quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Aplausos para José Alencar

A abertura do ano legislativo teve o vice-presidente José Alencar como estrela. Foi aplaudido de pé, quebrou o protocolo, fez críticas indiretas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e foi o único que recebeu atenção total de senadores e deputados que participaram do ato no plenário da Câmara.

Mensagem de Lula, discursos dos presidentes do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), não foram suficientes para prender a atenção da audiência no plenário do Congresso. Nem sequer a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, manteve-se atenta à sequência de sermões.

Alencar, por sua vez, conseguiu prender a atenção de todos. Sentiu-se estimulado a falar depois que foi ovacionado em pé por cerca de um minuto quando Temer o homenageou pela batalha contra o câncer que trava desde 1997. O vice levantou-se, agradeceu os aplausos, socou o ar em tom de vitória, aguardou o fim das palavras do presidente da Câmara e pediu para fazer um comentário.

Por cerca de cinco minutos, disse sentir saudade do legislativo, elogiou o presidente Lula, fez campanha indireta a favor de Dilma e discorreu sobre o câncer. Protocolo quebrado, Alencar lembrou que só se tornou vice graças aos votos dados nas duas eleições a Lula e fez uma referência ao número do PT nas urnas. “O Lula me elegeu com o 13”, disse. “Esse mesmo 13 que me homenageia em Minas me conferindo o título de filiado de honra do partido. Então, vejam que as coisas estão indo bem”, emendou Alencar, arrancando um sorriso da ministra Dilma e novos aplausos do plenário.

Houve espaço até para o vice brincar com as manifestações de solidariedade que recebe por conta da doença. “Sou consciente que todo esse apreço que recebi por toda a parte por onde passo advém da solidariedade pela luta contra uma moléstia pesada, que é o câncer, durante muitos anos e 15 cirurgias”, disse e emendou. “Daí que eu não tenho a ilusão de que isso vai se reverter em votos na eleição. Se eu tivesse esse pensamento, confesso que estaria preparado para receber 100%”.

TCU

O momento de descontração logo virou catarse para o vice. Alencar falou abertamente sobre a doença e a expectativa de morrer. “Eu sei que ninguém tem a ver com o câncer do Zé Alencar, mas todo mundo tem a ver com o câncer do vice-presidente. Eu não tenho medo de morrer. Se Deus quisesse me levar, ele não precisaria do câncer”, afirmou. “E tudo indica que ele não quer me levar”, acrescentou.

Depois, em entrevista, o vice-presidente encontrou tempo até para lançar críticas, ainda que indiretas, à resolução de Lula de liberar o andamento de obras embargadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Alencar disse desconhecer os detalhes da decisão do presidente, mas, em tese, afirmou ser favorável às análises do tribunal por entender ser preciso cuidado com o bem público. O vice evitou afirmar já estar decidido sobre a candidatura ao Senado. “Eu ainda não decidi”, limitou-se a dizer.

ATÉ NA CÂMARA
Uma terceira via para o destino político de Alencar seria a candidatura para a Câmara, numa estratégia do PRB para formar uma bancada forte de deputados federais. Nesse cenário, a hipótese de coligação estaria descartada pelo presidente do PRB em Minas, Rogério Colombini. “Tudo está sendo discutido com o Alencar. Precisamos primeiro definir isso internamente para então começarmos as conversas com PCdoB, PHS, PSB, PMDB e PT.”

Chance de apaziguar

Daniela Almeida

A alternativa que parecia ser apenas um recado do Palácio do Planalto para colocar um fim no racha da base petista em Minas Gerais pela corrida ao governo estadual começa a ganhar corpo. Segundo o presidente do PRB no estado, Rogério Colombini, a candidatura do vice-presidente José Alencar (PRB) ao Palácio da Liberdade está sendo fortemente discutida pelo partido e tem o apoio do governo federal. Em entrevista recente, Alencar admitiu a possibilidade de concorrer ao governo mineiro ao afirmar que só não poderia ser candidato a prefeito ou vereador porque não haveria eleição municipal. Disposição essa que foi confirmada por Colombini. “Nosso compromisso é com o governo Lula. Queremos unir Minas e acabar com a situação que está aí”, afirmou.

Ontem, durante a abertura dos trabalhos no Congresso, o vice revelou que sua entrada na corrida pelo Senado ainda não está definida, como havia dito anteriormente. Apesar de afirmar-se “animado” com a possível candidatura, disse que o tema ainda terá de ser discutido com amigos e o PRB. “Estamos animados, mas por enquanto é cedo. Não somos ainda candidatos. Estamos apenas ouvindo amigos, companheiros, lideranças.”

Impasse

Uma eventual candidatura de Alencar começou a ser aventada como um caminho para decidir a briga entre PT e PMDB. Os partidos não abrem mão da cabeça de chapa em uma coligação refletindo o acordo nacional entre os partidos. O impasse enfraqueceria o palanque da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para a Presidência em um estado que é o segundo colégio eleitoral do Brasil. Atualmente, a vaga para o Palácio da Liberdade é pleiteada pelo ex-prefeito Fernando Pimentel (PT), o ministro do Combate à Fome e Desenvolvimento Social, Patrus Ananias (PT), e o ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB).

No caso de Alencar concorrer ao Palácio da Liberdade, o PRB faria coligação para vice com um dos partidos da base (PT ou PMDB). Mas, ainda segundo Colombini, a candidatura de Alencar ao Senado, primeira possibilidade colocada pelo vice-presidente, não é descartada pela legenda.

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