Com o slogan "O Brasil é nossa bandeira", o PT inicia hoje o seu 4º Congresso Nacional, em Brasília, para sacramentar a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aprovar as diretrizes que vão nortear o programa de governo e definir a política de alianças da campanha. No discurso preparado sob medida para aceitar a "herança bendita", Dilma vai enaltecer as obras do governo Lula e a necessidade de preservar o modelo econômico, como faz a nova versão de sua plataforma, retocada a pedido do Planalto.
A aclamação de Dilma como candidata ocorrerá no sábado, dia marcado para o seu pronunciamento no megaencontro petista. Em tom emocional, a chefe da Casa Civil dirigirá afagos ao PT e pedirá o apoio do partido para enfrentar o desafio histórico, considerado maior do que ela pode enfrentar sozinha, de substituir Lula na chapa. Nos 30 anos do PT, esta será a primeira eleição presidencial disputada pela sigla sem o nome dele na cédula de votação.
Tudo foi planejado para a ministra encarnar o pós-Lula e se declarar portadora da energia do presidente, dando continuidade à sua missão. Ela citará eixos do plano de governo, intitulado A Grande Transformação, como educação, saúde, segurança, grandes cidades e juventude. O documento incorporou trechos inteiros de referências à importância da estabilidade econômica na era Lula e numa eventual gestão Dilma.
Os ajustes no tom do programa - coordenado pelo assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia - ocorreram depois que o texto passou pelo crivo do Planalto, como revelou o Estado na semana passada.
"Eu tive a oportunidade de conversar com o presidente e ele disse que não tinha cabimento o PT fazer um programa de governo diferente do que nós estamos fazendo. O nosso programa tem de partir do que nós fizemos desde 2003 e dizer que dá para avançar mais na distribuição de renda e na industrialização, por exemplo", afirmou o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. "Além disso, a economia é muito sensível. Como poderíamos nos apresentar para nos suceder negando o que nós fizemos? Seria um tiro no pé."
Lula pediu mudanças no texto por avaliar que o esboço não contemplava os "avanços" dos quase oito anos de seu governo em economia, saúde e educação e, além disso, dava margem para interpretações "errôneas" sobre possível caráter estatizante das propostas.
A última versão, que será votada amanhã pelo congresso do PT, prega o fortalecimento das estatais e das políticas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNB e BASA para o setor produtivo.
Nesse tópico, porém, foi acrescentado um trecho esclarecendo que "os bancos devem orientar-se para a produção e o consumo, a custo cada vez menores, de modo a promover o emprego e a renda em um quadro de estabilidade monetária".
CRISE MUNDIAL
Há agora no programa várias referências às medidas tomadas pelo governo para driblar a crise mundial. O novo desenvolvimentismo que embala o plano de Dilma, mesclando incentivos ao investimento público e privado com distribuição de renda, é batizado de Projeto de Desenvolvimento Nacional Democrático Popular, Sustentável e de Longo Prazo para o País.
Foram retiradas as estocadas ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e ao ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer. Embora o nome dos dois não fosse citado explicitamente, a alusão era clara na abordagem sobre a "percepção equivocada de que o mundo vivia um novo renascimento". Na versão anterior constava o adendo "como explicou um ex-presidente" e "como afirmou um chanceler do governo passado".
A tesourada também atingiu a avaliação contida no primeiro texto quando era citado o Bolsa-Família. Dizia o documento que programas de transferência de renda, como o Bolsa-Família, perderiam "a importância que têm" num eventual governo Dilma à medida em que o crescimento acelerado provocasse "mais empregos, renda e bem-estar social". Agora, a plataforma garante que haverá "aprimoramento permanente dos programas de transferência de renda, como o Bolsa-Família".
O novo presidente do PT, José Eduardo Dutra, lembrou que o programa final somente será fechado após receber contribuições dos partidos aliados. No diagnóstico de Dutra, que tomará posse amanhã, as diretrizes em discussão não representam uma guinada à esquerda, embora a avaliação seja feita por nove entre dez petistas. "Não se trata de esquerda nem de direita. Trata-se de uma proposta da realidade, pois a crise econômica jogou por terra a falácia de que o mercado resolve tudo."
DIRETRIZES
O PT realiza de hoje até sábado o 4.º Congresso Nacional do partido, em Brasília
O que é
Instância máxima do PT, o Congresso
Nacional tem poder para alterar o estatuto da legenda e é responsável por dar a linha de atuação
da nova direção partidária no
período de 2010-2012
Onde
Serão três dias de
evento, entre hoje e
sábado, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília. O público total deve
chegar a 3 mil pessoas
Como funciona
Os 1.350 delegados escolhidos por filiados do PT em todo o País votam
contra ou a favor de resoluções
e teses pré-debatidas pelas
instâncias partidárias, sobre
temas que variam do funcionamento do PT à tática traçada para a eleição
O que está em
discussão
Este ano, delegados petistas deverão ratificar documentos sobre diretrizes do programa de governo de Dilma Rousseff, tática eleitoral e política de alianças. Também devem delegar à direção partidária a tarefa de modernizar o estatuto
Estratégia
O Congresso vai aclamar Dilma como pré-candidata do partido ao Palácio do Planalto. A oficialização da candidatura, porém, só ocorrerá na convenção do partido, em junho
Quanto custou
No total, o evento representa uma despesa de R$ 6,5 milhões para os cofres petistas, sendo R$ 2 milhões somente em passagens aéreas