quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Com PAC, BID pode dobrar crédito ao Brasil


O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) começa a preparar a estratégia a ser seguida pela instituição no Brasil entre 2008-2011. Pela primeira vez, o trabalho será liderado pela equipe do banco no país. Antes o planejamento era feito diretamente por Washington, onde está a sede do BID. O documento servirá de base para o plano operativo do banco nos próximos anos e terá como um dos eixos centrais o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

A visita ao Brasil do presidente do BID, o colombiano Luis Alberto Moreno, marca o início da elaboração da nova estratégia banco-país da instituição. Moreno reúne-se hoje, em Brasília, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em audiência da qual também deve participar a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, coordenadora do PAC. "Queremos ver como é possível fazer uma parceria PAC-BID", disse Moreno ao Valor.

Sua agenda de trabalho em Brasília permitirá também fazer uma revisão das atividades do BID no Brasil, que é o maior cliente do banco como país, representando cerca de 25% da carteira de empréstimos da instituição. Individualmente, o maior cliente do BID é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A carteira do BID no país é de US$ 12 bilhões, dos quais US$ 6 bilhões referem-se a projetos financiados pelo banco e que ainda estão em execução.

Os projetos típicos financiados pelo BID no Brasil incluem a área social, apoio a micro, pequenas e médias empresas, empréstimos a projetos privados de energia e assessorias técnicas e de crédito às três esferas de governo (federação, Estados e municípios). Para 2008, a perspectiva é que as aprovações do BID para o Brasil totalizem US$ 4 bilhões, mais do que o dobro de 2007. No ano passado, as aprovações do BID para o país somaram US$ 1,7 bilhão.

O aumento deve-se à perspectiva de contratações de operações para o setor privado e para municípios e Estados, além das áreas social e de infra-estrutura. O crescimento também pode ser explicado por um "carry over" entre US$ 700 milhões e US$ 800 milhões de projetos existentes que ficaram para serem aprovados este ano. "Em geral, as perspectivas do banco são muito boas e, com o Brasil, particularmente", afirmou Moreno.

Ele disse que a carteira de crédito do banco vem crescendo. Em 2005, o BID aprovou no total US$ 5,2 bilhões em operações de empréstimo, número que saltou para US$ 7 bilhões em 2007 e pode atingir US$ 10 bilhões este ano. O número é uma perspectiva relacionada aos projetos nos quais o banco trabalha para 2008, alguns dos quais podem ficar para 2009.

Moreno vê o futuro do BID mais orientado ao apoio do setor privado e de Estados e municípios. Segundo ele, a demanda dos clientes do BID tem sido muito boa neste início de ano, inclusive como resultado do trabalho que o banco vem fazendo de ter um "maior enfoque país", de estar presente com mais força nos escritórios de representação. O "foco país" é um dos principais objetivos do BID depois da reorganização do banco, implementada a partir de 2007 e chamada internamente de "realinhamento".

Antes, o BID tinha três vice-presidências divididas geograficamente. Cada região era trabalhada de forma autônoma. Agora existem quatro vice-presidências, das quais duas são as mais importantes: a de países, chefiada pelo economista brasileiro Otaviano Canuto, e a de conhecimento, integrada por especialistas setoriais.

José Luis Lupo, representante do BID no Brasil, disse que a estratégia banco-país que começa a ser preparada localmente pela missão brasileira da instituição permitirá um maior diálogo com o governo e prevê consulta à sociedade civil com o objetivo de recolher opiniões. Na Argentina, o BID também está definindo a estratégia a partir da missão do banco no próprio país.

No caso do Brasil, o planejamento estratégico do BID para os próximos quatro anos deverá ser concluído em setembro. O documento não define volume de recursos, mas prioridades a serem perseguidas. É a partir da estratégia que se define o "pipeline", o plano operativo do banco para o país. Além do PAC, também devem servir como guia da estratégia do banco o Plano de Desenvolvimento da Educação (PED) e outros instrumentos de desenvolvimento que o governo tem posto sobre a mesa, afirma Lupo.

O presidente do BID também mostrou-se otimista em relação à capacidade dos países da América Latina, incluindo o Brasil, de fazer frente à crise financeira que marcará 2008 como um ano de "turbulência" nos mercados. Ele reconheceu que se a demanda se ressentir nos Estados Unidos, os países que exportam para aquele mercado serão afetados. "Mais isso ainda não ocorreu", afirmou.

Para Otaviano Canuto, que acompanha Moreno na visita ao Brasil, a "agonia" maior sobre a possibilidade de redução das exportações é de países da região que dependem mais do comércio com os Estados Unidos, caso do México e de países da América Central.

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