sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Em alta, o risco futuro do PSDB

A afirmação corrente entre os adeptos de Geraldo Alckmin de que o ex-governador paulista é a única esperança de o PSDB não passar em branco nas eleições municipais é uma bobagem. A eleição paulistana pode sim, se converter em um desastre para as pretensões tucanas de recuperar o poder federal, sem que isto esteja ligado à contabilidade de votos ou ao número de prefeitos eleitos. Isto porque o destino tucano em 2008 não será selado em 5 de outubro, mas em 30 de junho, prazo final para as convenções. As circunstâncias fizeram com a que a eleição deste ano seja apenas um lance na disputa pela candidatura presidencial em 2010 e as guerras internas levaram o PSDB à situação esdrúxula de colocar em segundo plano o resultado eleitoral em si.

São Paulo à parte, o PSDB está onde sempre esteve: muito provavelmente, elegerá entre quatro e cinco prefeitos de capital, do mesmo modo como ocorreu em 1992, 1996, 2000 e 2004. O PSDB é favorito para reeleger os prefeitos de Teresina - onde ganhou todas as eleições desde 1992 - e Cuiabá, onde foi o vencedor das últimas três disputas. Tem tudo para ganhar novamente em Curitiba, reelegendo o prefeito Beto Richa. Onde o partido foi mal nas duas últimas eleições, deve continuar passando vexame: é o caso do Rio, Porto Alegre, Fortaleza, João Pessoa e Manaus. O PSDB nunca existiu como competidor em Recife e Maceió, cidades onde mais uma vez não irá apresentar candidato.

Aos que estranham o empenho de Aécio em construir uma alternativa no PSB e impedir a candidatura própria tucana em Belo Horizonte, é bom lembrar que foi exatamente isto o que ocorreu em 2004. A diferença é que na época Aécio tentou, sem sucesso, impedir a vitória do PT na capital mineira. Agora o governador mineiro busca reduzir a oposição a seus projetos políticos no Estado a alguns dissidentes do PMDB e siglas nanicas.

Menos pior perder unido que ganhar dividido

O partido conta com chances de chegar ao segundo turno em São Luís e Natal, com os eternos candidatos João Castelo e Luiz Almir, da mesma forma como há quatro anos. Mostra um recuo real em Florianópolis, onde o prefeito Dário Berger trocou a sigla pelo PMDB. Mas, em Salvador entra no jogo pela primeira vez desde 1992, com o ex-prefeito Antonio Imbassahy.

A grande diferença entre estas eleições e as demais é o risco que a disputa municipal projeta sobre a eleição nacional. "O desafio desta eleição é construir a unidade", comenta, cuidadoso, o presidente nacional da sigla, senador Sérgio Guerra (PE), referindo-se ao segundo round da luta entre Alckmin e Serra. O dirigente diz que tem vindo a São Paulo "quase todas as semanas" para acompanhar o drama, mas afirma que faltam condições à direção nacional para interferir no problema. "A solução para o caso de São Paulo se dará entre os paulistas", afirma.

É um caso diametralmente oposto ao do Rio, onde três pré-candidatos lutam pela candidatura, nenhum deles com desempenho expressivo em pesquisas. "Ali o que existe é disputa, e não divisão. A Executiva Nacional deve participar ativamente. Poderemos até ter prévias", diz o senador.

Sérgio Guerra não se atreve a projetar consequências de uma divisão incontornável, mas antevê-las não é difícil. Unidos Serra e Alckmin, o PSDB pode até perder a eleição em São Paulo para o PT, sem que isto tenha consequências devastadoras para a sigla em 2010. A divisão entre os dois lança a ameaça de fracionamento partidário mesmo que Alckmin ganhe a eleição paulistana, caso isto ocorra sem um apoio decidido, inequívoco, de Serra.

A candidatura de Alckmin contra a vontade de Serra pode lembrar o resultado final do jogo eleitoral tucano em 2006, mas na verdade teria um componente inédito, caso ocorresse este ano, dado o que significaria em termos de enfraquecimento partidário para o serrismo.

Uma boa ilustração é a imagem usada há dois anos pelo prefeito do Rio, Cesar Maia, em seu blog, que está no livro "Os Virtuosos", de Luiz Felipe D"Ávila. O autor narra as articulações de Prudente de Moraes para tentar voltar à Presidência em 1902, bloqueando o caminho do governador Rodrigues Alves para a sucessão do presidente Campos Salles. Todos os citados eram paulistas. Prudente procurou Rodrigues Alves para expor suas pretensões. Ouviu o seguinte: "O senhor será derrotado, pelo peso desta cadeira (a de governador de São Paulo). Quem se senta nela, jamais pode perder uma disputa política em seu próprio Estado". Em 2006, foi Serra que experimentou o peso da cadeira ocupada por Alckmin. Se em 2008 a regra enunciada por Rodrigues Alves for rompida, e Serra se mostrar incapaz de controlar a própria sucessão, fica difícil imaginar que o vôo presidencial de 2010 não venha a estar comprometido.

0 Comentários em “Em alta, o risco futuro do PSDB”

Postar um comentário

 

Consciência Política Copyright © 2011 -- Template created by Consciência Política --