As exportações diretas e indiretas para o Iraque atingiram US$ 717,8 milhões em 2009. A cifra ainda é pequena em relação aos embarques totais do país, mas o valor é quase o dobro dos US$ 377,02 milhões vendidos ao Iraque no ano anterior, direta e indiretamente, segundo cálculos da Câmara de Comércio Brasil-Iraque. Mesmo no ano passado, quando aconteceu queda generalizada nas exportações, o Brasil manteve a tendência de alta nas vendas ao Iraque desde o início da reconstrução do país árabe.
A reconstrução do país, ainda em guerra, abriu oportunidades para novos produtos aumentarem o peso na pauta de exportação. Os embarques ao Iraque de veículos para preparação de terreno e uso agrícola, como tratores e niveladores, subiram de US$ 2,9 milhões para US$ 23,65 milhões. Nesse critério, a participação dos veículos no total exportado ao país cresceu de 1,54% para 9,45%. Os números levam em conta apenas vendas diretas aos iraquianos. Cerca de 50% das exportações ao Iraque são triangulares e chegam lá por outros países, mecanismo muito usado em função da falta de infraestrutura logística do país.
Com a elevação de participação desses veículos pesados, os fabricantes do setor aumentaram os valores exportados diretamente ao Iraque. A Caterpillar não chegava a vender US$ 1 milhão ao país árabe em 2008. No ano passado, os embarques da empresa rumo ao Iraque subiram para a faixa entre US$ 10 milhões e US$ 50 milhões. A Agco também entrou nessa faixa de valor no ano passado. Em 2008, só duas empresas exportaram acima de US$ 10 milhões ao Iraque. No ano passado, foram oito companhias.
Duílio De La Corte, diretor de vendas e exportação da Agco América do Sul, conta que foi em 2009 que o Iraque surgiu no mapa de exportações de tratores produzidos pela empresa no Brasil. As exportações ao país árabe representaram 4% do total embarcado pelas fábricas da companhia no Brasil. As vendas aos iraquianos corresponderam a 49% do total de produtos fornecidos pela empresa ao Oriente Médio.
O desempenho foi interessante num ano em que os embarques caíram para 27% da produção da empresa no Brasil. Em 2008, a participação das vendas ao exterior havia sido de 37%. O dado chama ainda mais atenção porque em 2008 praticamente não existiram exportações da empresa ao Iraque. Segundo o diretor, o principal item comprado pelos iraquianos em 2009 foram tratores para aplicação agrícola, da marca Massey Ferguson.
O número total de empresas que exportam aos iraquianos também aumentou. No ano passado, foram 117 empresas, enquanto em 2008 eram 87.
A ampliação na quantidade de empresas com vendas destinadas ao Iraque foi propiciada, em parte, por produtos que começaram a entrar de forma modesta na pauta a partir do ano passado.
Entre eles, portas de madeira e caixilhos. A Rohden, fabricante catarinense desses produtos, conta que no ano passado suas vendas ao exterior caíram 40% em relação a 2008. A empresa tentou diversificar mercados, mas a venda concreta para novos destinos ficou por conta do Iraque. A empresa exportou ao país árabe pela primeira vez no ano passado. "As vendas foram pequenas, de US$ 160 mil. Mas foi interessante para a empresa, porque percebemos que há um grande potencial de mercado", diz Rafael Rohden, gerente de exportação da indústria catarinense. As portas e caixilhos destinaram-se a um hotel, conta.
A expectativa da empresa é continuar fornecendo ao novo destino. Rohden espera que até maio a empresa assine outro contrato de exportação aos iraquianos. Desta vez, para fornecer US$ 500 mil em mercadorias para novos empreendimentos.
A evolução das exportações ao Iraque não ajudou apenas produtos novos na pauta. Itens tradicionais, como a carne de frango e seus derivados, que representam cerca de 80% das vendas àquele país, também tiveram crescimento de exportação.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), as exportações diretas de frango e seus derivados ao Iraque aumentaram em valor em 40,4% em 2009, na comparação com o ano anterior. Levando em conta as exportações triangulares, as exportações de frango, segundo dados da Câmara Brasil-Iraque, cresceram 147% no ano.
Em 2008, apenas Perdigão e Doux Frangosul venderam entre US$ 10 milhões e US$ 50 milhões em frango e derivados para os iraquianos. No ano passado, outras quatro empresas do setor entraram nessa faixa.
Uma delas foi a paranaense Diplomata Industrial e Comercial. A empresa informa que em 2009 as vendas ao Iraque superaram as expectativas. Enquanto o Brasil registrou um aumento de 153% no volume exportado para o Iraque, a Diplomata obteve um aumento de mais de 500%. As vendas ao exterior da empresa saltaram de 1,7 mil toneladas, em 2008, para 11,6 mil toneladas no ano passado.
A empresa destaca a melhora do mix embarcado: em 2008, a pauta de produtos exportados ao Iraque havia se concentrado em 82% no frango inteiro. Em 2009, essa concentração ficou em 65%, enquanto o Brasil manteve uma concentração média de 75% neste item. A empresa acredita que em 2010 não haverá elevação tão expressiva quanto a de 2009, porque, com a recuperação dos mercados internacionais, a tendência será uma maior diversificação dos países compradores. A Diplomata acredita, porém, que o Iraque deve manter-se como o quarto principal cliente da empresa no Oriente Médio.
As exportações de frango para o Iraque também tiveram alta expressiva em janeiro. Num mês em que as exportações totais do produto recuaram 15% (para 233,3 mil toneladas), as vendas ao país subiram em volume 34,5% sobre janeiro de 2009, para 9,9 mil toneladas. Em receita, a alta foi ainda mais significativa, de 98,36%, saindo de US$ 7,9 milhões para US$ 15,8 milhões, segundo a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef).
O frango importado para o Iraque é abatido no método Halal, que segue os preceitos muçulmanos. Esta semana, os exportadores brasileiros participam da feira GulFood, em Dubai, onde esperam ampliar o volume de negócios com países muçulmanos, segundo o presidente da Abef, Francisco Turra. Ele afirma que o fato de o Brasil ter tradição nesse tipo de abate garante as vendas para esses mercados.
Para o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Iraque, Jalal Chaya, as exportações brasileiras não devem estacionar nos valores de 2009. "As vendas do país ao Iraque podem dobrar novamente em 2010", estima.
Para Chaya, o país ainda pode expandir as vendas de outros produtos alimentícios, além de equipamentos agrícolas, instrumentos hospitalares, caminhões, tratores e veículos leves. Ele destaca o papel do governo iraquiano como comprador de equipamentos de transporte. Segundo ele, a licitação de novos campos de petróleo, que prometem triplicar em três anos a produção diária do óleo no Iraque, deve ajudar também a elevar a demanda por produtos no mercado internacional, dando oportunidade às exportações brasileiras.Valor Econômico