A bancada do PSDB vai se reunir esta semana com o objetivo de começar a discutir a eleição para a Presidência do Senado. Começar é a palavra exata, porque os tucanos não têm nenhuma pressa de chegar a uma conclusão. “Quem está preocupado com o calendário é o governo”, provoca o líder Arthur Virgílio (AM). “Para nós, quanto mais tempo esse processo levar, melhor”. A princípio sem chances de tomar o comando no Senado, a oposição vê na disputa pela sucessão de Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) a chance de causar estresse na base de apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “O difícil é saber qual a melhor maldade”, entrega um senador tucano.
A princípio, a tendência da bancada é apoiar um nome do PMDB. Seria uma forma de barrar a candidatura já lançada de Tião Viana (PT-AC), considerado ligado demais ao governo. Com um só movimento, os tucanos apostariam na divisão entre petistas e peemedebistas e ainda dariam um passo em direção ao partido que se tornou o aliado mais disputado para as eleições de 2010.
Mas parte dos tucanos discorda, com uma análise que também mira em 2010. É que o PMDB se divide em dois grupos. No Senado estão os aliados mais antigos de Lula, como José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL). A bancada da Câmara também apóia o governo, mas sua aliança é mais recente e menos sólida. No primeiro mandato de Lula, o comando da bancada lhe fez oposição. O grupo só aderiu depois da reeleição.
O deputado Michel Temer (SP), presidente nacional do partido, é candidato à Presidência da Câmara. Temer é um neolulista. Ele apoiou a candidatura de José Serra em 2002 e mantém ótimas relações com o PSDB. No Senado, o candidato articulado nos bastidores é José Sarney, a quem a oposição resiste.
Parte dos tucanos acredita que Sarney seria um nome preferível ao de Tião. Mas outra ala avalia que uma derrota do PMDB do Senado seria melhor para garantir que o comando do partido continue com a ala de Temer, mais aberta ao diálogo com os tucanos.
Aliados
A bancada não decidirá sozinha. O assunto vai passar pela direção nacional do partido e pelos dois presidenciáveis do PSDB: os governadores José Serra (São Paulo) e Aécio Neves (Minas Gerais). Em boa parte, isso explica a falta de pressa do PSDB. O partido quer ver como se comporta a relação de forças antes de se posicionar.
Segundo Arthur Virgílio, a idéia é tentar repetir na eleição do Senado o bloco formado com o DEM e senadores dissidentes de partidos governistas, como Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Expedito Filho (PR-RO), Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) e outros. Nos melhores momentos, este bloco chega a 38 senadores. Ainda abaixo dos 81 necessários para vencer a eleição interna, mas com capacidade de influenciar decisivamente. Mas antes, como dizem os próprios tucanos, é preciso escolher a maldade. Ou melhor, a estratégia.
Um jogo eleitoral e de desavenças pessoais
A disputa pela Presidência do Senado é, ao mesmo tempo, nacional e paroquial. Entram em consideração estratégias políticas para as eleições de 2010 e desavenças pessoais. O campo de batalha vai do salão do cafezinho ao Palácio do Planalto. E o pior é que as motivações se cruzam de tal forma que fica impossível separá-las.
O senador peemedebista Renan Calheiros (AL) articula o lançamento de um nome do PMDB para barrar a candidatura de Tião Viana (PT-AC). Ele não esqueceu que o petista não lhe deu apoio quando correu o risco de cassação. Vice-presidente, Tião assumiu quando Renan teve de se licenciar do comando do Senado e deixou correr livremente o processo contra o colega.
Mas ao mesmo tempo, Renan tem razões políticas. O PMDB é um partido dividido entre as duas bancadas no Congresso. Os deputados podem se fortalecer se elegerem Michel Temer (SP) para a Presidência da Câmara. Os senadores não querem ficar atrás.
A oposição também fica em dúvida. É melhor fortalecer o PMDB contra o PT ou torpedear os senadores lulistas do PMDB? Se for para apoiar um nome peemedebista, como convencer o tucano Arthur Virgílio a esquecer todos os ataques que já fez a José Sarney?
Para complicar ainda mais, a votação é secreta. Ou seja, depois de fechar os acordos entre as bancadas é preciso administrar as dissidências e traições. Por tudo isso, os candidatos ainda vão passar três meses muito tensos antes de uma definição.