deputado Rodrigues, integrante da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Sistema Carcerário, viajou quarta-feira para Bruxelas (Bélgica) e não foi encontrado
Segundo uma de suas assessoras parlamentares, Josiane Lanzarin Spengler, a ligação não foi realizada por nenhum dos funcionários do gabinete do parlamentar, mas, sim, por alguém que teve autorização para usar o telefone. O contato telefônico que partiu do gabinete do deputado, pelo que constatou o Gaerco, tinha como objetivo tratar de assuntos relacionados à manifestação que parentes de presos de São Paulo promoveram quarta-feira em Brasília.
Até agora, duas conversas telefônicas que partiram do gabinete foram reveladas. Em uma, a mulher diz ao detento Santos que fala "do gabinete"; na outra, um preso ainda não identificado também fala com a mulher sobre os 36 ônibus que levaram os parentes de detentos para a passeata em Brasília. A manifestação teve o apoio do deputado e tinha como objetivo cobrar o cumprimento da Lei de Execuções Penais e a conseqüente melhora nas condições dos 144 presídios paulistas, quase todos superlotados.
Oficialmente, a passeata foi organizada por uma ONG de Presidente Prudente (565 km de SP), onde Rodrigues tem sua base eleitoral. "O que não é possível, em tese, é admitir que os poderes constituídos se sirvam dos instrumentos que eles possuem para favorecer essa famigerada organização criminosa. Isso precisa ser apurado. Até para saber se há ou não essa relação promíscua", afirmou o promotor Fernando Vianna Neto.
Corregedoria da Câmara
A Câmara dos Deputados deve investigar o caso. "Não vamos deixar isso impune", disse o corregedor da Câmara, Inocêncio Oliveira (PR-PE). Para que o caso seja investigado, é preciso uma autorização da Mesa Diretora. Inocêncio diz que irá conversar com o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), para que isso ocorra o mais rápido possível. "O sistema carcerário já está nessa situação ruim e um deputado vem e faz esse tipo de coisa? Ele tem que se explicar."