A exemplo da experiência com a Venezuela em 2003, o Presidente Lula planeja criar um Grupo de Amigos de Cuba para ajudar Raúl Castro a negociar com os Estados Unidos o fim do bloqueio da maior economia do mundo à ilha caribenha.
Na avaliação de auxiliares de Lula, essa iniciativa só poderá ser deslanchada oficialmente após o resultado em novembro da eleição presidencial americana. A eleição de um democrata facilitaria os entendimentos, crê o governo brasileiro. Barack Obama e Hillary Clinton, os dois pré-candidatos democratas, já demonstraram interesse em negociar com Cuba o fim do embargo criado em 1962.
O grupo de amigos de Cuba teria a participação de países europeus com forte presença econômica na ilha, como Portugal e Espanha, o vizinho México e a Argentina. O Grupo de Amigos da Venezuela nasceu por pressão brasileira em 2003 a fim de mediar as conturbadas relações entre Chávez e a oposição venezuelana e entre Washington e Caracas.
Lula tem sido cuidadoso nas declarações sobre o futuro de Cuba pós-Fidel, que transmitiu o poder a Raúl, seu irmão. Na terça-feira, ao comentar a renúncia de Fidel, Lula afirmou: "Se cada um tomar conta do seu nariz, já está bom demais. O que complica é quando a gente começa a dar palpite nas coisas dos outros. Os cubanos têm maturidade para resolver seus problemas sem a ingerência brasileira ou americana".
Em encontro em janeiro em Havana, o próprio Raúl Castro já pediu a Lula ajuda para melhorar as relações com os Estados Unidos e incrementar os investimentos no país. Pela capacidade de dialogar com os EUA, Venezuela e Cuba, o Brasil seria o país latino-americano mais indicado para liderar um esforço internacional a fim de persuadir os EUA. Raúl, que sempre elogia a ajuda econômica de Hugo Chávez a Cuba, vê o Brasil como um parceiro mais conveniente para o processo de transição.
Trio e moderação
Pela antiga relação de amizade com Cuba, um trio deverá ajudar Lula em conversas de bastidor bem mais do que o Ministério das Relações Exteriores: Marco Aurélio Garcia, vice-presidente do PT e assessor internacional do Palácio do Planalto, Frei Betto, ex-assessor de Lula e amigo de Raúl e Fidel, e José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil que tem bom trânsito com os irmãos Castro e o Partido Comunista de Cuba.