Irregularidades nas gestões e envolvimentos com esquemas de corrupção mudaram a administração da cidade mineira de Januária, distante 600 quilômetros de Belo Horizonte, por seis vezes desde 2004. Faltando dois meses para que o prefeito eleito assuma o cargo, os moradores do município ainda podem se deparar com mais um administrador até o fim do ano. Isso porque o atual prefeito, Silvio Aguiar (PMDB), corre o risco de ser cassado ainda este mês, devido a um processo que investiga denúncia de compra de combustíveis sem licitação.
Os vereadores marcaram para o próximo dia 25 a reunião que vai decidir o futuro do peemedebista. Na última sexta-feira, Aguiar anunciou que vai entrar com recurso na Justiça para impedir a votação do relatório sobre seu caso na comissão da Câmara que investiga a denúncia.
Se o atual prefeito for afastado, os vereadores terão de fazer uma outra votação para escolher quem vai administrar o município até primeiro de janeiro de 2009, quando tomará posse o prefeito eleito, Maurílio Arruda (PTC). O problema é que o pouco tempo em que o substituto deverá permanecer no cargo não é um atrativo para nenhum dos sucessores naturais. O presidente da Câmara, Antônio Carneiro da Cunha (PSDB), por exemplo, já avisou que não pretende assumir o Executivo, tendo em vista os problemas administrativos do município. “Na prefeitura, está tudo enrolado. Não estou querendo entrar nisso”, afirmou.
As mudanças na administração de Januária começaram no segundo semestre de 2004, quando o então prefeito Josefino Lopes Viana (PP) foi afastado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) devido a irregularidades em sua eleição. Assumiu João Ferreira Lima (PSDB), segundo colocado no pleito de 2000.
Logo depois de assumir, Lima enfrentou um processo aberto pelo vereador Manoel Ferreira Neto (PR), que estava na Presidência da Câmara de Januária, alegando que ele não poderia continuar no cargo porque recebera menos votos do que a soma dos brancos e nulos. Depois de 34 dias na chefia do Executivo , Lima foi afastado e substituído pelo próprio Manoel Ferreira Neto.
O vereador não esquentou a cadeira. Foi retirado do comando do município por conta de denúncia de fraude em licitação e compra de material para um hospital.
Assumiu a prefeitura o vereador Waldir Pimenta Ramos (PSDB), que cumpriu o restante do mandato. Em 1º de janeiro de 2005, tomou posse novamente João Ferreira Lima, na condição de eleito em outubro de 2004. Lima foi retirado do cargo pela Justiça em 20 de abril de 2007, após denúncia de envolvimento com a Máfia dos Sanguessugas. Assumiu Silvio Aguiar (PMDB), que era seu vice.
Terra da cachaça
Januária se localiza na região do Médio São Francisco e possui população de pouco menos de 100 mil habitantes. A cidade é conhecida como a capital mundial da cachaça de qualidade. A umidade natural do solo e o clima do distrito de Brejo do Amparo são algumas das explicações para a boa fama da bebida, que é exportada para países europeus e asiáticos.
Compra de combustível
A denúncia que recai sobre o atual prefeito Silvio Aguiar trata da compra sem licitação de cerca de R$ 290 mil em combustíveis e lubrificantes em um posto de gasolina da cidade, entre janeiro e abril deste ano. Vereadores ligados ao prefeito apresentaram um parecer pedindo o arquivamento da denúncia. No entanto, o requerimento foi rejeitado pelo plenário da Câmara durante sessão realizada no último dia 31.
Em entrevista na última sexta-feira, Aguiar negou irregularidades na licitação para compra de combustíveis e alegou que está sendo vítima de perseguição política por parte dos seus adversários. O prefeito sustenta ainda que a comissão de licitação da prefeitura organizou uma concorrência para a compra de combustíveis, mas a licitação não foi concluída porque os participantes do processo foram presos, acusados de combinar os preços.