O PSDB realiza em Brasília, nos próximos dias 22 e 23, seu 3º Congresso Nacional e a convenção nacional (no segundo dia) que vai eleger a nova Executiva Nacional. Candidato de consenso, o futuro presidente, senador Sérgio Guerra (PE), assume preocupado em renovar, profissionalizar e nacionalizar um partido que enfrenta o dilema de ser oposição no Congresso Nacional e governo em Estados importantes, como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
O senador Tasso Jereissati (CE), presidente desde 2005, deixa o cargo após gestão polêmica, sem conseguir unir o partido. Internamente, Tasso está hoje em posição melhor que há alguns meses, por dizer em entrevista que poderia votar no amigo Ciro Gomes (PSB-CE) para presidente, caso ele se candidatasse novamente.
Criticado, cogitou deixar a presidência. Preferiu preparar a transição - lançando Guerra e promovendo uma série de seminários ao longo de 2007 para discutir o novo programa, a ser apresentado no dia 22.
Com estilo conciliador, Guerra trabalhará na busca da união dos governadores José Serra (São Paulo) e Aécio Neves (Minas) no processo sucessório do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010, para tentar viabilizar o projeto do partido de retorno ao poder.
A tarefa começa agora, na formação da Executiva. Guerra e a atual cúpula do partido buscam uma composição equilibrada, na qual as principais lideranças partidárias estejam representadas.
O secretário-geral será o deputado federal Rodrigo de Castro (MG), ligado a Aécio. O estratégico comando do Instituto Teotônio Vilela - órgão formulador do partido - está sendo disputado pelos deputados federais Luiz Paulo Velloso Lucas (ES) - ligado a Serra- e Paulo Renato (SP) - próximo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A tendência é que o cargo fique com Velloso Lucas.
O líder da bancada na Câmara, Antonio Carlos Pannúnzio (SP), está fazendo consultas entre os deputados sobre os dois nomes. Vencendo Velloso Lucas, a estratégia da cúpula é tornar Paulo Renato um dos vice-presidentes. Também deverão ser vice-presidentes a senadora Marisa Serrano (MS) e o deputado Gustavo Fruet (PR).
Além de Paulo Renato, FHC deverá estar representado na Executiva Nacional por Eduardo Jorge Caldas, provavelmente em um cargo responsável pela organização partidária. Eduardo Jorge ocupa hoje a secretaria-geral no lugar de Eduardo Paes, que trocou o PSDB pelo PMDB em pleno mandato.
Os tucanos envolvidos na troca de comando partidário buscam atrair para a executiva pessoas do meio acadêmico e de outras áreas da sociedade para ocupar secretarias técnicas do PSDB. É uma tentativa de "profissionalizar" o partido - palavra usada por FHC, que tem participado do planejamento da nova Executiva.
Depois de "renovar" a cúpula tucana, a tarefa seguinte de Guerra será a "nacionalização" do partido, ou seja, sua organização e estruturação nas regiões em que é fraco, como alguns Estados do Nordeste e Rio de Janeiro. Em Estados como Alagoas e Rio Grande do Sul, o partido tem o governador, mas se ressente de organização partidária. O PSDB também tem de se fortalecer no Ceará, onde se enfraqueceu apesar da liderança de Tasso. A Bahia também é considerado um Estado crítico para os tucanos.
Ao lado disso, diante do desafio de disputar a sucessão de Lula, a nova executiva do PSDB precisa buscar a "reconciliação com a sociedade", segundo palavras de lideranças tucanas. A meta é a aproximação dos movimentos sociais e das bases partidárias.
Por fim, uma outra tese defendida por Guerra - pela qual deverá lutar na presidência do partido - é o resgate da história do PSDB, com a valorização do governo federal exercido por FHC e dos governadores do partido. Em várias ocasiões, ele reconheceu que o partido deveria ter assumido mais a defesa da gestão FHC durante a campanha de Geraldo Alckmin à Presidência da República - da qual foi coordenador. Um exemplo foi a posição ambígua do partido na discussão das privatizações.
Lideranças tucanas estão convencidas que a união de Serra e Aécio é essencial para o sucesso do projeto 2010. Guerra está empenhado em evitar a realização de primárias no partido para escolha do presidenciável. Lançada por Tasso, as primárias serão testadas nas eleições municipais. A idéia é bombardeada por aliados de Serra.
O próprio Aécio teria manifestado a aliados o conformismo em apoiar Serra em 2010 e aguardar sua vez na "fila", desde que sua posição seja respeitada pelo partido. De acordo com interlocutores do governador mineiro, isso implicaria acordo para a sucessão em 2014, participação no governo, equilíbrio de forças no Congresso (na ocupação das funções) e não aparelhamento da estrutura partidária (sem predomínio de uma força em detrimento de outras).