O presidente Luiz Inácio Lula da Silva articula para que governadores, prefeitos e ex-ocupantes destes postos eleitos pelo PT participem da definição de rumos no partido. "O desejo do presidente é que nossa experiência executiva, acostumados que somos com a responsabilidade de ser governo, agregue valor ao trabalho dos companheiros que estão na direção partidária", disse o ex-governador do Acre, Jorge Vianna, que ouviu um apelo do presidente neste teor há duas semanas, em Brasília.
Desta maneira, a burocracia partidária dividiria o comando das ações do partido com os detentores de mandato. O objetivo do presidente seria tornar o PT mais coeso nos dois últimos anos de sua gestão. Além de Viana, Lula quer mais atuação partidária de nomes como o governador da Bahia, Jaques Wagner e o governador de Sergipe, Marcelo Déda.
Durante reunião do Diretório Nacional do patido, nesse final de semana, em Brasília, ficou mantida a eleição direta entre os militantes para as direções nacional, estaduais e municipais do PT ( PED) no ano que vem. Mas todas as intervenções deixaram claro que não se deve contaminar a disputa pela direção nacional e pelos diretórios estaduais com a construção do candidato do PT à sucessão de Lula.
Na bolsa de apostas políticas, cresce com força o nome do chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, para suceder o atual presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), no comando da legenda. Mas o auxiliar do presidente começa a sofrer contestações. Apesar de não ter participado da decisão em torno da manutenção do PED em novembro do próximo ano, a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), defende uma prorrogação no mandato dos atuais dirigentes petistas.
Ideli disse não acreditar que Gilberto Carvalho seja o nome ideal para presidir o PT no biênio 2009-2010. "Por razões familiares, eu conheço o Gilberto desde antes de ele iniciar sua militância política no PT. Pela sua origem seminarista, ele é uma figura doce, acolhedora e conciliadora. Com os desafios que temos pela frente, o PT precisa de alguém mais ousado, que procure interlocutores e monte uma ofensiva",afirmou a senadora.
Para Ideli, o PED é sempre algo desgastante e a prioridade do PT nesse momento deve ser concentrar energias na construção da candidatura presidencial para 2010. "Mesmo que cheguemos a um nome consensual, o PED envolve reuniões nos estados para ser preparado. Não podemos perder tanto tempo nesse momento", disse Ideli.
Mas petistas com influência na direção do PT, no entanto, discordam da senadora e acham que Gilberto Carvalho pode ser o nome ideal para unir hoje "duas figuras jurídicas distintas: o lulismo e o petismo". Na visão de um petista do grupo Construindo um Novo Brasil (Articulação) , Lula e o PT são instâncias políticas que alternam momentos de aproximação com outros momento de distanciamento completo.
"Na época do mandato tampão de Marco Aurélio Garcia na presidência do PT, quando o escândalo dos aloprados imobilizou integrantes da cúpula, houve uma tentativa de atrair o Lula para o PT, mas sendo o PT protagonista", recorda, referindo-se ao assessor de Lula em Relações Exteriores.
Marco Aurélio comandou a aliança entre PT e PMDB na Câmara, à revelia do desejo de Lula, que via com bons olhos a recondução de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) para a presidência da Câmara. "O que precisamos nesse momento? Alguém que traga Lula para o PT sem ferir a autonomia partidária e, mais importante, sem provocar constrangimentos políticos desnecessários ao presidente", disse o integrante do Diretório Nacional.
Outro ponto que inquieta alguns petistas é a necessidade de uma renovação nos quadros eleitorais da sigla. Nas últimas seis disputas à prefeitura de São Paulo, o PT lançou três vezes Marta Suplicy, duas Luíza Erundina e uma Eduardo Suplicy. Para o governo estadual, os nomes também variaram pouco: Lula, Plínio de Arruda Sampaio, José Dirceu, Marta Suplicy, José Genoíno e Aloizio Mercadante. "Precisamos de caras novas", resumiu um petista.
O deputado Cândido Vacarezza (SP) não vê outro nome com melhores condições para aglutinar as diversas tendências políticas do PT nesse momento do que Gilberto Carvalho.
"Ele une três elementos essenciais: tem experiência administrativa, política e goza do respeito e da proximidade com o presidente Lula. Isso é fundamental nesse momento em que o lema deve ser a repactuação", declarou Vacarezza. Ligado à ex-prefeita e ex-ministra do Turismo, Marta Suplicy. Em outubro, Carvalho licenciou-se por dez dias da presidência para participar da coordenação eleitoral da campanha de Marta em São Paulo, entre o primeiro e o segundo turno da eleição.