Policiais militares reagiram ontem com spray de gás de pimenta e golpes de cassetete a uma manifestação que reuniu cerca de 200 moradores de vários bairros da região da Várzea do Tietê, onde fica a Favela Pantanal, alagada há 60 dias. O protesto foi diante da prefeitura da capital.
Inconformados com a demora dos manifestantes para se afastarem da entrada do prédio da prefeitura, no Viaduto do Chá, e de não obedecer a uma linha de isolamento imposta pelo esquema de segurança, PMs dispararam gás pimenta nos manifestantes, inclusive em deputados federais e estaduais, além de vereadores de partidos de oposição ao prefeito Gilberto Kassab (DEM) que apoiavam a mobilização, como PT, PSOL e PCdoB.
O vereador José Ferreira dos Santos (PT), o Zelão, foi ferido no braço esquerdo. Ele disse ter levado dois golpes de cassetete quando se defendeu do policial que mirava sua cabeça.
— Duas pauladas me acertaram.
Queriam me acertar na cara, mas segurei com o braço.
Parece que sentem prazer em agredir — disse Zelão, após ser medicado no serviço médico da Câmara de Vereadores e voltar ao ato contra o prefeito, com um curativo feito no braço.
Major diz que não houve “procedimento letal” O vereador José Américo, presidente do diretório municipal do PT, contou que o deputado federal Carlos Zaratini (PT) também foi agredido com spray de pimenta nos olhos.
— Ele se identificou como parlamentar e o policial disse simplesmente “ah é?”, e mandou gás de pimenta no seu rosto — contou o dirigente petista, que também foi à manifestação.
Américo disse que entrará com uma representação na corregedoria da Polícia Militar para apurar a responsabilidade do comandante da operação.
— Não é possível que a nossa segurança seja feita com policiais despreparados como vimos aqui — protestou.
O major da PM Marcos Antonio Rangel Torres, comandante da operação, disse que na repressão ao protesto não houve “procedimento letal”.
— Houve um acirramento grande. Os policiais não tiveram opção se não usar o gás de pimenta — justificou o major, que não quis informar o número de policiais envolvidos na operação.
Logo após o tumulto, com pelo menos dois feridos — o vereador Zelão e um dos manifestantes, identificado como Renato Silveira Martins, que foi levado a um pronto-socorro com falta de ar —, uma comissão de moradores da Várzea do Tietê foi recebida pelo secretário municipal de Relações Institucionais, Antonio Carlos Malufe.
Prefeito responderá a uma lista de reivindicações Na reunião, de cerca de uma hora e meia, que teve a presença de vários parlamentares, entre os quais o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), ficou decidido que Kassab ouvirá a comissão e responderá à lista de reivindicações protocolada ontem.
Eles querem deixar as casas alagadas e serem alojados em outras moradias de forma definitiva, e que as comportas do Tietê sejam acionadas de forma que evite novos alagamentos.
Nos 15 bairros atingidos pelo problema, moram pelo menos 40 mil pessoas.