Tem dedão do Gilmar Mendes, ou tem as digitais de Daniel Dantas?
A blitz no apartamento 2508 do Shelton Inn Hotel, endereço do delegado Protógenes Queiroz no centro de São Paulo, foi autorizada horas antes da operação, ocorrida na madrugada de quarta-feira. A ordem partiu do juiz Ali Mazloum, da 7ª Vara Criminal Federal.
"Defiro, tratando-se de mero aditamento de endereço no qual a gerência deverá indicar apartamento ocupado pelo investigado", decretou o magistrado, de punho próprio, no lado direito da página com o pedido de busca feito pelo delegado Amaro Vieira Ferreira, da PF.
Acima da assinatura, Mazloum lançou a data de sua decisão: 5 de novembro.
Protógenes, mentor da Satiagraha - investigação sobre suposto esquema de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e fraudes financeiras envolvendo o banqueiro Daniel Dantas -, havia chegado ao hotel, na Avenida Cásper Líbero, 115, às 2 horas (ele fez palestra sobre corrupção no Brasil para estudantes da PUC-SP e, após o jantar, dirigiu-se ao Shelton). Pouco depois das 5 horas, os federais, comandados pelo delegado Fernando Duran Poch, bateram à porta do 2508, no 25º andar.
Acompanhavam Duran uma escrivã e dois agentes. Protógenes não resistiu à inspeção. Seus colegas agiram com parcimônia, segundo o relato do próprio Protógenes. "Pareciam muito constrangidos", disse o ex-presidente do inquérito Satiagraha, que pediu à equipe que fizesse cópia dos arquivos de seu computador pessoal, em vez de apreenderem o equipamento. Mas os federais não estavam munidos de instrumentos adequados para o espelhamento do conteúdo do computador.
A autorização para a inspeção no apartamento de Protógenes foi dada sem concordância do Ministério Público Federal. O procurador da República Roberto Diana, que cuida do controle externo das atividades da PF, manifestou-se contra a medida. Está sob responsabilidade de Diana investigação sobre denúncia do delegado, que, em julho, após ser afastado da Satiagraha, denunciou boicote de superiores à operação.
DESNECESSÁRIAS
O procurador repudiou as diligências requeridas pelo delegado Amaro Ferreira por considerá-las desnecessárias. Logo depois, entrou em férias.
O inquérito da PF, oficialmente, foi instaurado para investigar vazamento da Satiagraha. Mas Protógenes acredita que o pano de fundo da ação que teve ele como alvo é uma retaliação - o delegado está marginalizado na instituição desde que se tornou protagonista de uma crise interna na cúpula da PF.
Protógenes está convencido de que as buscas são "uma trama" de Daniel Dantas, a quem confere poderes e influências extraordinárias.
Ontem de manhã, Protógenes deixou o hotel. "Estou exausto", ele disse, ainda chocado com o que chamou de "violência", referindo-se às buscas que se estenderam a outros 2 endereços seus, em Brasília e no Rio.
Muitos policiais, até de outras instituições, procuraram o delegado e a ele emprestaram solidariedade. Sérgio Roque, presidente da Associação dos Delegados da Polícia Civil, declarou: "Acho lamentável a busca. A gente não conhece os autos, mas acho que está havendo uma grave inversão: o investigador passou a ser investigado. Isso fere as prerrogativas e cria insegurança para o delegado."